São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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AGROFOLHA

Venezuela e Líbano puxam exportação de gado vivo do país

Receita cresce 261% e atinge US$ 260 mi em 2007; quantidade de animais embarcados para engorda e abate aumenta 76%

País só perde para Canadá, México e Austrália no mercado; sociedade protetora dos animais vê maus-tratos no transporte


Divulgação
Bovinos da raça nelore entram em embarcação contratada pela Kaiapós Fabril e Exportadora


GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO

As exportações de gado vivo dispararam no ano passado. A receita bateu em US$ 259,955 milhões, crescimento de 261,3% em relação a 2006. O número de animais embarcados, para engorda e abate nos países de destino, chegou a 431,8 mil, aumento de 76,3%.
Os principais compradores são a Venezuela e o Líbano. No ano passado, esses países adquiriram, respectivamente, 247,3 mil e 183,8 mil animais.
Para 2008, o grupo Minerva, um dos principais exportadores de bois "em pé", prevê novos aumentos.
Os números podem ser turbinados ainda mais se a Itália confirmar a compra de bezerros de Santa Catarina, único Estado reconhecido como área livre de febre aftosa sem vacinação. O grupo espera que os embarques para a Europa comecem no segundo semestre.
Apenas daí a demanda é estimada em 200 mil bovinos por ano -quase a metade do total embarcado em 2007. No ano passado, a receita do Minerva com esses embarques, realizados a partir do Pará, cresceu 305%, diz Ronald Aitken, superintendente de relações com investidores da empresa. No segmento, o grupo trabalha em parceria com a trading européia Eurofrance.
Aitken diz que aumenta a relevância desses negócios para a empresa. Em 2007, o embarque de boi "em pé" representou 19% das exportações do Minerva. No ano anterior, foram 5%.
Daniel Freire, gerente comercial da Kaiapós Fabril e Exportadora, aponta a valorização do real como um desafio para os embarques. Em janeiro, a empresa exportou por volta de 14 mil cabeças, 8.000 para a Venezuela e 6.000 para o Líbano.
Minerva e Kaiapós são os principais exportadores de boi "em pé" a partir do Pará, Estado que concentrou 97% dos embarques no ano passado.

Cenário global
Os 431,8 mil bovinos de 2007 colocaram o Brasil como o quarto maior exportador de gado vivo do mundo. Segundo estimativa do Usda (Departamento de Agricultura dos EUA), o líder desse mercado em 2007 foi o Canadá, com 1,260 milhão de animais, seguido do México (1,150 milhão) e da Austrália (765 mil).
O mercado mundial movimenta cerca de R$ 2 bilhões. Os R$ 259,955 milhões de receita das empresas brasileiras representam fatia de 13% desse bolo.
Se o país tivesse protocolo sanitário com outros países, os negócios poderiam crescer substancialmente, diz Ronald Aitken, do Minerva. As vendas prosperam para a Venezuela, compradora de praticamente 60% dos bois exportados pelo Brasil, com o apoio do governo de Hugo Chávez. O gado brasileiro "garante empregos na indústria de lá", impedindo que os frigoríficos do país não parem por falta de matéria-prima, diz Aitken.
Os libaneses passaram a buscar animais no Brasil depois que subiu o preço do bezerro na Europa, em linha com a valorização da carne bovina no mercado internacional.
Primeiro compraram gado de genética européia no Rio Grande do Sul. Com o preço em alta a partir de 2005, voltaram-se a opção mais econômica -o nelore, de origem indiana, que prevalece no Pará.

Reação
O crescimento da exportação de gado "em pé" começa a causar reação. A WSPA Brasil, seção brasileira da Sociedade Mundial de Proteção Animal, iniciou em fevereiro campanha contra o que qualifica de maus-tratos no transporte.
Cada navio leva até 15 mil animais. Para a Venezuela, são quatro a sete dias de viagem a partir do Pará. Para o Líbano, de 13 a 18. Charli Ludtke, coordenadora de produção animal da WSPA Brasil, diz que "os animais passam fome porque a ração não é tão palatável como as pastagens".
Coordenador do grupo Etco, de estudos e pesquisas em etologia e ecologia animal, Mateus Paranhos da Costa confirma que há animal que não "pega cocho", em referência aos bois que não se adaptam à nova dieta, mesmo com um período de adaptação antes da viagem.
Segundo o pesquisador, que dá aulas na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Jaboticabal (SP), em viagens longas, com mais de cinco dias de jejum, os bovinos sofrem "alteração metabólica severa e podem até morrer de fome", em razão da perda de minerais que não são repostos.
Costa aponta também "falta de habilidade nos procedimentos" para o transporte dos animais. Não é incomum, segundo ele, os animais serem manejados com muita agressividade.


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