São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008

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Crescimento do PIB pode cair a 4%, diz Coutinho

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, disse ontem que a produção industrial brasileira se encontra em processo de "leve desaceleração"-que considerou "saudável"-, com reflexos no PIB (Produto Interno Bruto) a partir do ano que vem. Para ele, no pior cenário internacional (agravamento da crise americana, maior pressão inflacionária e desaceleração da economia global), o crescimento do PIB brasileiro poderá cair para 4% em 2009.
Hoje, a estimativa oficial do BNDES ainda é de crescimento entre 4,5% e 5% em 2009. Mas isso só ocorrerá no melhor cenário internacional, diz Coutinho, considerado um dos principais interlocutores econômicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em mais de uma oportunidade, Lula já manifestou o desejo de que o país cresça numa faixa de 5% ao ano.
Segundo o presidente do BNDES, dada a atual conjuntura econômica- fortes pressões inflacionárias vindas do exterior e também do front doméstico-, a desaceleração "leve" terá saldo positivo.
"É saudável. Vai facilitar a tarefa da política fiscal e monetária de manter a inflação sob controle. Teremos um ritmo de crescimento mais equilibrado e sustentável", ponderou Coutinho, ao apresentar um indicador do comportamento da indústria de bens de capital elaborado pelo BNDES.
O índice Finame (programa do banco para financiar a compra de máquinas e equipamentos), que mede o consumo aparente de bens de capital, começou a ser divulgado ontem -e já reflete a "leve desaceleração" mencionada por Coutinho.
O consumo aparente é a soma de tudo o que é produzido pelo setor de bens de capital, mais as importações. Ou seja, mensura a demanda doméstica de um setor estratégico da indústria: o que produz máquinas e equipamentos utilizados por outras indústrias.
Em junho, a variação acumulada nos últimos 12 meses do setor de bens de capital foi de 19,8%. É o segundo mês seguido de queda: em maio, o crescimento anualizado havia sido de 22,3% e, em abril, de 23,2% -o ápice de uma trajetória de forte alta iniciada em abril de 2007.
"É importante destacar que os bens de capital vinham registrando taxas altíssimas de crescimento. Estatisticamente, a base de comparação já era alta. Se ficar acima de 15%, está muito bom. O importante é ficar acima da taxa média da economia", afirmou Coutinho.
Para o presidente do BNDES, essa desaceleração ainda não reflete a piora das expectativas de inflação, acentuada nas últimas semanas. Como a inflação acelerou a trajetória de alta, o mercado espera que o Banco Central promova novas elevações na taxa básica de juros.
Para o economista José Márcio Camargo, da gestora de recursos Opus, ainda não há sinais claros de desaceleração da economia. Mas eles virão: "É uma conjunção poderosa de fatores externos e domésticos. Lá fora, a alta de preços das commodities. Aqui, uma demanda muito aquecida. A capacidade de produção bateu no limite e a demanda continua crescendo".
Na opinião da economista Marcela Prada, da consultoria Tendências, o processo de desaceleração deve se acentuar nos próximos meses: "Já há impacto da redução da renda real, por causa da alta da inflação. E a elevação dos juros impacta na demanda doméstica".


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