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MEGAFUSÃO
Kaiser reunirá diretoria para traçar estratégia; Schincariol amplia investimento em marketing em R$ 10 mi
Concorrência já prepara o contra-ataque
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
Os concorrentes da Brahma e
da Antarctica já
estão se armando para enfrentar a AmBev
(Companhia de
Bebidas das
Américas), a terceira maior cervejaria do mundo.
Pegas de surpresa, as cervejarias
brasileiras passaram o dia de ontem em reunião para discutir a
união das duas marcas e traçar planos para competir e até para evitar
que o negócio se concretize.
A Kaiser, que detém cerca de 16%
das vendas de cervejas no país, segundo a Nielsen, vai reunir na segunda-feira o seu conselho de administração, presidido por Luiz
Otávio Possas Gonçalves.
O encontro, marcado após a divulgação do negócio entre Brahma
e Antarctica, discutirá estratégias
da empresa para competir no mercado de cervejas e ações que ela poderá vir a tomar para evitar a concentração do setor.
A diretoria da Kaiser entende
que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) não terá argumentos para aprovar a
união das duas marcas.
Ontem, a empresa divulgou nota
para comunicar que é contra o negócio. "É inaceitável, em qualquer
economia do mundo, concentrar
em um única empresa mais de 70%
da venda de um produto."
Na nota, a Kaiser diz que "a companhia não pode admitir o retorno
de práticas comerciais restritivas,
que possam acarretar prejuízos
para fornecedores e varejistas,
além de afetar a arrecadação de
impostos e a geração de empregos".
A Schincariol, depois de reunir a
diretoria, ontem, chegou à conclusão de que a união da Brahma e da
Antarctica pode até abrir espaço
para o crescimento das vendas de
cervejas de outras marcas.
Empresa menor, entende a diretoria da Schincariol, pode ser mais
eficiente do que uma maior.
A empresa, de Itu, interior de São
Paulo, que detém 7,5% das vendas
de cervejas no país, segundo a
Nielsen, depois do anúncio da
Brahma e da Antarctica, decidiu
aumentar em R$ 10 milhões (de R$
25 milhões para R$ 35 milhões) os
gastos com propaganda e promoção em 99.
Em 40 dias, a Schincariol vai deslanchar uma campanha publicitária para estampar seus produtos e
sua marca em revistas, outdoors e
emissoras de TV.
Até agora, a empresa está exibindo os produtos em festas de peões
e em eventos que dão exclusividade na venda e na promoção dos
seus produtos -cervejas e refrigerantes.
Francisco Martins, gerente de
vendas e marketing da empresa,
diz que a vantagem da Schincariol
é a agilidade nas decisões e na execução das mesmas. "Conhecemos
bem as regiões onde atuamos."
Próprias pernas
A Schincariol, por enquanto,
quer crescer com as próprias pernas. Com faturamento de US$ 374
milhões, a empresa inaugura, no
final do ano ou no início do próximo, a sua terceira fábrica, no Rio
de Janeiro. Além de Itu, tem uma
fábrica em Alagoinhas, na Bahia.
A família Schincariol, segundo
Martins, acha que sozinha a empresa tem muito para crescer. A
distribuição dos seus produtos é
forte nos Estados de São Paulo,
Ceará, Rio Grande do Norte e
Amazonas. Agora quer avançar
para o sul do país.
A empresa está animada porque
conseguiu vender mais cervejas e
refrigerantes mesmo com a crise.
Martins diz que no primeiro semestre deste ano as vendas da empresa, em volume, subiram 9,2%
em relação a igual período do ano
passado. "As marcas que agora fazem parte da AmBev cresceram
1,1% no período."
A Schincariol acha que vai dar
para faturar até US$ 400 milhões
neste ano. A meta da empresa é deter, até o final do ano, 12% das vendas de cervejas no país.
O publicitário Sérgio Amado,
presidente da Standard Ogilvy,
considera que as marcas menores
de cervejas vão crescer.
Até agora, diz, a disputa estava
muito concentrada entre Brahma e
Antarctica. "Agora os pequenos
vão poder negociar melhor com
bares, hotéis, restaurantes e supermercados, pois eles vão oferecer
opções para os consumidores."
Segundo ele, no mundo já é comum a briga de duas ou três grandes cervejarias com centenas de
outras marcas menores, que detêm
de 1% a 10% de participação no
mercado. "E essas pequenas continuam crescendo e conquistando
seu público."
Amado diz que as marcas regionais de cervejas vão ter de investir
mais em marketing e em pontos-de-venda para mostrar que são diferentes e têm qualidade.
"A guerra de preços travada entre Brahma e Antarctica era tão
grande que não sobrava para ninguém. Agora elas poderão vender
as cervejas por um preço mais justo. O que elas faziam era até vender
abaixo do custo para ganhar mercado."
Analistas de investimento que
acompanham o mercado de bebidas consideram que, num primeiro momento, as marcas da Brahma
e da Antarctica podem até perder
mercado.
Isso porque a união de duas empresas tão grandes é complexa. Resulta em mudanças de estrutura e
até em demissões. Eles acham que
não é fácil administrar esse processo de transição. As decisões poderão ser lentas, até porque a direção
da AmBev está sendo formada. Esse é o momento, acreditam, de as
marcas menores se mostrarem e
conquistarem o consumidor.
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