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OPINIÃO ECONÔMICA
Desemprego zero
BENJAMIN STEINBRUCH
A primeira pesquisa sobre o
governo Lula mostrou que a
nova administração tem 83,6%
de aprovação popular. Não devemos nos iludir com esses números.
Fernando Henrique, Itamar
Franco e até Fernando Collor
também tinham índices muito altos no fim do primeiro mês, superiores a 70%, embora nenhum tivesse atingido a marca de Lula.
Um item da pesquisa, que passou meio despercebido, revelou
que a reforma mais urgente, para
a população, é a trabalhista, com
44,9%. Ganhou de lavada de outras reformas, como a previdenciária (11,2%) e a tributária
(10,3%). É fácil explicar por quê: a
população identifica a reforma
trabalhista como aquela que
mais poderá contribuir para atenuar o problema angustiante do
desemprego.
Não está errada a percepção popular. A mudança da legislação
do trabalho ajudará a criar empregos, desde que reduza encargos e liberalize as relações entre
empregado e empregador. Mas
seus efeitos serão sentidos a médio e longo prazo. Primeiro porque o projeto dificilmente receberá aprovação do Congresso em
menos de um ano. Segundo porque, mesmo que fosse votado rapidamente, seus efeitos se dariam
ao longo dos próximos anos.
O índice de desemprego médio
em São Paulo atingiu 19% em
2002. A situação é aflitiva. Não dá
para esperar até que ela seja melhorada pelo reaquecimento da
economia, que será lento. Por isso, com o Fome Zero, o programa
de emprego precisa fazer parte da
agenda de emergência do governo.
Ao assumir a Presidência dos
EUA, em 1933, Franklin Delano
Roosevelt pôs em prática imediatamente um conjunto de ações
para enfrentar o desemprego. Os
EUA viviam a Grande Depressão,
muito mais grave do que a atual
crise brasileira, evidentemente.
Com seu New Deal, Roosevelt
mostrou ao mundo que era possível adotar medidas simples e práticas de efeito imediato para criar
empregos.
Primeiro Roosevelt lançou um
plano assistencialista, semelhante
ao Fome Zero, mas logo percebeu
que as pessoas não queriam vales
para alimentação, mas empregos.
Traçou então um plano de obras
públicas, financiadas pelo governo, para execução descentralizada em todo o país. Em menos de
seis meses, já havia dado emprego
a 4 milhões de americanos em
quase 200 mil pequenos projetos.
Em seus três mandatos, Roosevelt
alterou várias vezes o modelo,
mas persistiu na idéia inicial até
1943, quando o programa de emprego já não era necessário, porque o esforço de guerra proporcionava ocupação plena aos americanos.
Roosevelt foi duramente criticado pela gastança que promoveu e
pelo déficit público que criou. No
Brasil de hoje, é impensável tentar reproduzir um programa literalmente ao estilo Roosevelt. Estrangulado pelo endividamento e
pelo desequilíbrio das contas externas, o país não tem condição
de produzir déficit. Mas a idéia de
promover obras civis com remanejamento de recursos públicos e
com fundos privados é factível.
Sempre é possível priorizar verbas
e chamar a iniciativa privada para colaborar em planos que absorvam mão-de-obra e gerem
crescimento.
Lula é um fenômeno de popularidade no país e até no exterior.
Pode usar esse capital político para chamar a sociedade e os parceiros externos para um programa urgente de absorção de mão-de-obra. Programas de habitação
popular, de reconstrução de rodovias destroçadas, de ampliação
do saneamento ou mesmo de incentivo ao turismo não podem estar fora da agenda de emergência. Esses setores, altamente absorvedores de mão-de-obra, são
alguns dos que mais clamam por
melhorias imediatas.
Em 1943, quando os programas
de Roosevelt foram encerrados,
ele havia dado trabalho a 9 milhões de pessoas, com gastos de
US$ 11 bilhões. Para a sociedade
americana, ficaram 120 mil edifícios públicos, 1 milhão de quilômetros de estradas, 80 mil pontes,
8.000 parques e 800 aeroportos,
construídos pela força de trabalho até então marginalizada. Para Roosevelt, a despeito das severas críticas que sempre sofreu, a
história reservou o título de um
dos maiores estadistas do século
20.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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