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Para especialistas argentinos, acordo é um paliativo necessário
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
Enquanto os brasileiros afirmam que o acordo de salvaguardas com a Argentina é um golpe
contra o Mercosul, para analistas
do país vizinho o MAC (Mecanismo de Adaptação Competitiva)
aprovado tem pontos frágeis, mas
é um paliativo necessário. "É um
remédio que ajuda a baixar a febre, mas não cura o doente. É positivo no marco do processo imperfeito e incompleto de integração", diz Beatriz Nofal, da consultoria Eco Axis SA.
Ex-subsecretária de Indústria e
Comércio Exterior, ela afirma que
a possibilidade de restringir o comércio quando ele prejudicar a
indústria do vizinho é um "alívio
temporário" e só funciona se for
cumprido um pacto embutido
nele: o setor protegido se modernizar para concorrer livremente.
O chamado PAC (Programa de
Adaptação Competitiva) associado a salvaguarda obriga o governo importador a monitorar e estimular a indústria local. Esse é
considerado um ponto frágil, já
que depende de investimento tecnológico e de uma política industrial -os analistas concordam
em que aumentar o nível de investimento é um dos principais problemas da Argentina e que não há
política industrial definida.
Ainda assim, Dante Sica, da
consultoria abeceb.com, afirma
que o nível de investimento na indústria vizinha cresce, inclusive
de calçados e têxteis, pivôs de
"guerras comerciais". Para estes
setores, há hoje cotas anuais para
entrada de produtos. "Recuperamos o nível de investimento de
1998, mas está mais ligado a médias e pequenas empresas."
Para Sica, uma fragilidade do
acordo é o controle do desvio de
comércio (o risco de deixar de importar do vizinho para comprar
de terceiros fora do Mercosul).
"Não está muito claro como isso
será feito", diz ele. Em 2005, a abeceb.com preparou um relatório
mostrando que, no caso de calçados, após a limitação de importação brasileira, a entrada de sapatos chineses subiu mais de 80%
nos primeiros cinco meses do
ano. No mesmo período, o crescimento brasileiro foi de 8%.
Ele não acredita, porém, que haja uma corrida de setores industriais para pleitear o MAC. "Todos os setores sensíveis já estão
negociando ou negociaram."
Felix Peña, diretor do Instituto
de Comercio Internacional da
Fundação BankBoston, diz que
adoção do mecanismo apenas bilateralmente é um problema para
o Mercosul e pode gerar reclamações de sócios menores. Mas diz
que a medida dá horizonte de previsibilidade para investir. "Pior
seria ignorar as assimetrias."
Beatriz Nofal afirma que o MAC
não pode substituir a necessidade
de coordenar e uniformizar políticas de investimento e incentivo à
exportação nos dois países -o
problema crônico do bloco. Ela
afirma que há problemas em todos os países, mas que o Brasil
oferece incentivos financeiros à
exportação dentro do Mercosul e
libera de impostos insumos usados nos produtos enviados aos vizinhos. "Nessas condições fica
muito difícil competir", afirma.
Comemorado pelos industriais
argentinos, o MAC ainda está sendo analisado pelos fabricantes de
geladeiras, símbolos da "guerra
comercial" recente. Eles fecharam
uma cota de importação brasileira emergencial para o mês de janeiro e se reunirão até o dia 15
deste mês com o setor no Brasil
para discutir o mecanismo e decidir se renovam o acordo.
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