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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Europeu e asiático pode redesenhar o século 21
GILSON SCHWARTZ
Da Equipe de Articulistas
A longa luta por supremacia
mundial no século 20 ainda não
acabou e, nos últimos anos, assume a cada momento novas faces.
Primeiro se disse que o século 21
seria asiático. Veio depois uma fase de reafirmação do poderio norte-americano.
Agora, com a gradual superação
da crise financeira asiática e o lançamento do euro, desenha-se uma
"terceira via", "eurasiana", que
lembra clássicos da ficção política
(como "1984", de George Orwell).
Há inúmeros exemplos recentes
de posicionamento europeu não
apenas divergente ou mesmo conflitante com os Estados Unidos,
mas de aproximação com a Ásia.
Agora mesmo, o governo Clinton tenta organizar a entrada dos
chineses na OMC (Organização
Mundial do Comércio). Na semana passada, foi divulgada a disposição da UE (União Européia) a negociar com a China em separado.
A OMC é palco de outra disputa
entre Estados Unidos e a União
Européia. Os europeus estão
apoiando a condução do ministro
tailandês das relações exteriores,
Supachai Panitchpakdi, à chefia do
organismo multilateral.
Os Estados Unidos defendem o
ex-primeiro ministro da Nova Zelândia, Michael Moore.
Na semana passada ocorreu um
importante encontro, em Berlim,
entre ministros de relações exteriores da União Européia e da Ásia.
O atual ministro tailandês, Sukhumband Paribatr, disse que seu
país está atento para saber se os Estados Unidos "vão agredir nossos
sentimentos pela segunda vez". A
primeira vez foi durante a crise financeira de 1997.
Um dos aspectos decisivos na
aproximação entre europeus e
asiáticos é de natureza política. Há
entre os políticos das duas regiões
uma visão bem distinta da norte-americana sobre a questão dos direitos humanos.
Na prática, os europeus lançaram a sua nova moeda num momento em que os asiáticos precisam urgentemente de suprimentos
financeiros vitais. Ampliar as linhas de crédito em euro pode ser
uma das formas para minar, nos
próximos anos, a supremacia do
dólar como referência global.
Alguns negócios são emblemáticos. Há uma semana foi anunciada
uma parceria global entre a Renault (francesa) e a Nissan (japonesa), criando o quarto maior grupo global no setor automobilístico
(depois de General Motors, Ford e
Toyota).
O debate sobre os rumos da supremacia norte-americana está
sendo retomado. A expansão da
Otan e as ações militares unilaterais certamente animam as reações
ao mundo "unipolar" (termo contraditório, pois um pólo é, por definição, um aspecto ou face que se
contrapõe a outra).
Na França o antiamericanismo já
tem uma forte tradição e está ganhando novas contribuições com
livros recentes tais como "Le XXIe
siècle ne sera pas américain" (O
Século 21 não será americano), de
Pierre Biarnès (Editions du Rocher, Paris, 1998).
Talvez seja óbvio, mas os candidatos a contrapeso na visão de
Biarnès são a UE, a China, a Rússia,
a Índia e o Japão. Ou seja, basicamente a região correspondente à
eurásia orwelliana.
Há também evidências mais localizadas, mas nem por isso menos
relevantes. Nos últimos meses, por
exemplo, houve reuniões estratégicas entre militares iraquianos e
iugoslavos, com o objetivo de trocar experiências sobre tecnologias
de resistência a bombardeios aéreos. Nos dois casos os russos estão
presentes.
O fato é que, militarmente, os
EUA estão ocupados com duas
frentes, bombardeando o Iraque e
a Iugoslávia. Uma terceira frente
de conflito bélico, asiática, é hoje
improvável. Mas isso não impede
que esta seja, nos próximos anos, a
mais importante frente de conflito
econômico.
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