São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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GADO DOENTE

Austrália deve suprir melhores mercados compradores de carne

Ganho com vaca louca nos EUA poderá ser pequeno

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Os ganhos do Brasil com a ocorrência do primeiro caso de vaca louca nos Estados Unidos poderão não ser tão grandes como se previu inicialmente. A única unanimidade entre os analistas do setor é que é arriscado fazer qualquer tentativa de se estimar ganhos neste momento.
A atitude do consumidor norte-americano a partir desse episódio e o potencial da Austrália em substituir os Estados Unidos no mercado externo serão preponderantes para o avanço da participação brasileira no cenário internacional. O Brasil não deverá ganhar grandes mercados onde a carne bovina é bem remunerada, como Japão e Coréia do Sul.
"Não há o que comemorar", diz Marcus Vinicius Pratini de Moraes, ex-ministro da Agricultura e presidente da Abiec (Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes). Ao contrário, esse episódio serve de alerta a toda a cadeia produtiva da carne brasileira para aumentar os investimentos em vigilância sanitária.
O ex-ministro diz que não haverá explosão nas exportações brasileiras devido ao problema na carne norte-americana.
Para Pedro Camargo Neto, os ganhos imediatos serão pequenos. Fundador do Fundepec (Fundo de Desenvolvimento da Pecuária de São Paulo) e ex-secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura nos anos de 2001 e 2002, Camargo diz que é difícil quantificar esse possível avanço brasileiro no mercado externo.
Outro especialista no setor de carnes, José Vicente Ferraz, diz que o Brasil será beneficiado, mas depende do grau de pânico que a vaca louca vai provocar no consumidor norte-americano.
Analista de carne bovina da FNP Consultoria & Agroinformativos, Ferraz diz que o cenário mais viável é o de a Austrália substituir os Estados Unidos nas exportações para o Japão e a Coréia do Sul.

Austrália
Devido à seca dos últimos anos, no entanto, os australianos não têm capacidade para atender novos países. Com isso, deixariam parte dos mercados da União Européia, do Leste Europeu, do Oriente Médio e ainda parte do asiático para o Brasil.
Mas, se houver forte queda do consumo nos Estados Unidos, os australianos -grandes exportadores para os norte-americanos- vão transferir essa carne para o Japão e a Coréia do Sul, sobrando pouco para os brasileiros.
Em 2002, a Austrália exportou 386 mil toneladas de carne bovina para os Estados Unidos. No ano passado, o volume ficou próximo de 350 mil toneladas.
Mas, se a curto prazo as perspectivas não são tão boas, o mesmo não ocorre a médio e longo prazos. Os japoneses e sul-coreanos correm sério perigo de abastecimento porque dependem apenas da carne dos EUA e terão de rever a política de não importar carne brasileira.
O mercado de carne é unânime em afirmar que, quanto menor for o efeito do caso de gado com vaca louca nos Estados Unidos, melhor será para o comércio de carne bovina internacional. "Um caso prolongado e que não se resolva nos Estados Unidos será ruim até para o Brasil porque haverá desconfiança com a carne bovina", diz Camargo Neto.
Pratini diz que esse é o momento de o Brasil acrescentar preços ao produto nacional. Em 1999, a carne brasileira era exportada para 40 países. Em 2003, atingiu 114 nações.
A partir de agora o país não precisa de grandes volumes, mas de preços. A venda de cortes especiais e embalados pode gerar preços e emprego para o país, acrescenta o presidente da Abiec.

Alerta
O caso da vaca louca nos Estados Unidos colocou o setor brasileiro em estado de alerta. Todos são unânimes em dizer que vigilância sanitária e qualidade do produto são indispensáveis.
Camargo Neto diz que a rastreabilidade atual não garante a qualidade da carne. É preciso se certificar de que as fazendas tenham critérios adequados de segurança.
Segurança animal é um item tão sério que será o carro-chefe da Secretaria de Agricultura paulista neste ano, diz o secretário Duarte Nogueira.
Pelo menos 71% da carne bovina exportada pelo Brasil sai de São Paulo, o que levou Nogueira a encaminhar ao governador Geraldo Alckmin pedido de abertura de concurso para a ampliação do número de médicos veterinários.



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