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CRISE NO CAMPO/ANÁLISE
Socorro "fácil" ameaça agronegócio profissional
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A agricultura foi do céu ao inferno em apenas um ano. Carro-chefe da economia e das exportações,
o setor começa a patinar e poderá
ter sérios problemas. É preciso, no
entanto, fugir das tentativas de
benesses e bondades generalizadas do passado para com o setor,
principalmente porque as pressões políticas para isso são fortes.
A agricultura tem problemas, e
sérios, neste momento. Mas cada
caso deve ser avaliado isoladamente. A volta ao passado pode
prejudicar a imagem de profissionalismo e seriedade que o setor
conseguiu nos últimos dez anos.
Os problemas do setor são evidentes. Os preços dos principais
produtos comercializados pelo
Brasil estão com queda de até 35%
no mercado externo neste início
de safra em relação ao mesmo período do ano passado. Para complicar, os produtores pagaram de
20% a 30% a mais pelos insumos
básicos utilizados na produção.
O dólar, "moeda oficial" para
reajustar os preços dos insumos,
estava a R$ 3,20 no plantio, mas
recuou para R$ 2,60 na venda da
safra. Ou seja, os custos foram elevados no plantio mas a receita vai
ser pequena na venda da colheita.
Finalmente, o golpe de misericórdia foi a quebra da safra, pelo
segundo ano seguido, em algumas regiões produtoras. A mais
afetada foi o Rio Grande do Sul.
Sabendo-se que pelo menos
60% dos investimentos no plantio
saem do bolso dos próprios produtores -ou de empréstimos de
bancos e de antecipações de insumos pelas multinacionais e cooperativas-, o cenário para a próxima safra toma contornos preocupantes já que o produtor vai estar descapitalizado.
Duas medidas do governo poderiam recuperar o poder de renda dos agricultores neste ano: os
parcelamentos do custeio da safra
2004/5 e do vencimento dos financiamentos de máquinas agrícolas -este último concedido
ontem pelo governo. Os financiamentos do Moderfrota, após dois
anos de carência, começam a vencer neste ano.
Esse adiamento, no entanto,
não deve ser "a perder de vista"
-como quer parte dos agricultores-, mas deve manter os encargos dos contratos originais.
Afinal, quando se trata de contratos, parte dos agricultores tem
uma visão um pouco distorcida
da realidade. No ano passado,
quando a soja chegou a US$ 17
por saca, romperam os contratos
com cooperativas e "tradings"
porque as cláusulas iniciais indicavam pagamento de apenas US$
12 por saca por parte dessas instituições. Neste ano, parte deles
ameaça não honrar os financiamentos com essas empresas porque a soja está com preços baixos.
Traduzindo: quando o cumprimento de um contrato significa
que o agricultor receberá menos
(porque o preço acertado antes é
inferior ao do dia do pagamento),
rasgue-se o contrato; quando o
que está no contrato significa que
ele terá "custo maior" (porque o
produto a ser vendido para quitar
o financiamento está em baixa),
rasgue-se também o contrato.
A agricultura é um atividade de
risco, mas, para se manter atraente aos investimentos, tem de seguir -e cumprir- contratos e
normas como qualquer outra atividade da economia.
Outro sinal de alívio para os
produtores seria a antecipação,
por parte do governo, do crédito
para a safra de inverno. O governo elevou o crédito para os produtores afetados pela seca, mas o
plantio está próximo e os financiamentos deveriam chegar o
mais cedo possível.
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