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Agrofolha
Moinho acusa Argentina de dumping e pede compensação
Mudanças na taxação do trigo do país vizinho tiram competitividade brasileira
Processo será preparado por escritório especializado do Rio, quando deverá ser
definida a melhor medida a ser adotada pelo Brasil
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Na semana passada, representantes da indústria moageira de trigo do Brasil e da Argentina, assistidos por membros
dos dois governos, reuniram-se
mais uma vez em Buenos Aires.
O objetivo da reunião era determinar parâmetros de negociação no setor entre os dois
países. Medidas recentes adotadas pelo governo argentino
deram forte vantagem para os
moinhos locais, tirando a competitividade dos brasileiros.
Mas, mais uma vez, o resultado da reunião mostrou grande
dificuldade para chegar a um
acordo com os argentinos.
Diante disso, os moinhos brasileiros decidiram levar adiante
um pedido de medidas compensatórias ou de antidumping
contra a indústria argentina.
O processo começa a ser preparado por um escritório especializado do Rio de Janeiro,
quando deverá ser definida a
melhor medida a ser adotada.
A entrada do Brasil com uma
medida antidumping ou compensatória deve ocorrer devido
à inflexibilidade dos vizinhos.
Luiz Martins, presidente do
Sindustrigo (reúne a indústria
paulista do setor), diz que "não
dá para fazer negócio com eles
[argentinos]". Os brasileiros foram a Buenos Aires com uma
proposta de definição de volumes e preços de referência para
a entrada do produto no Brasil.
Em troca, receberam o aviso
de que os argentinos não só não
concordavam como tinham como meta para os próximos três
anos abocanhar a fatia de crescimento do setor de trigo e derivados do país, previsto em
1,5% ao ano, afirma Martins.
O consumo brasileiro atual
de farinha de trigo é de 7,35 milhões de toneladas por ano.
Com isso, os argentinos querem colocar anualmente 110
mil toneladas de farinha no
mercado interno brasileiro.
Martins diz que "os moinhos
brasileiros não foram pedir favores, mas igualdade de condições na produção".
Questão antiga
Essa pendência entre Brasil e
Argentina se acentuou com o
aumento das exportações argentinas de mistura de farinha
-produto que pagava apenas
5% de Imposto de Exportação,
mas que, na maioria das vezes,
era farinha de trigo disfarçada
de mistura de farinha.
A fiscalização brasileira na
fronteira fez com que as exportações diminuíssem. O governo
argentino, no entanto, mudou a
legislação -a farinha de trigo,
que pagava 20% de Imposto de
Exportação, passou a pagar
10%. Ou seja, houve incentivo
às exportações argentinas de
farinha de trigo ao Brasil.
O cenário atual é completamente desfavorável aos brasileiros e a tributação argentina
sobre o trigo e a farinha de trigo
tira os moinhos brasileiros da
linha de produção.
A legislação argentina garante aos moinhos de lá trigo a US$
120 por tonelada. Já os brasileiros pagam US$ 200, mais a taxa
de exportação de 20%.
Com essa diferenciação de
preços da matéria-prima, os
moinhos argentinos, que têm
apenas 10% de Imposto de Exportação na farinha, conseguem colocar o produto a US$
350 em São Paulo. Os moinhos
brasileiros não conseguem produzir a farinha por menos de
US$ 500 por tonelada.
Em 2005, o Brasil comprou
4.271 toneladas de farinha da
Argentina, volume que subiu
para 109,88 mil em 2006. No
primeiro bimestre deste ano
foram 78,04 mil toneladas.
Christian Mattar Saigh, diretor do Sindustrigo, diz que o
Brasil está conseguindo desenvolver um "verdadeiro PAC
[Programa de Aceleração do
Crescimento]), mas na Argentina". Os moinhos argentinos
aumentam o ritmo de produção, contratam mais e o governo arrecada mais impostos.
Do lado de cá, no entanto, o
estrago sobre a indústria é
grande e a ociosidade no setor,
que já é de 40%, deve aumentar
ainda mais, avalia Saigh.
O diretor do Sinditrigo diz
que os efeitos perversos dessa
política argentina não vão afetar apenas a indústria, mas
também a triticultura do Brasil.
Os 150 mil triticultores do
Brasil, que hoje recebem R$
400 por tonelada de trigo como
preço mínimo, vão ter de baixar
os custos e concorrer com os
US$ 120 (R$ 250) pagos pelos
moinhos argentinos.
Isso porque os moinhos brasileiros, sem capacidade de
concorrência com os argentinos, vão virar meros revendedores de farinha argentina no
país. Ou seja, vão deixar de
comprar o trigo nacional.
Segundo um analista do setor, o governo brasileiro deveria ser mais ativo nessa questão. Afinal, enquanto o país
cumpre à risca as determinações do acordo do Mercosul,
não recebe a mesma reciprocidade dos argentinos.
Ele cita o exemplo do Chile,
que, diante dos mesmos problemas enfrentados pelo Brasil,
entrou com medida compensatória de 31% na OMC.
Ao contrário do Brasil, cuja
legislação auxilia mais a exportação de matérias-primas do
que de produtos com valor
agregado, a Argentina quer industrializar os produtos internamente. Já faz isso, com a soja, com outros óleos vegetais e
agora está incentivando a exportação de farinha de trigo,
em detrimento do trigo.
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