São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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Governo decide não partir para o confronto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou "irritado" com a medida do boliviano Evo Morales, ainda mais com o modo como foi feita do que com o seu teor. Mas, apesar disso, decidiu que não vai partir para o confronto com Morales, que deixou claro para o brasileiro em conversa ontem que a sua decisão não foi um "ato de hostilidade".
O governo avalia que, ao dizer que os preços poderão ser negociados, o boliviano abriu as portas para uma negociação e fez, ainda que timidamente, um "recuo" no modo agressivo como a nacionalização foi anunciada -com militares armados tomando a refinaria brasileira. Na conversa, o tom de Morales foi considerado até "amistoso". Mas a relação entre os dois, admitem fontes, ficou "abalada".
A nota divulgada pelo Palácio do Planalto indica o quanto o governo quer manter o caso no âmbito da negociação, sem atritos com Morales, que já chegou a comparar Lula a um "irmão mais velho". O texto diz que a decisão boliviana "é reconhecida pelo Brasil como ato inerente à sua soberania". E lembrou que aqui vigora a mesma legislação agora imposta lá: "O Brasil, como manda sua Constituição, exerce pleno controle sobre as riquezas do seu próprio subsolo".
Na nota, o governo brasileiro afirma que "levará adiante as negociações necessárias para garantir o relacionamento equilibrado e mutuamente proveitoso para os dois".

"Acima do tom"
De acord com interlocutores do presidente da República, o governo avalia que a atitude de Evo Morales foi "acima do tom", mas tem muito de "jogo de cena", em razão da proximidade de uma eleição importante na Bolívia. O prazo para adaptação às novas regras foi visto como uma "janela de negociação".
Além do interesse em aumentar os ganhos do governo com a exploração de gás, o gesto de Morales tem apelo eleitoreiro, de acordo com integrantes do Palácio do Planalto: as eleições para a nova Constituinte estão marcadas para 2 de julho e a nacionalização das reservas de gás impactará nos ânimos dos eleitores.

Estrago
O governo brasileiro acredita que a exportação do gás é importante demais para a Bolívia, o que impedirá o país de ser completamente intransigente.
Se, em última instância, a Petrobras decidisse sair do país, o estrago poderia ser muito grande para o vizinho.
Além disso, a paciência com a Bolívia é condizente com a política externa adotada pelo Brasil, de alinhamento com os mais pobres e em busca de liderança no continente sul-americano.
Mas o Brasil também depende da Bolívia, pois a maior parte do gás consumido no país vem do vizinho. Além disso, a Petrobras já investiu muito na Bolívia para simplesmente abandonar seus ativos. Por isso, não cogita sair do país. (PEDRO DIAS LEITE E HUMBERTO MEDINA)


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