São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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LUÍS NASSIF

As firmas de cobrança

Espremido por taxas de juros escorchantes, pela falta de liquidez na economia e pela queda de renda, os consumidores inadimplentes estão sendo alvo de processos de cobrança extremamente truculentos -a partir do momento em que as grandes empresas resolveram recorrer a empresas de cobrança especializadas. É o que se depreende o relato de ML, remetido à coluna.
O consumidor atrasou as prestações de janeiro e fevereiro deste ano, do financiamento contratado junto à financeira da General Motors. No começo de março, estabilizado o orçamento, ligou para a empresa M. L. Gomes e Associados, pedindo que fizessem o cálculo para quitar as prestações.
A pessoa que atendeu disse que ML devia quatro prestações, e não duas. O consumidor negou e remeteu fax no mesmo dia, comprovando os pagamentos efetuados, e solicitando o recálculo dos atrasados. A atendente negou-se a fazer os cálculos enquanto não fosse solucionada a pendência em relação aos demais meses.
No final de março, ML ligou novamente para a empresa de cobrança, sediada em Campinas. Lá informaram que as dúvidas persistiam e solicitaram o reenvio do fax. Novo fax foi enviado com os comprovantes.
No começo de junho, ML foi renovar o cheque especial do Banco do Brasil e não conseguiu. Descobriu que desde o dia 20 de maio carregava um Processo de Busca e Apreensão de Veículo, movido pela GM, em cima da falsa alegação de quatro prestações em atraso.
Nova ligação para a empresa de cobrança, questionando não apenas a cobrança indevida, mas o fato de o processo ter sido aberto sem que ele fosse informado. Depois de consultar o computador, a atendente informou que o aviso havia sido transmitido para uma empregada que trabalhava eventualmente na casa do consumidor. Foi solicitado, pela terceira vez, o envio do fax com a comprovação do pagamento das prestações de novembro e dezembro.
Alguns dias depois, ML ligou novamente para Campinas e lá informaram que a GM tinha entendido, finalmente, que ele devia apenas as duas prestações de janeiro e fevereiro. Foram feitos novos cálculos, com juros, correção, custas processuais e outros penduricalhos, com o consumidor pagando pelos erros das duas empresas e, a essa altura, sem crédito na praça. A atendente informou que a ação demoraria oito dias para ser suspensa, e o consumidor ter seu nome limpo.
No dia 23 de junho, no entanto, nova carta da GM, agora informando que teria 48 horas de prazo para pagar as prestações de março, abril e maio, sob pena de ser processado. No fax que já havia sido remetido duas vezes estavam os comprovantes dos pagamentos daqueles meses.
No dia 29 de junho, ML ligou novamente para a M. L. Gomes, pedindo o recálculo das prestações para conseguir, finalmente, quitar a dívida. Depois de obtido o valor, informou a atendente sobre a nova cobrança indevida que recebera. A mesma atendente pediu pela quarta vez um novo fax com todos os comprovantes de pagamento. ML informou que o anterior já tinha esses comprovantes. Só então foi informado que a atendente não havia recebido o fax completo. O fax de 16 folhas foi reenviado, e a atendente garantiu que a GM daria a resposta no dia seguinte. E que ML deveria aguardar a resposta, antes de efetuar o pagamento.
No dia seguinte, a atendente não ligou novamente, como havia combinado. Antes das 16h, ML fez o depósito em nome da M. L. Gomes, sem aguardar a resposta. Foi enviado fax para a empresa, com o comprovante do pagamento.
Ontem, o consumidor ficou sabendo de um novo protesto no valor de R$ 583,00 em cartório, novamente da GM. Desabafa o consumidor: "Se eles confirmaram que eu devia só duas e me cobraram essas duas, por que é que não tiraram o que está errado do cartório? Quer dizer que vou ter que pagar novamente uma prestação paga para poder ter direito ao nome limpo e poder trabalhar tranquilo? Será que não tem fim a quantidade de erros que eles cometem com o consumidor?".
O consumidor estará entrando na próxima semana com uma ação contra a empresa de cobrança e contra a financeira da montadora. Mas é uma pequena amostra do que está ocorrendo no mercado com milhares de inadimplentes, Seria importante que o Ministério da Justiça acordasse para esse processo.

E-mail: lnassif@uol.com.br


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