São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Empresas de auditoria adotam mudanças para reduzir desgaste na imagem

JONATHAN D. GLATER
DO "THE NEW YORK TIMES"

Quatro das cinco grandes empresas de auditoria anunciaram na última semana que abandonariam práticas que causaram críticas à Arthur Andersen, que auditava as contas da Enron.
A PricewaterhouseCoopers e a Andersen dizem que deixarão de prestar determinados serviços de consultoria tecnológica a clientes de cuja auditoria estiverem encarregadas. Deixarão ainda de prestar auditoria interna e externa para uma mesma empresa. A Ernst & Young e a KPMG apoiaram as medidas, que têm por objetivo evitar conflitos de interesse.
A quinta das grandes empresas mundiais de auditoria é a Deloitte & Touche, que afirmou que pretende manter os seus serviços de auditoria e consultoria funcionando sob um mesmo teto, uma posição que a Andersen apoiava até pouco tempo.
A corrida pela maior parte das grandes empresas de auditoria para polir suas imagens demonstra até que ponto elas estão preocupadas com a possibilidade de que novas regulamentações sejam adotadas. Agindo agora, os executivos esperam preservar seus negócios.

Ajuste
"Eles estão sob ataque", disse Arthur Levitt, ex-presidente da Securities and Exchange Commission (SEC, agência federal de fiscalização e regulamentação dos mercados de valores mobiliários). "Isso sugere que as empresas entenderam o recado."
Os executivos das empresas de auditoria estão tentando evitar regulamentações que encaram como duras demais, disse Arthur W. Bowman, editor do "Bowman's Accounting Report".
As três empresas (PricewaterhouseCoopers, Deloitte e Andersen) que continuam a oferecer serviços extensos de consultoria, dentre as cinco grandes, não são fortes no mercado de consultoria. Ainda assim, os serviços de consultoria continuam a ser fontes significativas de receitas para elas, e a idéia de separar a consultoria da auditoria é simbólica, porque foi defendida por Levitt quando ele dirigia a SEC.
A PricewaterhouseCoopers avançou mais, ao declarar que, além de abandonar os serviços de auditoria interna e consultoria tecnológica para empresas que a empregam como auditoria externa, revelaria mais informações sobre suas atividades, remuneração e procedimentos de auditoria aos investidores e clientes, mesmo que se trate de uma empresa de capital fechado.
Joseph Berardino, diretor-executivo da Andersen, disse que a empresa está envolvida em uma abrangente revisão de suas normas e serviços. Patrick Dorton, porta-voz da Andersen, disse que "em breve anunciaremos um pacote de medidas que mudarão substancialmente a maneira pela qual a Andersen opera".
A Accenture, no passado conhecida como Andersen Consulting, se separou da Andersen em 2000 por decisão de um árbitro que decidiu a antiga disputa entre as duas empresas. Desde então a Andersen vem trabalhando para reforçar sua unidade própria de consultoria. A empresa recebeu US$ 27 milhões por serviços de consultoria e US$ 25 milhões por serviços de auditoria da Enron em 2000. No geral, pouco mais da metade da receita de US$ 9,3 bilhões nos 12 meses até 31 de agosto passado vieram da consultoria.

Interesses em conflito
As mais recentes medidas têm por objetivo tratar dos conflitos de interesse percebidos nas empresas de auditoria, afirmou Samuel A. DiPiazza Jr., diretor-executivo da PricewaterhouseCoopers. "É uma questão de percepção", disse. Embora fornecer serviços de consultoria não seja necessariamente um problema para as auditorias, prosseguiu, "essa percepção precisa ser refutada".
"Precisamos de um modelo contábil que reconheça apropriadamente o valor dos ativos intangíveis, que compõem parte cada vez maior do valor das empresas modernas", disse Butler. Para ele, as informações financeiras corporativas deveriam ser realizadas com frequência maior do que uma vez por trimestre. Mas Butler reconheceu que as medidas não necessariamente teriam impedido um desastre como o da Enron, que escondeu a carga de dívidas que a empresa carregava.
Para Bowman, no entanto, as medidas propostas pelas quatro grandes empresas não teriam impedido o colapso da Enron. "O escopo dos serviços é o foco da atenção de todos, mas não o verdadeiro problema", afirmou. "São os analistas pressionando os resultados trimestrais, são as empresas que pagando trabalhadores com ações, todas essas coisas fazem com que as regras de contabilidade sejam forçadas agressivamente, a fim de demonstrar receita maior e lucros mais altos."

"Tragédia nacional"
A Andersen está sendo esquadrinhada atentamente depois que surgiram informações, no começo do ano, de que seus funcionários teriam destruídos documentos relacionados à Enron. A empresa reconheceu que está perdendo negócios devido à publicidade adversa e terá dificuldades em obter novos clientes.
"É uma tragédia nacional que aquilo que aconteceu com a Enron coloque de joelhos uma grande empresa como a Arthur Andersen", disse Levitt. "Eu espero que ela não quebre."


Tradução de Paulo Migliacci



Texto Anterior: Escândalo: Colapso da Enron atinge jornalistas nos EUA
Próximo Texto: Mercados e Serviços: CCR reforça críticas contra Novo Mercado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.