|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Petrobras enfrenta dificuldades para explorar campos descobertos há anos
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto o governo alardeia
a descoberta de novas reservas
de óleo e gás como a porta de
entrada do Brasil, num futuro
ainda incerto e distante, no clube dos reis mundiais do petróleo, a Petrobras apresenta dificuldades para explorar os campos já descobertos há muitos
anos.
Os dados da empresa mostram que a produção no país está em queda e confirmam que,
sem a gordura nas receitas que
permitia à estatal absorver a
defasagem entre o preço externo dos combustíveis e o cobrado no Brasil, não havia outro
caminho a não ser reajustar os
valores do mercado interno.
De janeiro a março, a produção de óleo e gás da Petrobras
no país caiu 1,4%. Se for considerada também a produção fora do país, a queda é de 1,2%. Segundo analistas ouvidos pela
Folha, as justificativas apresentadas pela Petrobras para o
desempenho ruim são manutenções de plataformas e de
equipamentos. A empresa não
se manifestou.
Como a Petrobras é uma
companhia com ações negociadas na Bolsa de Valores, a cobrança dos investidores cresce
à medida que os resultados diminuem. Pesam ainda a aversão de investidores ao risco
diante do quadro de incertezas
com a crise financeira mundial.
Essa combinação se reflete
no desempenho das ações da
empresa no mercado. Apesar
da alta do petróleo e das prováveis novas reservas, o papel da
estatal acumulou queda de
2,98% entre o final do ano passado e a primeira quinzena de
abril. No mesmo período, o preço do petróleo no mercado externo subiu 21,6%.
"Os resultados [da Petrobras] vêm fracos. Não dá mais
para ficar brincando, mas a decisão é política porque o governo está preocupado com a inflação", avalia Pedro Galdi, analista de investimento da Real
Corretora. Segundo ele, a defasagem do preço da gasolina foi
compensada, durante boa parte desses anos em que a estatal
não reajustou o produto, pela
valorização da taxa de câmbio.
Pressão
Mas a margem de ajuste já foi
consumida, e as estimativas do
mercado eram que, antes do
anúncio do reajuste de 10% nas
refinarias, a gasolina custava
cerca de 20% menos do que deveria no Brasil; o diesel, 30%.
No caso do diesel, o aumento
anunciado foi de 15%. Desde
2005 a Petrobras não aumentava o preço dos produtos.
"A própria Petrobras deve estar pressionando o governo para reajustar os combustíveis e
aumentar seu lucro, encobrindo a queda na receita por não
produzir eficientemente", avalia o economista Dany Rappaport, sócio da administradora
de recursos InvestPort.
E realmente pressionou. O
presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, reclamou com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e mostrou tabelas e gráficos com os números recentes
da empresa. A discussão, no entanto, esbarrava no temor da
equipe econômica com a trajetória da inflação.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) temia que o reajuste
dos combustíveis desse argumentos para o BC justificar novos aumentos dos juros. Por isso, primeiro era preciso encontrar uma forma de tentar neutralizar o impacto desse reajuste no IPCA.
Copom
Um possível reajuste já havia
sido incorporado nos cálculos
do Banco Central para calibrar
a taxa de juros e manter a inflação sob controle. Oficialmente,
o Copom (Comitê de Política
Monetária) mantém aumento
zero em 2008, mas já admitia
que as chances de a correção
acontecer eram grandes.
Tanta cautela por parte do
BC se justifica pelo potencial de
atrito que o tema gera no governo. No final de 2004, quando o
Copom iniciou um ciclo de alta
dos juros, havia um debate semelhante sobre repasses de altas lá fora para os preços internos pela Petrobras.
Na época, o BC destacou na
ata da reunião que a correção
dos preços poderia ser postergada, mas não evitada, e que o
adiamento do reajuste reduzia
a eficácia da política monetária.
Sob a alegação de ser transparente, o Copom comprou uma
briga com a estatal. Desde então, o assunto virou tabu.
Texto Anterior: Outro lado: Ministérios e Presidência da República explicam que despesas seguiram a lei Próximo Texto: Ação custa mais que as de Shell, Exxon e Lukoil Índice
|