São Paulo, Domingo, 04 de Abril de 1999
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Fretes têm peso no déficit de serviços

da Sucursal do Rio

O projeto do governo de dobrar as exportações até 2002 pode agravar ainda mais o déficit nas operações de frete para o Brasil, que alcançou US$ 4,2 bilhões no ano passado. O item foi um dos principais responsáveis pelo resultado negativo de US$ 30,6 bilhões na balança de serviços em 1998.
O presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), Marcus Vinícius Pratini de Moraes, alerta que o desequilíbrio pode tomar proporções ainda maiores com a criação da nova sobretaxa.
Segundo Pratini de Moraes, o déficit pode chegar a US$ 12 bilhões, neutralizando qualquer estratégia do governo para ajustar o balanço das transações correntes.
"O governo se preocupa muito com o déficit de US$ 6,4 bilhões da balança comercial no ano passado. Mas o resultado negativo dos fretes sozinho já é muito próximo desse valor", afirma.
A AEB calcula que a sobretaxa vai elevar em 2% a 6% os preços dos produtos exportados, diminuindo a competitividade da mercadoria brasileira no exterior. Pratini destaca que grande parcela do ganho obtido pelos exportadores com a desvalorização cambial em fevereiro vem sendo consumido pela elevação dos fretes.
"À medida que surgem custos adicionais, as exportações são desestimuladas. Não há taxa de câmbio que cubra esse tipo de elevação arbitrária", afirmou.
Segundo ele, a sobretaxa vai diminuir ainda mais receitas, que atualmente estão 6% menores do que há três anos por conta da queda do preço no mercado internacional dos principais produtos exportados pelo Brasil. Ele cita como exemplo o preço da soja, que hoje é o menor dos últimos 23 anos.
Pratini diz que a AEB entregou ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio um dossiê sobre os 12 setores que mais sofreram com a elevação dos fretes.
A Associação Brasileira de Celulose e Papel chegou a enviar uma carta à AEB afirmando que o setor encontrou dificuldades para manter o volume de exportação para os Estados Unidos após o aumento dos fretes. As exportações do setor representam para o país um ingresso de US$ 2 bilhões por ano.
Pratini argumenta que a falta de uma política nacional de apoio à navegação comercial vem contribuindo para agravar o problema do déficit nas operações de frete.
Ele lembra que o Brasil já foi o terceiro maior produtor de navios do mundo, mas, com a abertura do setor às empresas estrangeiras, perdeu espaço. Isso acaba contribuindo para alimentar o déficit comercial, pois obriga o país a enviar dólares para o exterior para pagar essas operações. (MC)




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