|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Empresas de auditoria adotam mudanças para reduzir desgaste na imagem
JONATHAN D. GLATER
DO "THE NEW YORK TIMES"
Quatro das cinco grandes
empresas de auditoria anunciaram na última semana que
abandonariam práticas que causaram críticas à Arthur Andersen,
que auditava as contas da Enron.
A PricewaterhouseCoopers e a
Andersen dizem que deixarão de
prestar determinados serviços de
consultoria tecnológica a clientes
de cuja auditoria estiverem encarregadas. Deixarão ainda de prestar auditoria interna e externa para uma mesma empresa. A Ernst
& Young e a KPMG apoiaram as
medidas, que têm por objetivo
evitar conflitos de interesse.
A quinta das grandes empresas
mundiais de auditoria é a Deloitte
& Touche, que afirmou que pretende manter os seus serviços de
auditoria e consultoria funcionando sob um mesmo teto, uma
posição que a Andersen apoiava
até pouco tempo.
A corrida pela maior parte das
grandes empresas de auditoria
para polir suas imagens demonstra até que ponto elas estão preocupadas com a possibilidade de
que novas regulamentações sejam adotadas. Agindo agora, os
executivos esperam preservar
seus negócios.
Ajuste
"Eles estão sob ataque", disse
Arthur Levitt, ex-presidente da
Securities and Exchange Commission (SEC, agência federal de
fiscalização e regulamentação dos
mercados de valores mobiliários).
"Isso sugere que as empresas entenderam o recado."
Os executivos das empresas de
auditoria estão tentando evitar regulamentações que encaram como duras demais, disse Arthur
W. Bowman, editor do "Bowman's Accounting Report".
As três empresas (PricewaterhouseCoopers, Deloitte e Andersen) que continuam a oferecer
serviços extensos de consultoria,
dentre as cinco grandes, não são
fortes no mercado de consultoria.
Ainda assim, os serviços de consultoria continuam a ser fontes
significativas de receitas para elas,
e a idéia de separar a consultoria
da auditoria é simbólica, porque
foi defendida por Levitt quando
ele dirigia a SEC.
A PricewaterhouseCoopers
avançou mais, ao declarar que,
além de abandonar os serviços de
auditoria interna e consultoria
tecnológica para empresas que a
empregam como auditoria externa, revelaria mais informações
sobre suas atividades, remuneração e procedimentos de auditoria
aos investidores e clientes, mesmo que se trate de uma empresa
de capital fechado.
Joseph Berardino, diretor-executivo da Andersen, disse que a
empresa está envolvida em uma
abrangente revisão de suas normas e serviços. Patrick Dorton,
porta-voz da Andersen, disse que
"em breve anunciaremos um pacote de medidas que mudarão
substancialmente a maneira pela
qual a Andersen opera".
A Accenture, no passado conhecida como Andersen Consulting, se separou da Andersen em
2000 por decisão de um árbitro
que decidiu a antiga disputa entre
as duas empresas. Desde então a
Andersen vem trabalhando para
reforçar sua unidade própria de
consultoria. A empresa recebeu
US$ 27 milhões por serviços de
consultoria e US$ 25 milhões por
serviços de auditoria da Enron em
2000. No geral, pouco mais da
metade da receita de US$ 9,3 bilhões nos 12 meses até 31 de agosto passado vieram da consultoria.
Interesses em conflito
As mais recentes medidas têm
por objetivo tratar dos conflitos
de interesse percebidos nas empresas de auditoria, afirmou Samuel A. DiPiazza Jr., diretor-executivo da PricewaterhouseCoopers. "É uma questão de percepção", disse. Embora fornecer serviços de consultoria não seja necessariamente um problema para
as auditorias, prosseguiu, "essa
percepção precisa ser refutada".
"Precisamos de um modelo
contábil que reconheça apropriadamente o valor dos ativos intangíveis, que compõem parte cada
vez maior do valor das empresas
modernas", disse Butler. Para ele,
as informações financeiras corporativas deveriam ser realizadas
com frequência maior do que
uma vez por trimestre. Mas Butler
reconheceu que as medidas não
necessariamente teriam impedido um desastre como o da Enron,
que escondeu a carga de dívidas
que a empresa carregava.
Para Bowman, no entanto, as
medidas propostas pelas quatro
grandes empresas não teriam impedido o colapso da Enron. "O escopo dos serviços é o foco da atenção de todos, mas não o verdadeiro problema", afirmou. "São os
analistas pressionando os resultados trimestrais, são as empresas
que pagando trabalhadores com
ações, todas essas coisas fazem
com que as regras de contabilidade sejam forçadas agressivamente, a fim de demonstrar receita
maior e lucros mais altos."
"Tragédia nacional"
A Andersen está sendo esquadrinhada atentamente depois que
surgiram informações, no começo do ano, de que seus funcionários teriam destruídos documentos relacionados à Enron. A empresa reconheceu que está perdendo negócios devido à publicidade adversa e terá dificuldades
em obter novos clientes.
"É uma tragédia nacional que
aquilo que aconteceu com a
Enron coloque de joelhos uma
grande empresa como a Arthur
Andersen", disse Levitt. "Eu espero que ela não quebre."
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Escândalo: Colapso da Enron atinge jornalistas nos EUA Próximo Texto: Mercados e Serviços: CCR reforça críticas contra Novo Mercado Índice
|