São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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CRIAÇÃO & CONSUMO

Cannes 99

FRANCESC PETIT

Para nós, publicitários, é muito importante frequentar esse badalado Festival. A melhor coisa é que o evento ocorre nessa bela cidade da Riviera. O visitante fica embevecido com a limpeza das ruas e o cuidado com os canteiros e jardins que existem ao longo das avenidas, onde se misturam os perfumes dos turistas ricos com o cheiro da maresia; o contraste da cor tênue dos edifícios e a elegância das tamareiras que enfeitam o passeio marítimo com a ostentação dos carrões de luxo circulando para cima e para baixo. É definitivamente uma cidade feminina.
É claro que é preciso aproveitar o Festival de Sawa para conhecer melhor essa linda região da Provence, uma das mais idílicas da Europa. Todo bom publicitário deve experimentar a sensação de sentar à beira da estrada com um caderno de desenho e lápis na mão diante da montanha de Saint Victoire, imaginando como Cézanne, Bonnard e Pissaro ficavam durante anos pintando e desenhando suas paisagens, tendo sempre essa célebre montanha ao fundo.
O Festival oferece muitas atrações. Uma das mais importantes é a oportunidade de saborear a fabulosa gastronomia francesa, começando como aperitivo um bom prato de ostras frescas de "bouzignes", na região do Languedoc, ou mexilhões ao vapor, acompanhados de um vinho branco da casa.
Sem dúvida esse é um ponto alto do Festival, a excelente oportunidade de poder experimentar os divinos vinhos do país por preços ao alcance do seu bolso. Isso é cultura européia em forma de líquido.
Aproveite e dê uma paradinha na romântica cidade de Grasse para tomar um café em qualquer um dos bares da vila. Não deixe de contemplar por alguns minutos a vista dos Alpes marítimos.
Na volta, pare em Saint Paul de Vance para visitar a Fundação Maeght, projetada pelo famoso arquiteto catalão José Lluis Sert, e não deixe de fazer uma "promenade" pelos jardins do museu que Joan Miró costumava frequentar periodicamente, sentava por longas horas embaixo dos famosos pinheiros mediterrâneos, puxava um "crayon" do bolso e fazia alguns desenhos de futuras esculturas.
Para os publicitários fanáticos pelo Festival, recomendo uma visita ao Museu Matisse, em Nice. Esse grande mestre francês é de uma suavidade e criatividade que falta à maioria dos nossos colegas. Seu poder de invenção e seu sutil e elegante traço fazem dele um artista imaculado. Como se costuma dizer, os pequenos museus são sempre os melhores, para a maioria dos frequentadores do Festival. O melhor são as tertúlias noturnas no bar do Martinez, mas isso é uma bobagem em que só acontecem fofocas.
Para o iluminado e mais criativo, vá dormir cedo para poder contemplar o extraordinário amanhecer da varanda do seu quarto, ficar sentado lá boquiaberto pela beleza do mar mítico que é o Mediterrâneo. Uma leve bruma o torna ainda mais misterioso. Os barcos se cruzam como personagens vindos da história grega. Todos, num ritmo lento e cadenciado, vão sumindo na bruma como fantasmas marítimos. Quando o sol começa a brilhar, o mar fica todo prateado pelos reflexos da luz, as águas desse mar mitológico quase não se mexem, tranquilas, escondendo em suas profundezas toda a história da humanidade. Como descreveria Sommerset Maugham, com sua caneta, em algum de seus livros que não escreveu. Sem sombra de dúvida esse é o maior e mais importante festival da propaganda. Volte sempre!


Francesc Petit, 64, publicitário, é sócio-diretor da DPZ Propaganda.


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