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Governo decide não partir para o confronto
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ficou "irritado" com a
medida do boliviano Evo Morales, ainda mais com o modo como
foi feita do que com o seu teor.
Mas, apesar disso, decidiu que
não vai partir para o confronto
com Morales, que deixou claro
para o brasileiro em conversa ontem que a sua decisão não foi um
"ato de hostilidade".
O governo avalia que, ao dizer
que os preços poderão ser negociados, o boliviano abriu as portas
para uma negociação e fez, ainda
que timidamente, um "recuo" no
modo agressivo como a nacionalização foi anunciada -com militares armados tomando a refinaria brasileira. Na conversa, o tom
de Morales foi considerado até
"amistoso". Mas a relação entre
os dois, admitem fontes, ficou
"abalada".
A nota divulgada pelo Palácio
do Planalto indica o quanto o governo quer manter o caso no âmbito da negociação, sem atritos
com Morales, que já chegou a
comparar Lula a um "irmão mais
velho". O texto diz que a decisão
boliviana "é reconhecida pelo
Brasil como ato inerente à sua soberania". E lembrou que aqui vigora a mesma legislação agora
imposta lá: "O Brasil, como manda sua Constituição, exerce pleno
controle sobre as riquezas do seu
próprio subsolo".
Na nota, o governo brasileiro
afirma que "levará adiante as negociações necessárias para garantir o relacionamento equilibrado e
mutuamente proveitoso para os
dois".
"Acima do tom"
De acord com interlocutores do
presidente da República, o governo avalia que a atitude de Evo Morales foi "acima do tom", mas tem
muito de "jogo de cena", em razão da proximidade de uma eleição importante na Bolívia. O prazo para adaptação às novas regras
foi visto como uma "janela de negociação".
Além do interesse em aumentar
os ganhos do governo com a exploração de gás, o gesto de Morales tem apelo eleitoreiro, de acordo com integrantes do Palácio do
Planalto: as eleições para a nova
Constituinte estão marcadas para
2 de julho e a nacionalização das
reservas de gás impactará nos ânimos dos eleitores.
Estrago
O governo brasileiro acredita
que a exportação do gás é importante demais para a Bolívia, o que
impedirá o país de ser completamente intransigente.
Se, em última instância, a Petrobras decidisse sair do país, o estrago poderia ser muito grande para
o vizinho.
Além disso, a paciência com a
Bolívia é condizente com a política externa adotada pelo Brasil, de
alinhamento com os mais pobres
e em busca de liderança no continente sul-americano.
Mas o Brasil também depende
da Bolívia, pois a maior parte do
gás consumido no país vem do vizinho. Além disso, a Petrobras já
investiu muito na Bolívia para
simplesmente abandonar seus
ativos. Por isso, não cogita sair do
país.
(PEDRO DIAS LEITE E HUMBERTO MEDINA)
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