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São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2003

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APERTO

Enquanto bancos têm retorno de 25,7% sobre o patrimônio em 2002, grupo não-financeiro fica no negativo em 13%

Juros derrubam rentabilidade das empresas

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

De 22 setores da economia brasileira, só 5 conseguiram em 2002 uma rentabilidade superior aos 18% pagos pelo CDI (Certificado de Depósito Interbancário).
Um setor (seguradora) teve lucro líquido em relação ao patrimônio de 14,2%. Dezesseis setores pesquisados tiveram rentabilidade (grau de rendimento proporcionado por um investimento) inferior a 10% no ano. Outros dez registraram porcentagem de prejuízo, e não lucro, em relação ao investimento total.
De acordo com o levantamento, enquanto os bancos registraram uma rentabilidade de 25,7% no ano passado, as empresas não-financeiras apresentaram índice negativo de 13,1%.
A pesquisa foi feita pela consultoria Austin Asis com base no balanço de 2002 divulgado por 207 empresas representantes de diferentes 22 setores. O resultado demonstra que, se muitas empresas tivessem aplicado seu capital em títulos públicos (CDIs) e especulado com a taxa de juros, certamente teriam tido um ganho muito superior àquele que obtiveram com seu negócio.
O campeão de retorno no ano passado foi o setor de cigarros, com uma empresa (Souza Cruz) e rentabilidade de 60,1%. Em segundo lugar veio serviços em geral, com 41,9% -apesar de serem apenas três empresas-, e, logo depois, os bancos.
O setor de material de transporte também apresentou bom resultado, com 24,4% de rentabilidade, influenciado pelo excelente desempenho da Embraer. O pior resultado foi transporte aéreo (Varig, TAM e Vasp), com índice negativo de 140,6%.
Para Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Asis, o levantamento mostra por que o empresário se sente tão desestimulado em investir no Brasil.
De acordo com Rodrigues, a baixa rentabilidade não pode ser interpretada como um sintoma de ineficiência do setor produtivo da economia. Segundo ele, o setor não-financeiro obteve uma receita operacional (antes das despesas financeiras) de 12%. A rentabilidade despencou com a cobrança dos juros. "As despesas financeiras sacrificam os resultados das empresas", diz Rodrigues.
Como as empresas não possuem recursos próprios para financiar e expandir o seu negócio, elas dependem de financiamento. Com isso, as restrições ao crédito na economia e os juros elevados sacrificam os resultados das companhias não-financeiras.
Para o presidente da Austin Asis, enquanto o governo não melhorar as condições de financiamento para as empresas poderem ter acesso ao crédito, dificilmente o país voltará a crescer a taxas de 4% ao ano. "Enquanto não houver uma expansão do crédito, a taxas menores de juros, o crescimento do setor produtivo ficará inviabilizado", diz Rodrigues.
Já os bancos, segundo Rodrigues, ganham de diversas formas. Em primeiro lugar, por serem os grandes financiadores do governo, na compra dos títulos públicos. Depois, por terem aumentado bastante os ganhos por meio da cobrança de serviços públicos.
Além disso, em razão dos altos "spreads" (taxas de risco) cobrados para os empréstimos. Para pessoas físicas, o "spread" médio é de 57%; para as jurídicas, 25%.

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