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Mudança contábil deve melhorar balanço dos bancos americanos
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os EUA anunciaram ontem
um relaxamento nas regras
contábeis que permitirá aos
bancos melhorarem a fotografia de seus balanços e elevarem
o volume de empréstimos concedidos. A mudança, comunicada pelo Fasb (comitê contábil
americano), vale a partir do segundo trimestre de 2009, que
começou anteontem.
Visto como uma "mágica
contábil", esse relaxamento diminuirá o rigor com que ativos
de baixo preço e liquidez são registrados pelos bancos e empresas -permitirá contabilizar
valores acima dos de mercado.
Até então, papéis lastreados
em hipotecas, por exemplo, deveriam ser contabilizados pelo
preço pelo qual encontrassem
um comprador. Com a crise, a
maioria desses papéis não tinha comprador e acabavam
sendo registrados por valores
ínfimos, diminuindo a capitalização dos bancos e reduzindo a
capacidade de emprestar.
A mudança foi considerada
um retrocesso por contadores,
auditores e analistas, que viram
pressão do Congresso dos EUA.
Eles temem estímulo à "maquiagem" de balanço e dificuldades para comparar resultados com períodos anteriores e
entre diferentes instituições
-a regra foi rejeitada por dois
dos membros do Fasb.
A mudança permite uma espécie de "dessazonalização" do
valor de um ativo, retirando o
impacto que a falta de liquidez
teve em seu preço. No caso,
parte das perdas não passarão
pelo resultado financeiro -que
termina em lucro ou prejuízo-
da empresa , mas reduzirão o
patrimônio dos acionistas.
Também flexibiliza a data em
que devem ser computados,
permitindo o registro em um
período mais favorável.
Segundo Alexsandro Broedel, da contabilidade da USP, a
mudança pode elevar em 20% o
lucro dos bancos nos EUA.
Broedel acredita que, se a regra for adotada pelo Brasil, terá
um impacto "imaterial" nos balanços dos bancos. Isso porque
altera mais o preço de derivativos de crédito, que quase não
existem no país. "O impacto
maior será que os bancos americanos poderão voltar a emprestar mais ao Brasil."
Para valer no Brasil, a nova
regra deve, primeiro, ser adotada pelo Iasb (correspondente
internacional do Fasb americano), que é seguido pelo país.
Depois, deve ser aprovada pelo
CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) e colocada
em audiência pública antes de
ser regulamentada pela CVM.
O Iasb divulgou ontem nota
apoiando o órgão americano,
mas pedindo seis meses para se
pronunciar sobre o assunto. A
tendência é que faça algo semelhante, melhorando a capitalização dos bancos europeus.
Para Edson Arisa, do Ibracon
(associação dos auditores), é
cedo para dizer se a regra é
mesmo um retrocesso.
"Os órgãos que tratam da
contabilidade estão buscando a
melhor forma para interpretar
o que está acontecendo, sem
exagerar nem para um lado
nem para o outro", disse.
Broedel lembra que há dúvidas se os bancos vão aderir à
mudança. "Muitos bancos podem falar que não querem mudar e que vão continuar com regras mais rigorosas", disse.
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