São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Gestores e representantes de fundos têm convivência difícil

DA REPORTAGEM LOCAL

Normalmente odiados pelos administradores das empresas compradas, os fundos de "private equities" costumam ser criticados por fazerem um trabalho rápido, frio, sem qualquer envolvimento com os antigos funcionários, baseados apenas em planilhas excel de avaliação, em que só importa o retorno do capital investido.
E o retorno compensa, pois chega a superar 40% ao ano no Brasil. O desempenho dos fundos é tão alto que os executivos de empresas saneadas são muitas vezes cobrados pelos acionistas a darem um lucro semelhante ao que os fundos de "private equities" conseguiam extrair dessas empresas.
"Conflitos você sempre terá entre investidores e gestores. Os gestores vêem o pessoal dos fundos como "mauricinhos", que chegam para cuidar das contas por quatro anos e depois saem se tudo der certo", disse Antonio Gledson de Carvalho, professor da FGV.
Gledson afirma que o conflito também acontece quando permanecem no negócio os antigos donos da empresa, que muitas vezes não costumam prestar contas de suas decisões para ninguém. "O dono está acostumado a mandar e não dar satisfação. Com os fundos, isso muda e assusta logo de cara. Mas depois a empresa aprende o valor da transparência e da governança", disse.
No Brasil, os fundos não chegam nas empresas derrubando toda a diretoria responsável pelo quadro deteriorado da contabilidade. "Mesmo quando compramos 100% de uma empresa, como aconteceu com a Brasif, sempre procuramos manter o presidente e a maior parte da estrutura existente", disse Patrice Etlin, do Advent.
"Afinal, investimos nas pessoas. Reforçamos mais a área financeira. Nosso papel é formalizar, trazer governança e preparar a empresa para a Bolsa."
Para o empresário Daniel Heisse, sócio da Direct Talk, empresa de tecnologia para call center, as diferenças entre os fundos e os empreendedores decorrem de um desalinhamento de visão no negócio.
A empresa tem quatro fundos entre os sócios -Rio Bravo, do ex-BC Gustavo Franco, DGF, CRP e e-plataform. "Os fundos geralmente têm dez negócios. Uns darão mais resultados do que os outros. Mas o empreendedor só tem um e aposta todas as fichas nele", disse.
Álvaro Gonçalves, da Stratus, chama a atenção para o papel dos fundos de consertar o que não funciona bem no capitalismo das empresas. "Os "private equities" têm essa função de depurar as empresas que perderam o foco, a competitividade e precisam de um novo impulso."


Texto Anterior: Novo ciclo de investimentos prevê negócios bilionários
Próximo Texto: Marcos Cintra: A esquecida classe média
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.