São Paulo, Domingo, 04 de Abril de 1999
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COMÉRCIO EXTERIOR
Exportador reage contra medida; governo mostra preocupação
Armador sobretaxa frete para compensar o câmbio

MÔNICA CIARELLI
da Sucursal do Rio

Empresas de navegação e exportadores travam uma batalha em torno do preço dos fretes marítimos no país. Para compensar perdas com o câmbio, os armadores criaram uma sobretaxa à exportação em contêiner para os EUA.
A medida elevou em até 50% o custo do transporte e reacendeu o debate sobre o preço dos fretes no país. O próprio governo já se mostrou preocupado com o aumento. Em reunião com armadores em São Paulo, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Mário Marconini, admitiu que a sobretaxa pode inibir o crescimento das exportações.
E o Brasil precisa aumentar as exportações em mais de 20% neste ano para alcançar a meta US$ 11 bilhões de superávit comercial acordada com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Para evitar que a alta do custo dos transportes prejudique a recuperação das exportações, o governo pretende intermediar o diálogo entre exportadores e armadores.
O objetivo é reduzir a cobrança da sobretaxa, que varia de US$ 250 a US$ 700, de acordo com o produto e o porto por onde a mercadoria sai do Brasil. Armadores alegam que a sobretaxa é apenas uma referência para os preços, que pode ser negociada com os exportadores.
"Produtos muito comercializados têm sobretaxa menor, como o caso do café, que apenas voltou ao nível de preço cobrado no final do ano passado", diz o presidente da Aliança Transportes Marítimos, Arsênio Nóbrega. No final de 98, o frete era de US$ 1.050. Este ano, o valor caiu para US$ 800, mas retornou ao preço anterior com a sobretaxa de US$ 250 cobrada nos portos do Rio e de Santos.
A justificativa para a criação de uma sobretaxa é que a depreciação do real diminuiu o volume de importações. Com isso, os navios que saem do Brasil voltam ao país vazios, o que torna a operação deficitária para os transportadores.
"Existe hoje um desequilíbrio muito grande no comércio externo brasileiro. Antes, isso era tolerável porque os níveis de frete não eram tão baixos. O problema é o desbalanceamento. Fica muito caro navegar com contêineres vazios", afirma Nóbrega.
Ele lembra que desde a abertura total do mercado de navegação para empresas estrangeiras, em 1992, o preço do frete caiu muito, com as empresas buscando manter ou conquistar sua fatia. No início da década, o frete médio variava entre 10% e 11% do valor da mercadoria. Agora, gira entre 2,5% e 3%.
A criação da sobretaxa é criticada, porém, por alguns armadores, como Washington Barbeitor, presidente da Transroll, uma das duas empresas do setor com capital 100% brasileiro que restaram.
Barbeitor culpa as companhias estrangeiras de estar recompondo seus custos agora, depois de ter forçado uma forte queda no preço dos fretes nos últimos cinco anos para conquistar mercado no país.
"O frete pode ficar em um nível mais baixo porque os navios ganharam economia de escala por serem maiores hoje do que no início da década", diz Barbeitor.
Já exportadores argumentam que não há espaço para aumento do frete. O presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), Marcus Vinícius Pratini de Moraes, alega que a sobretaxa inviabiliza a expansão das exportações, neutralizando os efeitos positivos da desvalorização do real.
"Os ganhos de competitividade ficam perdidos. Qualquer custo adicional de exportação influencia negativamente."


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