São Paulo, sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

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Mercosul pode ampliar mecanismo

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os chanceleres Celso Amorim e Reinaldo Gargano, do Uruguai, não descartaram a possibilidade de estender o MAC (Mecanismo de Adaptação Competitiva), assinado na quarta-feira entre Brasil e Argentina, aos demais sócios do Mercosul, se houver necessidade e se for solicitado.
"O mecanismo pode ser estendido para os outros países, mas é preciso que eles manifestem interesse. O acordo prevê a possibilidade de inclusão dos outros sócios do Mercosul e, se isso ocorrer, o acordo do bloco vai prevalecer sobre o acordo com a Argentina", disse Amorim.
Gargano afirmou que o governo uruguaio "vai observar com muito cuidado" o funcionamento do MAC para ver se o mecanismo afeta o comércio com Brasil ou com a Argentina. "Não estamos descontentes com esse acordo. Para nós o Mercosul é prioridade e esperamos que a Bolívia também ingresse." Segundo Amorim, ele não pediu que o Uruguai fosse incluído no mecanismo.
Depois de um ano e meio de discussão, Brasil e Argentina entraram em acordo, por determinação dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, para que seja acionado um mecanismo que estabeleça cotas para o comércio de produtos quando houver surto de importação de ambos os lados. As cotas vão durar por três anos e podem ser renovadas por mais um ano. Para o comércio que ultrapasse a cota, incidirá 90% da TEC (Tarifa Externa Comum) cobrada para países de fora do bloco.O objetivo do acordo é dar tempo para fortalecer a indústria argentina.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) qualificou o acordo como enorme retrocesso na integração do Mercosul e ameaçou reagir com dureza.
Em resposta às criticas da Fiesp, Amorim disse acreditar que o novo mecanismo será usado com moderação. "Acredito que a aplicação do MAC será equilibrada e moderada". Segundo ele, o Brasil atendeu a um "pedido que a Argentina vinha fazenda de forma muito angustiante há muito tempo". Na avaliação do ministro, o Brasil não tinha razão para negar o pedido já que o Mercosul é um projeto político, além de comercial, e o Brasil tem superávit que eqüivale a 30% das exportações para a Argentina.
No ano passado, o saldo positivo brasileiro com o vizinho foi de US$ 3,6 bilhões. Na avaliação de Amorim, o benefício para o Brasil é a previsibilidade que o MAC dará ao comércio, evitando decisões e soluções intempestivas para os desequilíbrios comerciais.

Acordo com os EUA
Depois de passar semanas contemporizando as divisões dentro do governo uruguaio em torno de um possível acordo comercial com os Estados Unidos, Gargano disse que assinar o acordo com os americanos não adiantaria nada para o Uruguai.
"Conseguimos fixar 2013 como data para o fim dos subsídios agrícolas, mas os EUA têm uma lista de 300 produtos sensíveis para os quais não vão oferecer acesso e ai estão incluídos justamente os produtos que queremos exportar", disse ele, que também foi recebido pelo presidente Lula.
O chanceler uruguaio se referia ao acordo do encontro ministerial de Hong Kong, da Rodada Doha de liberalização mundial do comércio, que ocorreu em dezembro. Segundo ele, o governo do Uruguai sabe que não é possível assinar uma acordo bilateral com os EUA, ou seja, sem os parceiros do Mercosul, mas, também entende que o Uruguai, por ser um país pequeno, tem que encontrar racionalidade econômica na integração com o Mercosul.
"Se melhorar o acesso dos nosso produtos nos Estados Unidos, vamos ter interesse, mas o Brasil e a Argentina também terão. Então, poderemos negociar juntos", disse Gargano, que veio ao Brasil a convite de Amorim.


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