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LUÍS NASSIF
Desenvolvimento e governos estaduais
O seminário "Políticas de Desenvolvimento", organizado pela Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo) nesta semana, é relevante por acontecer em um período em que começa a ir para segundo plano a visão supersticiosa sobre
política industrial.
Das muitas palestras consistentes apresentadas, chamou atenção a de Paolo Gurisatti, professor de economia internacional e comércio da Universidade de Pádua, Itália, que está no Brasil assessorando o Sebrae nacional em sua política de implantação de "clusters" industriais.
O século 20 foi dominado pelo Estado nacional e pelas grandes
organizações verticalizadas, inspiradas no modelo fordista. A escola italiana de economia industrial (como foi batizada) inverteu esse jogo. Lá as empresas,
municípios e Estados se organizaram em redes horizontais, em
distritos industriais, como preconizado por Alfred Marshall em
1910. Criam-se comunidades tecnológicas relacionando-se com
comunidades industriais, surgem empresas de fornecedores,
criando uma flexibilidade única.
Os distritos dispõem de quatro
vantagens básicas.
A primeira, o baixo custo para
reestruturação e realocação de
recursos.
A segunda, a participação alta
e difusa dos investimentos. Há
muitas pessoas participando dos
investimentos e dos lucros, em
uma versão italiana da empresa
aberta.
A terceira é o fato de criar um
novo tipo de sociedade, em que
as pessoas, de força de trabalho,
se transformam em empreendedores, levando a uma melhoria
da condição e da igualdade social.
Finalmente, essa estrutura
permite produzir inovação e reconhecer a propriedade intelectual, por meio de acordos entre
produtores e técnicos.
A visão do italiano é que há
que ter políticas regionais de articulação de esforços e de definição de objetivos. E cabe ao Estado nacional oferecer suporte genérico para empresas individuais ou "clusters" -e, de forma
centralizada, apenas para setores muito verticalizados e de capital intensivo. Para que as políticas nacionais sejam eficazes,
há a necessidade de as autoridades locais decidirem seu projeto
de desenvolvimento.
E aí se entra em um ponto relevante: discute-se bastante a necessidade de políticas industriais
nacionais, mas nada se cobra
dos Estados.
Cada presidenciável tem seu
grupo de trabalho estudando políticas públicas. Mas não se cobram propostas dos governadores, que são peças-chave dessa
equação desenvolvimentista.
Tome-se o caso de São Paulo,
uma nação dentro da nação.
São Paulo tem os melhores institutos de pesquisa do país, a melhor agência de financiamento
de pesquisa (Fapesp), as melhores universidades (USP, Unicamp, Unesp entre outras), centros de excelência tecnológica
(Campinas, São Carlos, São José,
Araraquara, IPT), um banco estadual (Nossa Caixa), as mais
poderosas federações e associações empresariais do país, distribuídas por todo o Estado, o mercado de consumo mais sofisticado. E qual é sua política científico-tecnológica, qual a articulação entre elas, qual o planejamento que permite amarrar as
ações dos diversos órgãos, dar-lhes consistência, organicidade?
Os Estados têm que começar a
definir e explicitar suas prioridades de desenvolvimento, sua política científico-tecnológica, sua
política de atração de investimentos externos. Caberá aos governos estaduais trabalhar na
articulação das diversas forças
locais, criando fóruns de discussão e ferramentas de implementação de políticas.
Não adiantam recursos do
BNDES para pequenas e médias
empresas ou para "venture capital" se não houver, em cada Estado, uma estrutura clara de
mobilização, análise e aplicação
desses recursos.
Por isso mesmo, restringir a
discussão de política industrial
ao governo federal é abordar
apenas parte do problema. Há
que envolver os governos estaduais e exigir de cada candidato
a apresentação de propostas claras de política industrial e científico-tecnológica. As Secretarias de Ciência e Tecnologia têm que
se tornar secretarias de primeira classe e formuladores de políticas ativas de desenvolvimento.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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