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Estilo de Bernanke difere do de Greenspan
Presidente do BC dos Estados Unidos não se deixa influenciar por apelos do mercado, para que reduza a taxa de juros
Se o Fed decidir cortar os juros na reunião deste mês, no dia 18, não será pela
crise do crédito, mas pela desaceleração da economia
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A atitude de "esperar para
ver" do presidente do Federal
Reserve (Fed) tem caracterizado um estilo diferente do de seu
antecessor, Alan Greenspan,
no banco central dos Estados
Unidos. Aparentemente alheio
à forte chiadeira nos Estados
Unidos pela queda dos juros,
Bernanke tem se mostrado
bem menos pró-mercado. Mas
o Fed pode vir a cortar os juros
em sua reunião deste mês, não
pela crise do crédito, mas pela
desaceleração da economia.
Fosse em outras turbulências financeiras, o Fed logo teria mexido na taxa de juros. O
clamor por uma ação urgente
de Bernanke, no início da crise
"subprime" (de hipotecas de alto risco), por parte de muitos
analistas, que o consideravam
lento e acadêmico demais,
mostrou-se, até aqui, exagerado. As Bolsas de Valores e os
mercados de crédito vêm se
acalmando, ainda que não seja
possível prever quando a volatilidade voltará para os níveis
anteriores aos de julho.
É visível a tentativa de Bernanke de desinflar o problema,
sem intervir demais, segundo
economistas. "Bernanke esperou para ver o que está acontecendo. É brilhante. Os bancos
centrais estão assoprando,
agindo com uma categoria fora
do comum", diz Paulo Tenani,
chefe de pesquisa para a América Latina do UBS Pactual
Wealth Management.
A mensagem do Fed é "não
queremos uma crise de liquidez
(...), mas não é nosso trabalho
perdoar todos os pecados do
passado e encorajar um comportamento descuidado no futuro. Conter a inflação é nossa
preocupação principal", afirma
um relatório da semana passada do Credit Suisse.
O Fed tem combatido o risco
de falta de liquidez, sem beneficiar a especulação, afirma o
consultor Luiz Antonio Vaz das
Neves.
Os bancos nos EUA estavam
evitando emprestar dinheiro
para outros bancos, por não saberem quem estava carregando
potenciais perdas com ativos
relacionados à crise do crédito
imobiliário. Passaram a cobrar
taxa mais alta para recursos de
curto prazo. O Fed decidiu,
apenas no dia 17 de agosto, cerca de 20 dias após o começo das
turbulências, diminuir a taxa
de redesconto, ou seja, passou a
dar liquidez, ao permitir que os
bancos pegassem dinheiro a taxas mais baixas.
"Esse socorro do Fed, que
deu liquidez através de operações de um dia, foi necessário
para zerar os bancos que estavam em crise de confiança entre eles. Isso está sendo menos
necessário agora, e, pelo menos
nessas operações, a situação se
normalizou", diz Hugo Penteado, economista do ABN.
Redução dos juros
Na reunião do próximo dia
18, o Fed deverá reduzir os juros por causa de dados ruins da
economia, segundo Tenani.
"Já prevíamos, antes da crise,
um corte de 0,25 ponto percentual neste mês e, em outubro,
mais 0,25 ponto percentual.
Depois, o Fed deve parar. É por
causa da desaceleração da economia americana, não para salvar o sistema financeiro."
Para Vaz das Neves, a redução da taxa de juros, que, historicamente, ainda está em patamar baixo, poderia, num primeiro instante, alarmar ainda
mais o mercado. "Atestaria a
gravidade da situação. Nos últimos indicadores não se constatou a contaminação da economia como um todo, e, por essa
razão, não acredito em redução
neste mês."
Com o fim das férias, os mercados de ações deverão enfrentar mais um teste. Tradicionalmente, o mercado volta comprando.
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