São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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NEGÓCIOS
Sócios da AmBev dizem que não há incompatibilidade entre eficiência e emprego, mas previsão é de demissões
Nova empresa vai fechar fábricas antigas

da Reportagem Local

Cortes de pessoal no setor administrativo, na distribuição e nas fábricas mais antigas. É o que prevêem analistas e trabalhadores do setor de bebidas como consequência da associação que criou a AmBev.
A nova empresa manterá as três redes de distribuição separadas -Brahma, Antarctica e Skol-, mas unificará o setor produtivo. Ou seja, todas as fábricas produzirão cervejas de marcas da Antarctica e da Brahma.
A forma de operação da nova empresa foi esclarecida ontem por seus sócios, que evitaram afirmar se será necessário corte de pessoal para colocá-la em prática.
"Não fizemos a associação para ficar no lugar nem para andar para trás. Vamos fechar fábricas antigas e migrar a produção para outras mais novas. Mas não dá para fazer isso sem funcionários. Além disso, estamos pretendendo expandir a atuação em bebidas não-alcoólicas, e isso pode gerar mais empregos", disse Marcel Herman Telles, co-presidente da AmBev.
Segundo ele, "não há incompatibilidade entre eficiência e emprego, desde que haja crescimento da empresa".
Hoje, as duas empresas têm 50 fábricas -28 da Brahma e 22 da Antarctica. "No momento, não se pretende fechar nenhuma. Vamos antes fazer um estudo amplo de logística para verificar quais são as mais eficientes", disse Victório De Marchi, co-presidente da AmBev.
Para analistas de investimentos, o fechamento de fábricas menos eficientes que estejam na mesma região de fábricas mais eficientes será inevitável. Principalmente porque as duas companhias já possuíam uma capacidade ociosa considerável. A Brahma, por exemplo, ocupou menos de 70% da sua capacidade produtiva instalada no ano passado.
Mas as demissões mais maciças não deverão ocorrer nas fábricas, segundo os analistas, porque elas são bastante automatizadas e empregam mão-de-obra qualificada. Os maiores cortes deverão acontecer no setor administrativo, com a unificação de áreas.

Distribuição
Os trabalhadores do setor têm uma outra visão sobre os cortes. Em um primeiro momento, a associação de Antarctica e Brahma deve provocar demissões no setor de distribuição, avalia Sinval Silvestre da Silva, diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral.
O enxugamento de pessoal começaria na distribuição porque Antarctica e Brahma não seriam tão eficientes nesse item quanto a Coca-Cola -que pretendem enfrentar-, e por haver distribuidoras das duas empresas muito próximas, sobrepondo funções.
"A Coca-Cola tem distribuição própria, que entrega o produto ao cliente a qualquer hora. Já Brahma e Antarctica operam com distribuidores particulares, que não trabalham no fim-de-semana", diz o diretor do sindicato.
Mas o gargalo da distribuição não passou despercebido pelas sócias da AmBev, que vêm montando equipes próprias há cerca de três anos.
Segundo dados do sindicato, em janeiro último Brahma e Antarctica tinham no país 16 mil empregados e geravam mais 24 mil empregos indiretos. Nesse segundo grupo está toda a cadeia da distribuição, que abrange desde o vendedor e o conferente de pátio até o motorista e o entregador da bebida.
Em um segundo momento é que passam a correr o risco de perder o emprego os funcionários de fábricas mais antigas e muito próximas, afirma Silva.



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