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OPINIÃO ECONÔMICA
Substituição de importações: lições do algodão
GESNER OLIVEIRA
O termo "substituição de importações" é normalmente
associado à indústria, em razão
das políticas de industrialização
adotadas pelo Brasil e vários outros países em desenvolvimento
no século 20.
Isso não impede que haja vários
exemplos bem-sucedidos em outros setores, como na agroindústria, que revelam o potencial de
melhora de desempenho no comércio exterior do Brasil em uma
ampla gama de segmentos da economia.
O algodão constitui um caso interessante no período recente.
Conforme descrito no livro "Caminhos da Agricultura", do secretário de Política Agrícola, Benedito Santo, houve modificações estruturais nessa cultura em um
prazo relativamente curto.
De maior exportador mundial
de algodão em 1985, o Brasil passou a ser o segundo maior importador em 1996. Depois de uma
mudança tecnológica radical, novas áreas de produção, especialmente em Mato Grosso, inverteram o jogo.
A quantidade importada chegou a menos da metade do nível
de 1996 e o país praticamente
atingiu a auto-suficiência em
2001. A produtividade em Mato
Grosso chega a 3.700 quilos por
hectare, contra uma média no
Brasil de 2.860 quilos por hectare.
O estudo inédito "Programas de
Incentivo à Agricultura: o Caso do
Algodão", do economista Mansueto Almeida, do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada),
extrai lições de política pública do
caso do algodão.
Chama a atenção entre os fatores de sucesso o papel da política
tecnológica e a vinculação dos incentivos estaduais a critérios objetivos de desempenho.
Ressalte-se, uma vez mais, o papel da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)
de Campina Grande, que desenvolveu uma semente de algodão
mais adequada às condições de
clima e solo do cerrado brasileiro.
Assim como funcionou no caso
do algodão, vários outros segmentos são candidatos naturais para
uma melhoria significativa de desempenho na produção e no comércio exterior. Segmentos como
os de leite, frutas, vinhos e pescados, para citar alguns exemplos,
poderiam igualmente apresentar
enorme crescimento das exportações e/ou substituição competitiva
de importações.
Casos como o do algodão não
aparecem espontaneamente. Requerem planejamento e boa política pública para se concretizarem. Além disso, requerem um
enorme esforço para conseguir
acesso aos mercados mundiais.
É irônico, contudo, que as propostas ingênuas de atender antes
o mercado interno para exportar
depois terminam por defender o
protecionismo dos países ricos,
que temem, com razão, o enorme
potencial exportador brasileiro.
Gesner Oliveira, 45, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da FGV-SP, consultor da
Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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