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LUÍS NASSIF
O BNDES e a tradição setorial
A proposta do provável
novo presidente do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, de retorno do banco ao
modelo original deve ser bem
pesada e é adequada à visão de
planejamento estratégico que
deve nortear o novo governo.
É importante que se não se
confunda essa posição com a visão dos anos 80, pela qual o banco se sobrepôs ao mercado e induziu empresas a investimentos
megalomaníacos. Nem que se
joguem por água abaixo os
avanços obtidos pela instituição
nos últimos anos.
A nova visão de mercado trouxe avanços significativos, entre
os quais a engenharia financeira permitindo trazer recursos do
exterior. A participação nos programas de privatização trouxe
competência para análise de
projetos importantes -por
exemplo, para ajudar na definição dos programas prioritários
ao "Avança Brasil".
Houve avanços significativos
na parte social do banco, através
dos trabalhos pioneiros de Paulo
Hartung e de Beatriz Azeredo.
Nos últimos tempos, depois de
várias tentativas infrutíferas de
atingir pequenas e médias empresas, foi criado programa promissor de descentralização das
atividades do banco, através de
parcerias com federações e centros de indústria estaduais.
Por outro lado, e aí Lessa tem
toda razão, perdeu-se a tradição
de análise setorial que sempre
marcou a atuação do banco. Inclusive caberia a ele ter pensado
a privatização de maneira sistêmica, analisando modelos mais
adequados. Essa falta de visão
estratégica da privatização atrasou por anos a consolidação da
siderurgia e da petroquímica.
Em certo momento do governo
Fernando Henrique Cardoso,
um grupo de membros do governo, capitaneado pelo secretário
de Política Econômica José Roberto Mendonça de Barros, tentou implantar o conceito de
"adensamento da cadeia produtiva", maneira moderna de pensar a questão setorial. Ou seja,
um setor deve ser visto pelas empresas que o compõem e por todos os fornecedores e compradores, assim como pelos respectivos
ambientes econômicos.
A divulgação escandalosa do
episódio do "grampo do
BNDES" matou a iniciativa.
Aliás, um dia será feita avaliação isenta sobre o custo para o
país daquele episódio, um divisor de águas que expulsou os
derradeiros quadros criativos do
governo FHC.
Não cabe ao banco formular
política de desenvolvimento, como pretende Lessa, prerrogativa
de instância maior, da própria
Presidência da República, através da reformulada Secretaria
de Comunicação de Governo e
Gestão Estratégica da Presidência. Mas o banco, certamente, terá papel central nos estudos setoriais, assim como na formulação da política de investimentos
privados e como fonte de idéias
que se contraponha a essa macroeconomismo obsessivo que
emburreceu a discussão nacional nos últimos anos. Inclusive
participando mais intensamente, como sugere Lessa, do trabalho de integração da infra-estrutura do Mercosul, a parte mais
objetiva da geopolítica do país
para o continente.
Para tanto, há que fugir às armadilhas que comprometeram
a imagem do BNDES como banco de desenvolvimento. Há que
ter abertura para as novas formas de desenvolvimento, para
não se fixar em uma prioridade
única e para consolidar um conjunto de ações destinadas a dar
musculatura à economia brasileira, entre as quais a já enfatizada prioridade ao comércio exterior, a consolidação de multinacionais brasileiras e a articulação de pequenas e médias empresas em torno de projetos consorciados.
Popstars e exportação
A proposta do ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, de
utilizar as estrelas nacionais para difundir a imagem do país lá
fora é tão óbvia que irrita que
não tenha sido implementada
anteriormente. Na Copa do
Mundo, a exposição dos jogadores brasileiros, se transformada
em minutos de veiculação, custaria bilhões de dólares. Não se
aproveitou nem um minuto sequer para colocar na camisa canarinho um "made in Brazil".
E-mail: lnassif@uol.com.br
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