|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRIAÇÃO & CONSUMO
Cannes 99
FRANCESC PETIT
Para nós, publicitários, é muito importante frequentar esse
badalado Festival. A melhor
coisa é que o evento ocorre nessa
bela cidade da Riviera. O visitante fica embevecido com a
limpeza das ruas e o cuidado
com os canteiros e jardins que
existem ao longo das avenidas,
onde se misturam os perfumes
dos turistas ricos com o cheiro
da maresia; o contraste da cor
tênue dos edifícios e a elegância
das tamareiras que enfeitam o
passeio marítimo com a ostentação dos carrões de luxo circulando para cima e para baixo. É
definitivamente uma cidade feminina.
É claro que é preciso aproveitar o Festival de Sawa para conhecer melhor essa linda região
da Provence, uma das mais idílicas da Europa. Todo bom publicitário deve experimentar a
sensação de sentar à beira da estrada com um caderno de desenho e lápis na mão diante da
montanha de Saint Victoire,
imaginando como Cézanne,
Bonnard e Pissaro ficavam durante anos pintando e desenhando suas paisagens, tendo
sempre essa célebre montanha
ao fundo.
O Festival oferece muitas atrações. Uma das mais importantes
é a oportunidade de saborear a
fabulosa gastronomia francesa,
começando como aperitivo um
bom prato de ostras frescas de
"bouzignes", na região do Languedoc, ou mexilhões ao vapor,
acompanhados de um vinho
branco da casa.
Sem dúvida esse é um ponto
alto do Festival, a excelente
oportunidade de poder experimentar os divinos vinhos do
país por preços ao alcance do
seu bolso. Isso é cultura européia em forma de líquido.
Aproveite e dê uma paradinha
na romântica cidade de Grasse
para tomar um café em qualquer um dos bares da vila. Não
deixe de contemplar por alguns
minutos a vista dos Alpes marítimos.
Na volta, pare em Saint Paul
de Vance para visitar a Fundação Maeght, projetada pelo famoso arquiteto catalão José
Lluis Sert, e não deixe de fazer
uma "promenade" pelos jardins
do museu que Joan Miró costumava frequentar periodicamente, sentava por longas horas embaixo dos famosos pinheiros
mediterrâneos, puxava um
"crayon" do bolso e fazia alguns
desenhos de futuras esculturas.
Para os publicitários fanáticos
pelo Festival, recomendo uma
visita ao Museu Matisse, em Nice. Esse grande mestre francês é
de uma suavidade e criatividade que falta à maioria dos nossos colegas. Seu poder de invenção e seu sutil e elegante traço
fazem dele um artista imaculado. Como se costuma dizer, os
pequenos museus são sempre os
melhores, para a maioria dos
frequentadores do Festival. O
melhor são as tertúlias noturnas
no bar do Martinez, mas isso é
uma bobagem em que só acontecem fofocas.
Para o iluminado e mais criativo, vá dormir cedo para poder
contemplar o extraordinário
amanhecer da varanda do seu
quarto, ficar sentado lá boquiaberto pela beleza do mar mítico
que é o Mediterrâneo. Uma leve
bruma o torna ainda mais misterioso. Os barcos se cruzam como personagens vindos da história grega. Todos, num ritmo
lento e cadenciado, vão sumindo na bruma como fantasmas
marítimos. Quando o sol começa a brilhar, o mar fica todo prateado pelos reflexos da luz, as
águas desse mar mitológico
quase não se mexem, tranquilas, escondendo em suas profundezas toda a história da humanidade. Como descreveria Sommerset Maugham, com sua caneta, em algum de seus livros
que não escreveu. Sem sombra
de dúvida esse é o maior e mais
importante festival da propaganda. Volte sempre!
Francesc Petit, 64, publicitário, é sócio-diretor da DPZ Propaganda.
Texto Anterior: BR e Fittipaldi venderão gasolina nos EUA Próximo Texto: Luís Nassif: As firmas de cobrança Índice
|