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Lula obrigou Petrobras a ceder, indica documento
Estatal era contra assinatura de compromisso com a Aneel de priorizar gás para usinas
Em correspondência, presidente da empresa diz que seguiu "missão" dada por Lula, "apesar de possíveis questionamentos legais"
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Pressão direta do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva obrigou a Petrobras a assinar termo
de compromisso com a Aneel
(Agência Nacional de Energia
Elétrica) e ceder gás para as usinas termelétricas, indicam correspondências às quais a Folha
teve acesso.
A necessidade de cumprir esse compromisso provocou nesta semana a redução de 17% no
fornecimento de gás a distribuidoras estaduais do Rio e de
São Paulo e provocou prejuízos
a indústrias e a proprietários
de veículos movidos a gás.
Carta enviada em 10 de maio
pelo presidente da estatal, José
Sérgio Gabrielli, para o então
ministro de Minas e Energia
Silas Rondeau mostra que a
empresa agiu contrariada,
atendendo a determinação do
presidente. "Apesar de possíveis questionamentos sobre as
obrigações legais e contratuais
da empresa de garantir esta
disponibilidade adicional de
energia, a Petrobras está plenamente empenhada em cumprir
os compromissos assumidos
no termo, atendendo a missão
atribuída pelo senhor presidente da República", afirma
trecho da correspondência.
A decisão sobre a assinatura
do termo foi tomada em reunião no dia 19 de abril com a
presença do presidente Lula e
da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Segundo o relato de um dos
participantes da reunião, a estatal assinou o documento sob
a pressão do presidente Lula,
que chegou a dizer que o presidente Fernando Henrique Cardoso teve o apagão porque foi
mal informado por assessores e
que estava presente ao encontro para evitar que a situação se
repetisse.
Cumprindo regras da Aneel
(Agência Nacional de Energia
Elétrica), o ONS (Operador Nacional do Sistema) determinou
a entrada das térmicas para
poupar os reservatórios das hidrelétricas.
A Petrobras é a responsável
por fornecer o gás necessário
para a entrada em operação das
térmicas. Com isso, decidiu limitar o volume de gás entregue
às distribuidoras ao montante
previsto em contrato e destinar
o restante para a geração de
energia.
Na correspondência, o governo já mostrava, em abril
deste ano, preocupação com o
abastecimento no período de
2008 a 2010.
Em carta a Gabrielli, o então
ministro Silas Rondeau afirma
que "o período compreendido
entre 2008 e 2010 representa
um grande desafio para as
áreas de planejamento, operação e monitoramento energético, principalmente no âmbito
do setor de energia elétrica".
O ex-ministro destaca que o
país se tornará mais dependente da geração termelétrica para
complementar a matriz energética e que a oferta de gás natural será "fundamental" para
definir os parâmetros de atendimento à demanda.
As correspondências obtidas
pela Folha -envolvendo a cúpula da Petrobras e dos ministérios da Casa Civil e Minas e
Energia- mostram o processo
que terminou com a substituição do então diretor da área de
Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, por Graça Foster,
apadrinhada da ministra Dilma
Rousseff. A Folha não conseguiu ontem contato com a assessoria da Presidência, da Casa Civil e da Petrobras, em razão do feriado.
Em carta enviada a Rondeau
no dia 29 de março, antes da assinatura do termo, no dia 4 de
maio, Ildo Sauer afirmou que a
Petrobras entendia que sua
obrigação de fornecimento de
gás ou de outro combustível
restringia-se ao necessário para o atendimento de contratos
firmes de gás para térmicas de
terceiros e dos contratos de
venda de energia.
O ex-diretor dizia que uma
reserva de geração de cerca de
3 GW, sem contrato de venda
de energia, significaria prejuízo
anual de US$ 1,5 bilhão à Petrobras e de cerca de US$ 500 milhões para outros setores da
economia. Sauer apontava que
a sociedade seria penalizada
porque voltaria a consumir
combustíveis mais caros e de
maior impacto ambiental.
A estatal sugeria a antecipação de usinas a óleo combustível e a construção de novas usinas remuneradas como reservas de geração. O imbróglio entre a estatal e a Aneel era um
dos atritos entre Sauer e Rousseff, que é presidente do Conselho de Administração da Petrobras e conduziu a reformulação do novo modelo do setor.
No início de agosto, a Petrobras enviou carta ao diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman,
pedindo que eventuais divergências sobre o entendimento
do termo não fossem divulgadas à imprensa porque poderiam "ocasionar danos à imagem da Petrobras".
A estatal, que não havia cumprido o termo que assinara
com a Aneel, pediu que a data
de aplicação de multas fosse
postergada para o dia 1º de outubro e alegava que o motivo
para o não cumprimento do
termo era resultado de orientação da Presidência da República.
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