São Paulo, sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

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CÂMBIO

Posições no mercado futuro prevendo a queda da moeda americana atingem US$ 12,7 bi, contra US$ 4 bi há um ano

Estrangeiro amplia aposta contra alta do dólar

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nunca os estrangeiros apostaram tão pesadamente na continuidade da queda do dólar. Com o Banco Central intervindo de forma mais branda no mercado de câmbio, investidores e analistas vêem como muito pouco provável a possibilidade de o dólar se recuperar diante do real.
As posições líquidas vendidas em dólar dos investidores estrangeiros na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) alcançaram anteontem os inéditos US$ 12,79 bilhões. No fim de 2005, estavam perto dos US$ 9 bilhões. Há um ano, eram de apenas US$ 4 bilhões.
A ampliação das posições vendidas em dólar acontece em cenários de expectativa de apreciação do real. Os últimos dados permitem dizer que nunca esteve tão forte a crença no prosseguimento da tendência de valorização da moeda nacional.
Neste ano, o dólar acumula desvalorização de 4,22%. Ontem, a moeda americana fechou vendida a R$ 2,227 (alta de 0,18%).
E são os elevados juros brasileiros que têm estimulado esses negócios. Quando monta um contrato com posição "vendida" em dólar, o investidor está interessado em lucrar com a diferença entre a taxa de juros do país (a brasileira, no caso) e a americana. Se o real se valorizar diante do dólar, o investidor lucra ainda mais.
"Os juros estão muito altos e estimulam a manutenção das posições vendidas dos bancos", diz Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
No mercado à vista, as instituições financeiras que operam no país também têm elevado suas posições "vendidas" em moeda estrangeira, que alcançaram US$ 4,69 bilhões em janeiro.
Pelo menos desde novembro, o BC tem sido o único forte comprador de dólares, em um período em que tem sobrado moeda estrangeira no mercado, por causa da alta liquidez mundial e do vigor das exportações brasileiras. Dessa forma, com a oferta de dólares superando a procura pela moeda, a tendência é mesmo a de seu preço cair.
Há duas semanas, o BC diminuiu o volume de suas intervenções diárias no mercado futuro. De aproximados US$ 400 milhões em títulos de "swap cambial reverso" oferecidos diariamente, o BC passou a leiloar apenas US$ 200 milhões. A negociação de um contrato de "swap cambial reverso" tem o mesmo efeito de compras de dólares no mercado futuro. Assim, ao vender menos desses contratos, o BC está, na prática, adquirindo menos dólares no mercado futuro.
Na outra ponta, o saldo da balança comercial segue forte. Em janeiro, a balança registrou superávit de US$ 2,8 bilhões -o melhor resultado para janeiro já registrado.
"O cenário mais forte para o câmbio ainda é de apreciação [do real]. O dólar tem tudo para bater em R$ 2,10 no curto prazo", afirma Alex Agostini, economista da Austing Rating.
Com isso, são fortes as especulações no mercado em relação à possibilidade de a autoridade monetária anunciar a qualquer momento novas medidas que interfiram no câmbio. A mais comentada nas mesas de operações é a implementação de algum limite às posições "vendidas".
Mas há também quem afirme que o atual cenário de apreciação do real favorece a política de inflação sob controle do BC. Se o dólar se mantém em baixos níveis, diminui o efeito de pressão inflacionária que o câmbio carrega.


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