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LUÍS NASSIF
De onde nada se espera
De onde nada se espera é
de onde nada vem. É o caso do Banco Central. Tem-se um
quadro claramente de excesso
de dólares, a chamada "doença
holandesa"-que se manifestou
quando a Holanda se converteu
em grande exportadora de petróleo. A explosão da exportação de um produto primário
provocou enorme superávit comercial, excesso de entrada de
dólares, apreciando a moeda
nacional e exterminando parte
da estrutura industrial interna.
O Brasil atravessa essa quadra, com a explosão dos preços
das commodities agrícolas. Esse
cenário foi profundamente
agravado pela política de juros
do Banco Central, muito acima
das taxas de equilíbrio das captações internacionais. Lá fora, o
Tesouro mostra ser possível colocar títulos soberanos a 13% ao
ano, em taxas prefixadas. Aqui,
fica-se em uma taxa Selic de
17,25% ao ano, atraindo capital
de arbitragem e forçando ainda
mais a apreciação do real.
Houvesse um mínimo de ousadia e criatividade da parte do
BC, se sairiam dos manuais de
economia e se adotariam medidas visando segurar esse fluxo
de alguma maneira -impondo
uma sobretaxa para as exportações, permitindo aos exportadores manter contas no exterior,
estabelecendo restrições à emissão de bônus no exterior.
É curioso, aliás, que os bravos
pensadores da Casa das Garças
critiquem as linhas de financiamento do BNDES -por presumivelmente comprometerem a
política monetária, na medida
em que seu custo não é afetado
pela taxa Selic- e nada falem
sobre a captação de recursos no
exterior.
Do ponto de vista de política
monetária, a emissão externa é
mais deletéria. Aumenta-se a
taxa Selic para se reduzir a demanda por crédito. Como as
captações internacionais não
são afetadas pela taxa Selic, e
vêm sofrendo reduções continuadas devido à queda do risco
Brasil, quando maior a taxa Selic, maior o estímulo à captação
de dólares -inclusive para operações de arbitragem. Mais: ao
internalizar os dólares, o investidor derruba ainda mais sua
cotação, ou obriga o BC a emitir
reais e adquirir reservas, com
custos fiscais expressivos. Como
é que fica, professores Pérsio e
Bacha?
Ao antecipar o pagamento ao
FMI, o BC reduziu a "exposure"
lá fora. Ao recompor as reservas,
agregou um custo fiscal de 0,2%
a 0,4% do PIB, jogando pelo ralo parte do esforço fiscal. Pagou
dívida externa (que tem juros
menores) com dívida interna
(que tem juros maiores).
Para 2006, os efeitos dos juros
serão piores, porque se sai de
uma base de dívida maior.: o BC
pagou dívida externa com dívida interna. Com uma base
maior, aumenta o custo de carregamento da dívida anulando
os efeitos de uma redução de juros.
Para uma dívida de R$ 800 bilhões, uma taxa Selic média de
20% representaria R$ 160 bilhões. Com a dívida saltando
para R$ 1 trilhão, se a taxa Selic
cair para 16% (quatro pontos a
menos), o serviço da dívida continuará em R$ 160 bilhões.
É uma herança maldita, essa
dos doutores Palocci, Meirelles e
Bevilácqua. E não se espere de
um segundo governo Lula a correção de rumos. Exige uma dose
de convicção, de idéias próprias,
de coragem cívica que não demonstrou no primeiro governo.
E de onde não se espera nada...
E-mail: Luisnassif@uol.com.br
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