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ENERGIA
Reservatórios encheram, mas ONS paga mais pela geração de térmicas
Usinas de São Paulo desperdiçam água e produzem menos
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Usinas hidrelétricas de São Paulo com os reservatórios quase
cheios estão operando abaixo da
capacidade. Ao mesmo tempo,
pelo menos nove termelétricas
geram energia para abastecer a região Sudeste a custos maiores do
que os das hidrelétricas.
As usinas das bacias dos rios Paranapanema, Paraná e Tietê vertem água há pelo menos uma semana. Ou seja, parte da água armazenada em seus reservatórios é
liberada sem passar pelas turbinas e, portanto, não gera energia.
Para Ildo Sauer, professor do
Instituto de Eletrotécnica da USP,
ao permitir a geração de energia
térmica ao mesmo tempo em que
as hidrelétricas vertem água, o
ONS (Operador Nacional do Sistema) está gerando desperdícios e
privilegiando as térmicas. "Desperdiçar água e queimar combustível caro nas térmicas demonstra
falta de capacidade de coordenação", afirma o professor Sauer.
A geração de energia elétrica no
Brasil é majoritariamente hidrelétrica. Como as hidrelétricas ficam
distantes dos centros consumidores, o sistema é interligado com linhas de transmissão.
O ONS define a quantidade de
energia que é gerada individualmente pelas usina e como ela será
transferida para o resto do sistema. Na avaliação de Sauer, o operador poderia diminuir a geração
térmica e usar a água que hoje
verte dos reservatórios de Jurumirim, Chavantes, Capivara, Porto
Primavera, Jupiá, Barra Bonita e
Promissão.
O presidente do ONS, Mário
Santos, nega que o operador esteja cometendo erros na administração do sistema elétrico ou privilegiando algum grupo de empresas. Ele afirma, por exemplo,
que o grande número de geradoras, estatais e privadas, envolvidas
na operação do sistema elétrico
brasileiro impede que o interesse
de algum grupo prevaleça.
Segundo o ONS, verte água nas
usinas por dois motivos: o grande
volume de chuvas na região e as
restrições técnicas da malha de
transmissão. De acordo com os
técnicos da empresa, não seria
possível operar todas as usinas a
plena capacidade sem desequilibrar o sistema elétrico.
Em média, o nível dos reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste está em 47%. Nas usinas
dos rios Paranapanema, Tietê e
Paraná, o nível das represas varia
de 85% a 90% da capacidade total.
O ONS não permite que os níveis
subam mais, diz Mário Santos,
porque a empresa precisa ter uma
margem de manobra para enfrentar cheias e evitar enchentes.
Para evitar que os reservatórios
cheguem a 100% da capacidade,
as geradoras vertem água, sem
usá-la para gerar energia elétrica.
Sauer, no entanto, rebate o argumento do ONS. Ele diz que durante a maior parte do dia as linhas de transmissão do sistema
elétrico ficam ociosas.
"O sistema opera a plena capacidade apenas no horário de pico.
Pela manhã e de madrugada, isso
não acontece e, nesses horários,
seria possível operar o sistema
elétrico de forma diferente. Há
condições técnicas para isso."
O professor da USP chega a sugerir que o governo adote um sistema para monitorar e acompanhar as atividades do ONS, que
seriam auditadas por uma empresa independente. Santos diz que
toda as medidas do ONS são
"transparentes e auditáveis".
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