São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2002

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ENERGIA

Reservatórios encheram, mas ONS paga mais pela geração de térmicas

Usinas de São Paulo desperdiçam água e produzem menos

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Usinas hidrelétricas de São Paulo com os reservatórios quase cheios estão operando abaixo da capacidade. Ao mesmo tempo, pelo menos nove termelétricas geram energia para abastecer a região Sudeste a custos maiores do que os das hidrelétricas.
As usinas das bacias dos rios Paranapanema, Paraná e Tietê vertem água há pelo menos uma semana. Ou seja, parte da água armazenada em seus reservatórios é liberada sem passar pelas turbinas e, portanto, não gera energia.
Para Ildo Sauer, professor do Instituto de Eletrotécnica da USP, ao permitir a geração de energia térmica ao mesmo tempo em que as hidrelétricas vertem água, o ONS (Operador Nacional do Sistema) está gerando desperdícios e privilegiando as térmicas. "Desperdiçar água e queimar combustível caro nas térmicas demonstra falta de capacidade de coordenação", afirma o professor Sauer.
A geração de energia elétrica no Brasil é majoritariamente hidrelétrica. Como as hidrelétricas ficam distantes dos centros consumidores, o sistema é interligado com linhas de transmissão.
O ONS define a quantidade de energia que é gerada individualmente pelas usina e como ela será transferida para o resto do sistema. Na avaliação de Sauer, o operador poderia diminuir a geração térmica e usar a água que hoje verte dos reservatórios de Jurumirim, Chavantes, Capivara, Porto Primavera, Jupiá, Barra Bonita e Promissão.
O presidente do ONS, Mário Santos, nega que o operador esteja cometendo erros na administração do sistema elétrico ou privilegiando algum grupo de empresas. Ele afirma, por exemplo, que o grande número de geradoras, estatais e privadas, envolvidas na operação do sistema elétrico brasileiro impede que o interesse de algum grupo prevaleça.
Segundo o ONS, verte água nas usinas por dois motivos: o grande volume de chuvas na região e as restrições técnicas da malha de transmissão. De acordo com os técnicos da empresa, não seria possível operar todas as usinas a plena capacidade sem desequilibrar o sistema elétrico.
Em média, o nível dos reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste está em 47%. Nas usinas dos rios Paranapanema, Tietê e Paraná, o nível das represas varia de 85% a 90% da capacidade total. O ONS não permite que os níveis subam mais, diz Mário Santos, porque a empresa precisa ter uma margem de manobra para enfrentar cheias e evitar enchentes.
Para evitar que os reservatórios cheguem a 100% da capacidade, as geradoras vertem água, sem usá-la para gerar energia elétrica.
Sauer, no entanto, rebate o argumento do ONS. Ele diz que durante a maior parte do dia as linhas de transmissão do sistema elétrico ficam ociosas.
"O sistema opera a plena capacidade apenas no horário de pico. Pela manhã e de madrugada, isso não acontece e, nesses horários, seria possível operar o sistema elétrico de forma diferente. Há condições técnicas para isso."
O professor da USP chega a sugerir que o governo adote um sistema para monitorar e acompanhar as atividades do ONS, que seriam auditadas por uma empresa independente. Santos diz que toda as medidas do ONS são "transparentes e auditáveis".



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