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COMÉRCIO EXTERIOR
Exportador reage contra medida; governo mostra preocupação
Armador sobretaxa frete para compensar o câmbio
MÔNICA CIARELLI
da Sucursal do Rio
Empresas de navegação e exportadores travam uma batalha em
torno do preço dos fretes marítimos no país. Para compensar perdas com o câmbio, os armadores
criaram uma sobretaxa à exportação em contêiner para os EUA.
A medida elevou em até 50% o
custo do transporte e reacendeu o
debate sobre o preço dos fretes no
país. O próprio governo já se mostrou preocupado com o aumento.
Em reunião com armadores em
São Paulo, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Mário Marconini,
admitiu que a sobretaxa pode inibir o crescimento das exportações.
E o Brasil precisa aumentar as exportações em mais de 20% neste
ano para alcançar a meta US$ 11 bilhões de superávit comercial acordada com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Para evitar que a alta do custo
dos transportes prejudique a recuperação das exportações, o governo pretende intermediar o diálogo
entre exportadores e armadores.
O objetivo é reduzir a cobrança
da sobretaxa, que varia de US$ 250
a US$ 700, de acordo com o produto e o porto por onde a mercadoria
sai do Brasil. Armadores alegam
que a sobretaxa é apenas uma referência para os preços, que pode ser
negociada com os exportadores.
"Produtos muito comercializados têm sobretaxa menor, como o
caso do café, que apenas voltou ao
nível de preço cobrado no final do
ano passado", diz o presidente da
Aliança Transportes Marítimos,
Arsênio Nóbrega. No final de 98, o
frete era de US$ 1.050. Este ano, o
valor caiu para US$ 800, mas retornou ao preço anterior com a sobretaxa de US$ 250 cobrada nos portos do Rio e de Santos.
A justificativa para a criação de
uma sobretaxa é que a depreciação
do real diminuiu o volume de importações. Com isso, os navios que
saem do Brasil voltam ao país vazios, o que torna a operação deficitária para os transportadores.
"Existe hoje um desequilíbrio
muito grande no comércio externo
brasileiro. Antes, isso era tolerável
porque os níveis de frete não eram
tão baixos. O problema é o desbalanceamento. Fica muito caro navegar com contêineres vazios",
afirma Nóbrega.
Ele lembra que desde a abertura
total do mercado de navegação para empresas estrangeiras, em 1992,
o preço do frete caiu muito, com as
empresas buscando manter ou
conquistar sua fatia. No início da
década, o frete médio variava entre
10% e 11% do valor da mercadoria.
Agora, gira entre 2,5% e 3%.
A criação da sobretaxa é criticada, porém, por alguns armadores,
como Washington Barbeitor, presidente da Transroll, uma das duas
empresas do setor com capital
100% brasileiro que restaram.
Barbeitor culpa as companhias
estrangeiras de estar recompondo
seus custos agora, depois de ter
forçado uma forte queda no preço
dos fretes nos últimos cinco anos
para conquistar mercado no país.
"O frete pode ficar em um nível
mais baixo porque os navios ganharam economia de escala por
serem maiores hoje do que no início da década", diz Barbeitor.
Já exportadores argumentam
que não há espaço para aumento
do frete. O presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do
Brasil), Marcus Vinícius Pratini de
Moraes, alega que a sobretaxa inviabiliza a expansão das exportações, neutralizando os efeitos positivos da desvalorização do real.
"Os ganhos de competitividade
ficam perdidos. Qualquer custo
adicional de exportação influencia
negativamente."
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