São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2007

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Estilo de Bernanke difere do de Greenspan

Presidente do BC dos Estados Unidos não se deixa influenciar por apelos do mercado, para que reduza a taxa de juros

Se o Fed decidir cortar os juros na reunião deste mês, no dia 18, não será pela crise do crédito, mas pela desaceleração da economia

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A atitude de "esperar para ver" do presidente do Federal Reserve (Fed) tem caracterizado um estilo diferente do de seu antecessor, Alan Greenspan, no banco central dos Estados Unidos. Aparentemente alheio à forte chiadeira nos Estados Unidos pela queda dos juros, Bernanke tem se mostrado bem menos pró-mercado. Mas o Fed pode vir a cortar os juros em sua reunião deste mês, não pela crise do crédito, mas pela desaceleração da economia.
Fosse em outras turbulências financeiras, o Fed logo teria mexido na taxa de juros. O clamor por uma ação urgente de Bernanke, no início da crise "subprime" (de hipotecas de alto risco), por parte de muitos analistas, que o consideravam lento e acadêmico demais, mostrou-se, até aqui, exagerado. As Bolsas de Valores e os mercados de crédito vêm se acalmando, ainda que não seja possível prever quando a volatilidade voltará para os níveis anteriores aos de julho.
É visível a tentativa de Bernanke de desinflar o problema, sem intervir demais, segundo economistas. "Bernanke esperou para ver o que está acontecendo. É brilhante. Os bancos centrais estão assoprando, agindo com uma categoria fora do comum", diz Paulo Tenani, chefe de pesquisa para a América Latina do UBS Pactual Wealth Management.
A mensagem do Fed é "não queremos uma crise de liquidez (...), mas não é nosso trabalho perdoar todos os pecados do passado e encorajar um comportamento descuidado no futuro. Conter a inflação é nossa preocupação principal", afirma um relatório da semana passada do Credit Suisse.
O Fed tem combatido o risco de falta de liquidez, sem beneficiar a especulação, afirma o consultor Luiz Antonio Vaz das Neves.
Os bancos nos EUA estavam evitando emprestar dinheiro para outros bancos, por não saberem quem estava carregando potenciais perdas com ativos relacionados à crise do crédito imobiliário. Passaram a cobrar taxa mais alta para recursos de curto prazo. O Fed decidiu, apenas no dia 17 de agosto, cerca de 20 dias após o começo das turbulências, diminuir a taxa de redesconto, ou seja, passou a dar liquidez, ao permitir que os bancos pegassem dinheiro a taxas mais baixas.
"Esse socorro do Fed, que deu liquidez através de operações de um dia, foi necessário para zerar os bancos que estavam em crise de confiança entre eles. Isso está sendo menos necessário agora, e, pelo menos nessas operações, a situação se normalizou", diz Hugo Penteado, economista do ABN.

Redução dos juros
Na reunião do próximo dia 18, o Fed deverá reduzir os juros por causa de dados ruins da economia, segundo Tenani.
"Já prevíamos, antes da crise, um corte de 0,25 ponto percentual neste mês e, em outubro, mais 0,25 ponto percentual. Depois, o Fed deve parar. É por causa da desaceleração da economia americana, não para salvar o sistema financeiro."
Para Vaz das Neves, a redução da taxa de juros, que, historicamente, ainda está em patamar baixo, poderia, num primeiro instante, alarmar ainda mais o mercado. "Atestaria a gravidade da situação. Nos últimos indicadores não se constatou a contaminação da economia como um todo, e, por essa razão, não acredito em redução neste mês."
Com o fim das férias, os mercados de ações deverão enfrentar mais um teste. Tradicionalmente, o mercado volta comprando.


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