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Bancos oficiais não diminuem o "spread"
Apesar da queda do juro, diferença entre a taxa que instituições cobram para emprestar e a que pagam ao captar recursos ficou "congelada"
Estudo mapeou valores para verba do FAT, que só pode ser emprestada por banco oficial; BNDES diz que iniciou queda, BB e CEF não comentaram
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na contramão do discurso do
governo, os bancos oficiais
"congelaram" o "spread" bancário na hora de emprestar os
recursos do FAT (Fundo de
Amparo ao Trabalhador) destinados a programas de geração
de emprego e renda.
Segundo o Codefat (Conselho Deliberativo do FAT), apesar da queda dos juros que vem
ocorrendo no país desde 2003,
o peso do "spread" na taxa final
cobrada das empresas pelos
bancos oficiais aumentou.
"Spread" é a diferença entre a
taxa que o banco cobra ao emprestar os recursos ao cliente e
a taxa que ele paga ao captar o
dinheiro no mercado. Desde o
primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclama dos altos "spreads" cobrados pelos bancos.
Neste ano, a previsão é que
R$ 19 bilhões do FAT sejam
destinados a programas para
geração de emprego e renda. A
legislação impede, no entanto,
que bancos privados operem
esses recursos. Os financiamentos só podem ser concedidos pelos bancos oficiais, como
Banco do Brasil, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e
Caixa Econômica Federal.
"Enquanto a Selic [taxa básica de juros] e a TJLP [Taxa de
Juros de Longo Prazo] estão
caindo, o custo dos empréstimos com recursos do FAT não
cai como esperado, porque o
"spread" não acompanha essa
queda. O espírito público dos
bancos oficiais deveria ser
maior, e eles deveriam abrir
mão de parte dessa remuneração", afirmou o presidente do
Codefat, Luiz Fernando Emediato, ligado à Força Sindical.
Um estudo elaborado pela
área técnica do conselho mostra que, desde setembro de
2003, a Selic e a TJLP registraram sucessivas quedas. No
mesmo período, em praticamente todas as linhas de crédito do FAT, o "spread" bancário
foi mantido.
"Dessa forma, o peso do
"spread" bancário na composição dos juros para o tomador final tem aumento de forma considerável desde meados de 2003", afirma o estudo. De
acordo com os técnicos, nas
operações com taxa prefixada,
como há uma trajetória de queda dos juros e a taxa para o tomador final já está acertada, há,
na prática, um aumento automático do "spread" por parte
do banco.
Já nas operações pós-fixadas,
o tomador final acaba sendo
beneficiado pela queda dos juros. Mas o "spread" cobrado pela instituição é mantido. Nesse
caso, o que aumenta é o peso do
"spread" na composição da taxa cobrada na ponta, impedindo que o dinheiro chegue mais
em conta para a empresa.
O Proger Urbano-Investimento -carro-chefe dos programas do FAT-, por exemplo,
tem "spread" congelado em
5,35% desde 2003. Daquele ano
até outubro do ano passado,
mostra o estudo, a TJLP -que
é a taxa que remunera os financiamentos com dinheiro do
FAT- passou de 12% (setembro de 2003) para 6,85% (outubro de 2006). A taxa final para a
empresa caiu de 16% para 12%.
Monopólio
Para o Codefat, um dos motivos para o "congelamento" dos
"spreads" é a falta de concorrência entre os bancos para
emprestar o dinheiro do fundo.
Embora haja um pleito dos
bancos privados para entrar
nesse mercado, apenas os bancos oficiais estão autorizados
por lei a operar o dinheiro do
fundo do trabalhador.
O argumento para defender o
"monopólio" é que, havendo
problemas de solvência nos
bancos oficiais, o Tesouro Nacional, em última instância, cobriria o rombo e evitaria, assim,
um prejuízo para o fundo. Nos
bancos privados, isso não ocorreria, e o FAT poderia ser descapitalizado.
Além disso, explica Emediato, o "spread" cobrado nas operações do FAT tem um teto definido em resoluções do próprio Codefat. "Os bancos poderiam cobrar abaixo desse teto,
mas, em se tratando de bancos,
isso não acontece", afirmou.
"Por isso, vou propor ao conselho que a gente reveja as resoluções e chame os bancos para
negociar", completa.
O presidente do conselho
acrescentou que essa negociação também poderá incluir tarifas cobradas pelas instituições, como a TAC (Tarifa de
Abertura de Crédito).
Outro lado
O diretor financeiro do
BNDES, Maurício Borges Lemos, afirmou que nos últimos
anos a participação do banco
nos programas de geração de
emprego e renda do FAT vem
caindo. "O nosso "spread" vem
sendo reduzido desde 2004.
Mas, como nossa participação
nos programas diminuiu, afetou pouco o "spread" médio."
Em geral, argumenta o
BNDES, o banco apresenta
"spreads" mais baixos que as
demais instituições oficiais.
Procurados, o BB e a Caixa não
se manifestaram sobre o estudo até o fechamento da edição.
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