São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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MEGAFUSÃO
Kaiser reunirá diretoria para traçar estratégia; Schincariol amplia investimento em marketing em R$ 10 mi
Concorrência já prepara o contra-ataque

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

Os concorrentes da Brahma e da Antarctica já estão se armando para enfrentar a AmBev (Companhia de Bebidas das Américas), a terceira maior cervejaria do mundo.
Pegas de surpresa, as cervejarias brasileiras passaram o dia de ontem em reunião para discutir a união das duas marcas e traçar planos para competir e até para evitar que o negócio se concretize.
A Kaiser, que detém cerca de 16% das vendas de cervejas no país, segundo a Nielsen, vai reunir na segunda-feira o seu conselho de administração, presidido por Luiz Otávio Possas Gonçalves.
O encontro, marcado após a divulgação do negócio entre Brahma e Antarctica, discutirá estratégias da empresa para competir no mercado de cervejas e ações que ela poderá vir a tomar para evitar a concentração do setor.
A diretoria da Kaiser entende que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) não terá argumentos para aprovar a união das duas marcas.
Ontem, a empresa divulgou nota para comunicar que é contra o negócio. "É inaceitável, em qualquer economia do mundo, concentrar em um única empresa mais de 70% da venda de um produto."
Na nota, a Kaiser diz que "a companhia não pode admitir o retorno de práticas comerciais restritivas, que possam acarretar prejuízos para fornecedores e varejistas, além de afetar a arrecadação de impostos e a geração de empregos".
A Schincariol, depois de reunir a diretoria, ontem, chegou à conclusão de que a união da Brahma e da Antarctica pode até abrir espaço para o crescimento das vendas de cervejas de outras marcas.
Empresa menor, entende a diretoria da Schincariol, pode ser mais eficiente do que uma maior.
A empresa, de Itu, interior de São Paulo, que detém 7,5% das vendas de cervejas no país, segundo a Nielsen, depois do anúncio da Brahma e da Antarctica, decidiu aumentar em R$ 10 milhões (de R$ 25 milhões para R$ 35 milhões) os gastos com propaganda e promoção em 99.
Em 40 dias, a Schincariol vai deslanchar uma campanha publicitária para estampar seus produtos e sua marca em revistas, outdoors e emissoras de TV.
Até agora, a empresa está exibindo os produtos em festas de peões e em eventos que dão exclusividade na venda e na promoção dos seus produtos -cervejas e refrigerantes.
Francisco Martins, gerente de vendas e marketing da empresa, diz que a vantagem da Schincariol é a agilidade nas decisões e na execução das mesmas. "Conhecemos bem as regiões onde atuamos."

Próprias pernas
A Schincariol, por enquanto, quer crescer com as próprias pernas. Com faturamento de US$ 374 milhões, a empresa inaugura, no final do ano ou no início do próximo, a sua terceira fábrica, no Rio de Janeiro. Além de Itu, tem uma fábrica em Alagoinhas, na Bahia.
A família Schincariol, segundo Martins, acha que sozinha a empresa tem muito para crescer. A distribuição dos seus produtos é forte nos Estados de São Paulo, Ceará, Rio Grande do Norte e Amazonas. Agora quer avançar para o sul do país.
A empresa está animada porque conseguiu vender mais cervejas e refrigerantes mesmo com a crise. Martins diz que no primeiro semestre deste ano as vendas da empresa, em volume, subiram 9,2% em relação a igual período do ano passado. "As marcas que agora fazem parte da AmBev cresceram 1,1% no período."
A Schincariol acha que vai dar para faturar até US$ 400 milhões neste ano. A meta da empresa é deter, até o final do ano, 12% das vendas de cervejas no país.
O publicitário Sérgio Amado, presidente da Standard Ogilvy, considera que as marcas menores de cervejas vão crescer.
Até agora, diz, a disputa estava muito concentrada entre Brahma e Antarctica. "Agora os pequenos vão poder negociar melhor com bares, hotéis, restaurantes e supermercados, pois eles vão oferecer opções para os consumidores."
Segundo ele, no mundo já é comum a briga de duas ou três grandes cervejarias com centenas de outras marcas menores, que detêm de 1% a 10% de participação no mercado. "E essas pequenas continuam crescendo e conquistando seu público."
Amado diz que as marcas regionais de cervejas vão ter de investir mais em marketing e em pontos-de-venda para mostrar que são diferentes e têm qualidade.
"A guerra de preços travada entre Brahma e Antarctica era tão grande que não sobrava para ninguém. Agora elas poderão vender as cervejas por um preço mais justo. O que elas faziam era até vender abaixo do custo para ganhar mercado."
Analistas de investimento que acompanham o mercado de bebidas consideram que, num primeiro momento, as marcas da Brahma e da Antarctica podem até perder mercado.
Isso porque a união de duas empresas tão grandes é complexa. Resulta em mudanças de estrutura e até em demissões. Eles acham que não é fácil administrar esse processo de transição. As decisões poderão ser lentas, até porque a direção da AmBev está sendo formada. Esse é o momento, acreditam, de as marcas menores se mostrarem e conquistarem o consumidor.



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