São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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ILUSÃO DE ÓTICA

Empresas deixam de remeter US$ 6,6 bi; investimentos cobrem 43% da necessidade externa de financiamento

Conversão de dívida em investimento direto conteve dólar

DA REPORTAGEM LOCAL

A conversão de dívida em investimento pelas empresas, embora infle de forma artificial a conta de investimento estrangeiro direto neste ano, é considerada positiva para o balanço de pagamentos brasileiro.
"Não é só manobra contábil, pois ela reduz as saídas futuras de recursos para pagamento de juros e dá um alívio para os próximos anos", diz Alexandre Maia, analista da GAP Asset Management.
Outra vantagem, do ponto de vista macroeconômico, é que essas operações aliviaram a pressão sobre o câmbio. Segundo analistas, se as empresas locais tivessem remetido ao exterior os US$ 6,6 bilhões que foram convertidos em investimento, o dólar teria superado o pico dos R$ 4 em que esbarrou em outubro. "Embora seja um dado contábil, é positivo", afirma Fernando Barboza, economista do BBV Banco.
Na sua opinião, apesar de toda a crise que o país viveu neste ano, "as empresas internacionais mostraram que confiam nos fundamentos da economia. Se passaram de credoras a investidoras é porque viram que o Brasil não vai quebrar", diz Barboza.

Inchaço
Estudo do BBV mostra que apesar do inchaço da conta de investimento estrangeiro direto, o financiamento do déficit em conta corrente não foi comprometido.
Segundo o banco, se for considerado apenas o investimento "genuíno", expurgada a conversão de dívida, o investimento estrangeiro direto responde por 43% das necessidades totais de recursos externos do país, próximo da média registrada desde 1995. Só está abaixo do pico da série analisada pelo banco, dezembro de 2000, quando correspondia a 58% dessas necessidades.
Vale lembrar, entretanto, que as necessidades totais de financiamento externo são hoje US$ 33,5 bilhões inferiores às observadas em dezembro de 2000.
Para as empresas, os analistas dizem que essas operações deram fôlego para enfrentar o próximo ano. Mas em alguns casos não foi suficiente. A Light depois de receber, em abril, um empréstimo de US$ 1 bilhão da matriz para quitar dívidas, transformado em aporte de capital, anunciou na sexta-feira um novo aporte da estatal francesa EDF, no valor de 205 milhões.
Os novos recursos, segundo analistas do setor, destinam-se ao pagamento US$ 250 milhões em dívidas que vencem até junho do ano que vem. O problema da empresa, segundo um analista do setor, é que o aporte de US$ 1 bilhão feito no início do ano foi convertido em reais e acabou corroído pela desvalorização cambial.
Segundo esse analista, a empresa teria feito hedge (proteção) parcial, devido ao custo elevado desse tipo de operação. Procurada pela Folha, a empresa não se manifestou. (SANDRA BALBI)


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