São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2002

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MERCADOS E SERVIÇOS

Primeira empresa a participar de nova seção da Bolsa paulista aumenta incertezas de analistas

CCR reforça críticas contra Novo Mercado

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bovespa inaugurou seu Novo Mercado na sexta passada, um ano e um mês após o lançamento da idéia. A CCR (Companhia de Concessões Rodoviárias) estreou a nova seção da Bolsa paulista, destinada a listar empresas com práticas diferenciadas de boa governança corporativa.
Para participar do Novo Mercado, as companhias têm de cumprir exigências que as tornarão mais transparentes, em especial para os acionistas minoritários.
Entre as características dessa modalidade está o "tag along", que, em caso de venda de controle, garante a todos os acionistas as mesmas condições obtidas pelos controladores. Além disso, as empresas terão de adaptar o balanço aos padrões internacionais.
O Novo Mercado não é bem visto por analistas. Muitos deles preferem nem falar sobre o assunto. E a primeira empresa a participar dele deu munição aos críticos.
A CCR é detentora de contratos de concessão de cinco importantes rodovias do país: AutoBan (SP), Nova Dutra (SP-RJ), Rodonorte (PR), Ponte Rio-Niterói e Via Lagos (RJ). A companhia pretende obter recursos para projetos voltados a seu crescimento.
Na opinião de analistas, a atividade da empresa não é animadora, pois depende de decisões do governo, muitas vezes, políticas. Um deles lembra que outras empresas, inclusive tradicionais da área, não emplacaram no mercado e tiveram de fechar capital.
A CCR ofertou 16,9 milhões de ações ordinárias, o que representa 20% de seu capital. Já iniciou o Novo Mercado desrespeitando uma das normas, que previa a oferta de 25%. A empresa tem, ainda, patrimônio líquido negativo. Mas, segundo seu diretor de relações com investidores, Líbano Barroso, ele é proveniente de uma questão contábil, que deverá ser alterada.
Barroso ressalta também a importância da abertura de capital neste momento de crise para os mercados mundiais e, em particular, para a Bolsa paulista.
"Com a desconfiança gerada pela concordata da Enron, conseguimos, via "road shows", fazer com que investidores internacionais comprassem nossas ações."
Foram adquiridos por investidores institucionais 98% dos papéis, o que pode prejudicar a liquidez. Cerca de 70% deles foram para estrangeiros.
Afora os problemas da CCR, analistas apontam que experiências com esse mercado em outros países não deram certo. Além disso, não é bem vista a idéia de que empresas que aderissem a ele teriam um "selo de qualidade", o que poderia desmerecer outras companhias abertas.


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