São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2001

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

China e Brasil voltam a atrair investimento global

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O clima está pesado nos EUA por conta do medo da recessão. Férias forçadas e perda de benefícios pipocam em todos os setores. "Startup" (empresa nova que aposta em tecnologias emergentes) já é quase sinônimo de palavrão. Ainda assim, o garimpo de filões empresariais promissores continua de vento em popa entre analistas.
A garimpagem ocorre em duas frentes: na própria economia norte-americana e na economia mundial. A revista "Red Herring", especializada em negócios de alta tecnologia, dá vários exemplos nas duas frentes (www.redherring.com). Nos EUA, setores de ponta fazem rápidos ajustes nos seus modelos de produção. Um exemplo é o "outsourcing" (terceirização) no setor de eletrônica.
As empresas transferem as atividades de montagem para terceiros (as EMS ou companhias de "electronic manufacturing service"). Empresas como Ericsson e Nokia reduzem custos para enfrentar o desaquecimento da economia por meio de contratos que beneficiam as empresas de EMS. Ao menos em tese, as duas pontas saem ganhando, pois quem terceiriza reduz custos e quem recebe as novas encomendas torna-se fornecedor em escalas crescentes.
Para alguns analistas, isso pode significar que, ao contrário das "startups", outros grupos de empresas de alta tecnologia podem até sair mais fortes do ajuste recessivo. Eles já recomendam a compra de ações dessas empresas, envolvidas em processes de reengenharia de seus processos produtivos.
Na prática, há uma redução ou cancelamento de investimentos em novas fábricas, pois os fabricantes de equipamentos montam os novos sistemas por meio da contratação de terceiros.
Ou seja, é um ajuste que pode até piorar as tendências recessivas da economia como um todo, mas que favorece algumas empresas e oferece oportunidades de ganho para os investidores que, no mercado acionário, consigam identificar essas empresas com agilidade para se reorganizar e continuar inovando.
De outro lado, como já previa no início do século o mais célebre economista da inovação tecnológica, Joseph A. Schumpeter, o capitalismo confirma a tendência de concentração do poder econômico e apropriação da inovação pelas grandes empresas, apesar de no início a dinâmica ter sido maior em "startups" menores. Na hora da crise, saem fortalecidas as empresas capazes de ampliar suas escalas e reduzir custos sem sacrificar sua capacidade de lançar produtos e tecnologias inovadoras.
Já no plano internacional as análises favorecem países como a China e o Brasil que, num momento de desaquecimento no centro da economia mundial, ainda oferecem mercados cujas possibilidades de crescimento atraem os investidores.
No caso de setores de alta tecnologia, os mercados emergentes continuam associados a taxas de retorno mais elevadas. Claro que uma forte recessão nos EUA levaria de cambulhada emergentes de todos os portes e latitudes. Mas um pouso suave pode tornar os investimentos de novo interessantes na periferia emergente.
A "Red Herring" cita China e Brasil como candidatos a avançar entre as preferências de investidores e empresas de alta tecnologia nos próximos anos.
No caso brasileiro, a perspectiva de consolidação do mercado de telecomunicações é vista como uma senha para a entrada de mais investimentos externos.
O importante, nesse contexto, é o governo não atrapalhar, sacrificando o crescimento com uma política de juros altos demais.



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