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APERTO
Enquanto bancos têm retorno de 25,7% sobre o patrimônio em 2002, grupo não-financeiro fica no negativo em 13%
Juros derrubam rentabilidade das empresas
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
De 22 setores da economia brasileira, só 5 conseguiram em 2002
uma rentabilidade superior aos
18% pagos pelo CDI (Certificado
de Depósito Interbancário).
Um setor (seguradora) teve lucro líquido em relação ao patrimônio de 14,2%. Dezesseis setores pesquisados tiveram rentabilidade (grau de rendimento proporcionado por um investimento) inferior a 10% no ano. Outros
dez registraram porcentagem de
prejuízo, e não lucro, em relação
ao investimento total.
De acordo com o levantamento,
enquanto os bancos registraram
uma rentabilidade de 25,7% no
ano passado, as empresas não-financeiras apresentaram índice
negativo de 13,1%.
A pesquisa foi feita pela consultoria Austin Asis com base no balanço de 2002 divulgado por 207
empresas representantes de diferentes 22 setores. O resultado demonstra que, se muitas empresas
tivessem aplicado seu capital em
títulos públicos (CDIs) e especulado com a taxa de juros, certamente teriam tido um ganho muito superior àquele que obtiveram
com seu negócio.
O campeão de retorno no ano
passado foi o setor de cigarros,
com uma empresa (Souza Cruz) e
rentabilidade de 60,1%. Em segundo lugar veio serviços em geral, com 41,9% -apesar de serem
apenas três empresas-, e, logo
depois, os bancos.
O setor de material de transporte também apresentou bom resultado, com 24,4% de rentabilidade,
influenciado pelo excelente desempenho da Embraer. O pior resultado foi transporte aéreo (Varig, TAM e Vasp), com índice negativo de 140,6%.
Para Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Asis, o levantamento mostra por que o empresário se sente tão desestimulado
em investir no Brasil.
De acordo com Rodrigues, a
baixa rentabilidade não pode ser
interpretada como um sintoma
de ineficiência do setor produtivo
da economia. Segundo ele, o setor
não-financeiro obteve uma receita operacional (antes das despesas
financeiras) de 12%. A rentabilidade despencou com a cobrança
dos juros. "As despesas financeiras sacrificam os resultados das
empresas", diz Rodrigues.
Como as empresas não possuem recursos próprios para financiar e expandir o seu negócio,
elas dependem de financiamento.
Com isso, as restrições ao crédito
na economia e os juros elevados
sacrificam os resultados das companhias não-financeiras.
Para o presidente da Austin
Asis, enquanto o governo não
melhorar as condições de financiamento para as empresas poderem ter acesso ao crédito, dificilmente o país voltará a crescer a taxas de 4% ao ano. "Enquanto não
houver uma expansão do crédito,
a taxas menores de juros, o crescimento do setor produtivo ficará
inviabilizado", diz Rodrigues.
Já os bancos, segundo Rodrigues, ganham de diversas formas.
Em primeiro lugar, por serem os
grandes financiadores do governo, na compra dos títulos públicos. Depois, por terem aumentado bastante os ganhos por meio
da cobrança de serviços públicos.
Além disso, em razão dos altos
"spreads" (taxas de risco) cobrados para os empréstimos. Para
pessoas físicas, o "spread" médio
é de 57%; para as jurídicas, 25%.
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