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MEGAFUSÃO
Conselho é pró-mercado, diz Gesner Oliveira
Se concorrência for afetada, Cade veta
da Sucursal de Brasília
O presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), Gesner Oliveira,
afirma que o órgão não tem "medo de cara feia" ao julgar processos em que estão em jogo possíveis danos à concorrência.
"Mas se a operação não apresenta esses aspectos, o Cade
aprova. O Cade deve ser visto como pró-mercado e não como
contra o mercado."
A seguir, os principais trechos
da entrevista do presidente do
Cade. (IV)
Folha - O dado de que juntas as
duas empresas deterão 70% do
mercado de cervejas não é prova
suficiente de que a concorrência
no setor ficará prejudicada?
Gesner Oliveira - Não. O dado
sobre concentração é importante
e sempre é levado em conta, mas,
por si só, não é suficiente para
determinar a aprovação ou a reprovação de uma operação.
Folha - Que outros fatores o Cade leva em conta no julgamento
de um caso?
Oliveira - Se a operação vai aumentar a probabilidade de cartel,
ou de abuso da posição de dominância que a empresa eventualmente venha a adquirir, se esse é
um setor no qual é fácil a entrada
de outros concorrentes, se as importações exercem uma pressão
competitiva...
Folha - Os dirigentes da Brahma e da Antarctica estiveram
com o presidente Fernando Henrique Cardoso para anunciar a fusão. Isso não cria um constrangimento para o Cade reprovar a
operação ou impor restrições duras à nova empresa?
Oliveira - Em hipótese alguma.
O Cade leva em conta critérios
técnicos e é absolutamente isento
em suas decisões. É claro que as
requerentes podem ter uma audiência com o presidente da República, mas eu lhe asseguro que
isso não afeta em nada o julgamento do Cade. O próprio presidente da República escolhe os
membros do Cade. Se nós nos
impressionássemos com uma
audiência com o presidente da
República, tenho certeza que ele
não nos escolheria.
Folha - É correta a percepção de
que o Cade acaba aprovando todos os processos que julga?
Oliveira - Em todos os países, a
maioria das operações de associação é aprovada. Isso é natural
porque as próprias empresas
procuram moldar as operações
com os critérios da lei, é até positivo que seja assim.
As estatísticas do Cade mostram que as operações reprovadas pelo conselho correspondem
ao percentual reprovado no resto
do mundo, que é de cerca de 4%.
Quando a operação apresenta aspectos anticoncorrenciais, o Cade não tem medo de cara feia.
Mas, se a operação não apresenta
esses aspectos, o Cade aprova. O
Cade deve ser visto como pró-mercado e não como contra o
mercado.
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