São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Sinal vermelho para o PIB


Indústria encolhe muito em outubro; economistas erram estimativas, mas prevêem PIB negativo no final de ano

ONTEM FOI dia de "barata-voa" nas consultorias econômicas, que na maioria chutaram o pênalti para a lateral com suas previsões para o desempenho da indústria em outubro. Poucas, como a MBA e a LCA, acertaram o alvo. De pronto, reviram estimativas. Na média das boas previsões, o PIB cai 0,5% no final do ano, contra o terceiro trimestre. Se assim for, o PIB do ano fica ainda entre 5,1% e 5,2%, o que politicamente não pega tão mal.
Mas a "sensação térmica" da economia terá piorado bem. Na estimativa média do mercado, a indústria ficaria estagnada de setembro para outubro, também a previsão do Ipea. Muita gente boa achava que a indústria cresceria 0,5%. Caiu 1,7%. Erraram feio porque o mundo mudou muito em setembro e outubro, o que estoura modelos e métodos de previsão.
Normal. O problema é confiar demais em estimativas e fazer delas fundamento imperativo de decisões, como faz o mercadismo. Como os dados de setembro e outubro estão estremecidos pelo ambiente de choque e pavor na economia mundial, não dá para dizer ainda, apenas com base na Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, que o caldo da economia entornou, como alertam estatísticos e economistas do instituto. Mas o entorno dos números prévios não é muito animador, embora não desastroso.
O Banco Real tem um indicador nacional de percepção da atividade industrial, o PMI, quase idêntico ao ISM americano. Perguntam a cerca de 450 executivos da indústria se a atividade de suas empresas está em alta, na mesma ou em baixa, sob vários aspectos (produção, novos pedidos, emprego etc.). O PMI do Real de novembro saiu anteontem e foi péssimo. Registrou contração de novo, em 41,6% (abaixo de 50%, a indústria deve estar encolhendo); em outubro, registrara 45,7%.
O índice de novos pedidos e de produção caiu menos de outubro para novembro do que havia caído de setembro para outubro, mas caiu bem. Para 33% dos executivos, os novos pedidos estavam em baixa, em novembro (em junho, eram apenas 16%; em outubro, 29%). Só viram pedidos em alta 7% (em junho, 20%; em outubro, 11,6%).
O PMI é uma série nova e curta.
Não dá bem para saber o quanto antecipa o desempenho da indústria, embora tenha cara de indicar a tendência trimestral (a média móvel trimestral, a média dos três meses encerrados no mês avaliado, inclusive). O resultado da média móvel trimestral de outubro foi negativo, menos 0,6%, na pesquisa do IBGE. A julgar pelo PMI, deve ser pior em novembro. A venda de carros mês passado não foi nada animadora.
Muito ruim foi o desempenho da produção de bens duráveis (carros, motos, eletrodomésticos etc.), que caiu 4,7% em relação a setembro. Os empresários anteciparam muito rapidamente o choque no crédito ao consumidor e de confiança. Como não houve, óbvio, tombo na renda, estão tão assustados como o consumidor, que derrubou em outubro e novembro as vendas de carros. Aliás, os consumidores estão também escorchados pela alta de juros e por financiamentos curtos. Não vai adiantar Lula pregar o consumo ou gastar mais. Os juros vão ter de cair.
Se o dólar não estourar a inflação.

vinit@uol.com.br


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