São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

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LUÍS NASSIF

O BNDES e a tradição setorial

A proposta do provável novo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, de retorno do banco ao modelo original deve ser bem pesada e é adequada à visão de planejamento estratégico que deve nortear o novo governo.
É importante que se não se confunda essa posição com a visão dos anos 80, pela qual o banco se sobrepôs ao mercado e induziu empresas a investimentos megalomaníacos. Nem que se joguem por água abaixo os avanços obtidos pela instituição nos últimos anos.
A nova visão de mercado trouxe avanços significativos, entre os quais a engenharia financeira permitindo trazer recursos do exterior. A participação nos programas de privatização trouxe competência para análise de projetos importantes -por exemplo, para ajudar na definição dos programas prioritários ao "Avança Brasil".
Houve avanços significativos na parte social do banco, através dos trabalhos pioneiros de Paulo Hartung e de Beatriz Azeredo. Nos últimos tempos, depois de várias tentativas infrutíferas de atingir pequenas e médias empresas, foi criado programa promissor de descentralização das atividades do banco, através de parcerias com federações e centros de indústria estaduais.
Por outro lado, e aí Lessa tem toda razão, perdeu-se a tradição de análise setorial que sempre marcou a atuação do banco. Inclusive caberia a ele ter pensado a privatização de maneira sistêmica, analisando modelos mais adequados. Essa falta de visão estratégica da privatização atrasou por anos a consolidação da siderurgia e da petroquímica.
Em certo momento do governo Fernando Henrique Cardoso, um grupo de membros do governo, capitaneado pelo secretário de Política Econômica José Roberto Mendonça de Barros, tentou implantar o conceito de "adensamento da cadeia produtiva", maneira moderna de pensar a questão setorial. Ou seja, um setor deve ser visto pelas empresas que o compõem e por todos os fornecedores e compradores, assim como pelos respectivos ambientes econômicos.
A divulgação escandalosa do episódio do "grampo do BNDES" matou a iniciativa. Aliás, um dia será feita avaliação isenta sobre o custo para o país daquele episódio, um divisor de águas que expulsou os derradeiros quadros criativos do governo FHC.
Não cabe ao banco formular política de desenvolvimento, como pretende Lessa, prerrogativa de instância maior, da própria Presidência da República, através da reformulada Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência. Mas o banco, certamente, terá papel central nos estudos setoriais, assim como na formulação da política de investimentos privados e como fonte de idéias que se contraponha a essa macroeconomismo obsessivo que emburreceu a discussão nacional nos últimos anos. Inclusive participando mais intensamente, como sugere Lessa, do trabalho de integração da infra-estrutura do Mercosul, a parte mais objetiva da geopolítica do país para o continente.
Para tanto, há que fugir às armadilhas que comprometeram a imagem do BNDES como banco de desenvolvimento. Há que ter abertura para as novas formas de desenvolvimento, para não se fixar em uma prioridade única e para consolidar um conjunto de ações destinadas a dar musculatura à economia brasileira, entre as quais a já enfatizada prioridade ao comércio exterior, a consolidação de multinacionais brasileiras e a articulação de pequenas e médias empresas em torno de projetos consorciados.

Popstars e exportação
A proposta do ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, de utilizar as estrelas nacionais para difundir a imagem do país lá fora é tão óbvia que irrita que não tenha sido implementada anteriormente. Na Copa do Mundo, a exposição dos jogadores brasileiros, se transformada em minutos de veiculação, custaria bilhões de dólares. Não se aproveitou nem um minuto sequer para colocar na camisa canarinho um "made in Brazil".

E-mail: lnassif@uol.com.br


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