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Má gestão da renda prejudicou os agricultores
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma combinação de queda dos
preços das commodities, elevação
dos custos de produção e apreciação do real deprimiu a renda dos
agricultores, que se viram em dificuldades para pagar as dívidas.
Mas a má gestão dos recursos
acumulados nos anos de fartura
do agronegócio também contribuiu para o quadro.
"Os agricultores têm de adotar
uma posição mais madura. Fazer
uma poupança nos anos bons para usá-la no tempo das vacas magras. Não se pode jogar todo o
ônus sobre o governo", disse Fernando Homem de Melo, professor de economia da USP.
O consultor agrícola Carlos Cogo concorda. "De fato, as margens
[de lucro] encolheram, mas os
produtores vêm de três anos capitalizados. Muitos deles não calcularam bem os investimentos,
comprando maquinário agrícola
e arrendando terras de forma desordenada", afirmou.
Na avaliação dos dois especialistas, entretanto, o anúncio da renegociação das dívidas do setor é
bem-vindo e necessário. A partir
de abril do ano passado, o setor
agrícola sentiu o descompasso
entre os custos de produção e os
preços pagos pela sua produção.
O setor de grãos foi o mais atingido. Já os segmentos de açúcar, café, suco de laranja e carnes tiveram impactos bem menores.
O Rio Grande do Sul foi, dizem
os especialistas, a região mais afetada. "Além de terem sofrido com
a queda dos preços, eles também
enfrentaram a seca", afirma Homem de Melo. Ele argumenta ainda que o prolongamento dos prazos de pagamento das dívidas é
uma medida justa, mas é importante que seja feita caso a caso, e
não de forma generalizada.
A consultora Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria,
também defende políticas de
alongamento de prazos de dívidas. Outra medida que a consultora considera adequada é a concessão de créditos para estocagem. Esse mecanismo evitaria a
comercialização excessiva dos
produtos agrícolas em momentos
de baixa das cotações.
Histórico de renegociações
A pressão dos agricultores sobre
o governo para pedir mecanismos
de renegociação não é nova.
Em meados dos anos 90, o governo lançou o Pesa (Programa
Especial de Saneamento de Ativos) para dívidas com valores acima de R$ 200 mil. Essa renegociação foi condicionada à aquisição
de títulos do Tesouro Nacional.
Também foram lançados programas para as dívidas de produtores
de pequeno porte. Esses programas tiveram um vasto alcance.
À época, o setor agrícola passava por uma forte retração da renda devido à "âncora verde", instrumento que ampliava a importação de gêneros alimentícios para conter a inflação. Em 1996, segundo o consultor Cogo, o estoque da dívida do setor agrícola era
de R$ 32 bilhões.
"A paridade cambial de 1994 a
1998 quase levou a agricultura
brasileira à falência", disse Homem de Melo. Mas, hoje, o quadro é diferente. "Não há uma crise; há uma acomodação de preços, mas há recuperação de algumas cotações. Não cabe uma renegociação total", afirma Cogo.
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