São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2005

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PÉ NO FREIO

Redução atingiu boa parte da indústria, e empresários aguardam mais clareza sobre política de juros e câmbio

Indústria segura investimento no 1º trimestre

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A redução no ritmo de investimentos constatada pelo IBGE no quarto trimestre do ano passado -houve uma queda de 3,9% na comparação com o trimestre anterior- atingiu boa parte da indústria e deve se manter no primeiro trimestre deste ano.
Essa é a avaliação do departamento econômico da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e também do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que reúne 30 grupos industriais .
"A partir do momento em que o empresário sentiu a disposição do governo de reduzir o ritmo de atividade do país, ele perdeu a vontade de investir. Se o Banco Central diz que vai esfriar, ninguém vai comprar roupa de verão", afirma Paulo Francini, diretor do departamento econômico da Fiesp.
A acomodação da atividade industrial a partir de setembro do ano passado, segundo informa, deixou os empresários mais tímidos para produzir e investir. Essa cautela deve se manter ainda neste trimestre. "É preciso ter mais clareza sobre a condução da política econômica do governo", diz.
Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi, diz que os empresários "deram uma segurada nos investimentos". Isso aconteceu especialmente nos setores que mais investiram no início de 2004 tanto para atender a demanda externa quanto a interna. "Eles querem ver o que o governo vai fazer daqui para a frente."
O setor agrícola, por exemplo, que investiu no ano passado para dar conta sobretudo do mercado internacional reduziu significativamente os investimentos no final de 2004 e início deste ano.
Em dezembro, os investimentos dos agricultores em colheitadeiras caiu 41,6% sobre igual período do ano anterior. Em janeiro deste ano, a queda foi de 63,1% sobre igual mês do ano passado. Os investimentos em tratores caíram 14,6% e 19,5%, respectivamente, no período, segundo informa Persio Luiz Pastre, vice-presidente da Anfavea", que acompanha o setor de máquinas agrícolas.
Além dos juros mais altos, a queda no preço das commodities no mercado internacional e também a taxa de câmbio mais desfavorável às vendas externas.contribuíram para a retração dos investimentos do setor agrícola
A Abimaq, associação que reúne os fabricantes de máquinas, informa que no último trimestre do ano passado houve redução na compra de máquinas para as indústrias gráfica, plástica e petroquímica. A expectativa é que, a partir deste trimestre, outros setores, como o de bens de consumo, reduzam as compras.
"Já vivemos isso no passado. Com o câmbio mais favorável às importações, certamente haverá troca de produto nacional por estrangeiro. Isso certamente vai segurar investimentos de outros setores da indústria. De 1994 a 1998 houve desnacionalização nos setores de brinquedos, eletroeletrônico e de autopeças", diz Newton de Mello, presidente da Abimaq.
Na análise de Paulo Godoy, presidente da Abdib, associação que reúne a indústria de infra-estrutura, a alta nos investimentos de janeiro a setembro do ano passado é reflexo das exportações.
"Os investimentos em infra-estrutura estavam e estão retraídos, com algumas exceções, como o setor de petróleo. Esperamos que os investimentos deslanchem neste ano. A taxa de investimento na economia brasileira ainda é muito baixa. Isso só pode mudar com mais oferta de crédito e juros mais baixos", afirma Godoy.


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