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LUÍS NASSIF
Monstrinhos
e songomongos
Um dos grandes dilemas a
atormentar as famílias de
classe média é sobre a formação
a dar aos filhos. Minha geração
assistiu à revolução de Woodstock, nos costumes, e de Summerhill na educação. A famosa
escola libertária inglesa era a esperança de superação dos velhos
modelos ortodoxos de educação,
embotadores da criatividade e
da iniciativa.
A geração Summerhill dançou. Em plena era da internet,
do trabalho em rede, da liberdade de criação, os modelos de escolas libertárias aparentemente
entram em declínio. O que ocorre?
Primeiro, é importante salientar as novas características do
mercado de trabalho. As modernas formas de gestão estimulam
o empreendedorismo até entre
funcionários de empresas, o trabalho horizontal, que depende
da capacidade de interação dos
diversos segmentos, a criatividade, mas amarrada à visão estratégica da empresa. No plano
individual, haverá expansão
crescente do trabalho em rede.
Ambos os movimentos -nas
empresas e na rede- demandam estágios avançados de relacionamento social.
As escolas libertárias criam redomas fantásticas, nas quais as
crianças podem desenvolver
suas aptidões e opiniões livremente, sem as limitações do
pensamento burocrático, da visão autoritária, do empacotamento do conteúdo em 60 minutos de aula. Só que aquele
mundo de aquário não existe na
vida real. O choque com a realidade criou legiões de pessoas
meramente malcriadas, indisciplinadas ou gravemente desajustadas social e profissionalmente.
Por outro lado, a escola convencional está longe de abarcar
todas as formas de conhecimento que surgiram no rastro da internet.
A criançada que está entrando na escola hoje será a primeira legítima representante da geração "Alt Tab", o pessoal que
não aceitará o pensamento linear, monofásico que imperou
especialmente nos anos 80 e 90.
Com o volume de informação
disponível, com o raciocínio se
acostumando desde cedo a trabalhar com várias realidades simultâneas, certamente haverá
uma elite intelectual extraordinariamente mais sofisticada, especializada em estruturar pensamentos e informações no universo infinito de dados disponíveis.
Mais do que nunca haverá a
necessidade da criatividade
-que as escolas libertárias estimulam-, mas amarrada a um
pensamento disciplinado.
Não apenas isso. Tome-se o
exemplo de análise econômica.
Com os dados macroeconômicos, setoriais e regionais cada
vez mais disponíveis na internet, a educação a distância será
um elemento muito mais eficaz
do que a educação presencial.
Pela internet, com as modernas
ferramentas tecnológicas, será
possível pegar o pulso da economia em tempo real. Só que, nessa fase de transição, os cursos à
distância na maioria das vezes
limitam-se a empacotar o conteúdo presencial.
Por outro lado, trabalhar com
essa montanha de dados exigirá
não apenas criatividade, como
disciplina. E esse ingrediente
-fundamental- as escolas libertárias não fornecem. Como
não fornecem outro elemento
crucial no novo mundo que se
desvenda: a capacidade de relacionamento social. É só conferir
a quantidade de jovens talentosos, desenvolvedores de softwares e sistemas, incapazes de
cumprir um cronograma, que
largam um trabalho no meio
para atender a uma proposta
melhor.
Em estruturas não hierarquizadas, seja no trabalho em rede,
seja na gestão horizontal interdepartamental das empresas, a
chave é o relacionamento social
civilizado. E isso demanda capacidade de entender seu espaço de atuação, não invadir a
área do vizinho, saber conversar, negociar, compartilhar, valores que estão longe de serem
incutidos nos padrões pedagógicos libertários.
Nos extremos têm-se as escolas
convencionais com seus esquemas de fabricação de songomongos, e as libertárias, fabricando monstrinhos que não conhecem limites.
A educação do futuro terá que
ser uma síntese depurada desses
extremos.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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