São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Depois de Duhalde, o novo ministro Roberto Lavagna descartou um "sim" incondicional ao Fundo

País não vai acatar tudo que o FMI pedir

FABRICIO VIEIRA
JOÃO SANDRINI

DE BUENOS AIRES

A decisão da Argentina de trabalhar para fechar um acordo de socorro financeiro com o FMI (Fundo Monetário Internacional) não significa que o país irá acatar todas as exigências da instituição internacional. A afirmação foi feita pelo novo ministro da Economia, Roberto Lavagna, e ratifica a posição do presidente Eduardo Duhalde, que há duas semanas afirmou que o país não diria "sim" a tudo que pleiteia o Fundo.
Com uma valorização expressiva, de 3,13%, a moeda norte-americana voltou a subir ontem na Argentina. O dólar fechou vendido a 3,29 pesos. Na segunda, após o feriado cambial da semana passada, o dólar deu sinais de que inverteria a tendência de alta verificada desde o fim da conversibilidade -que atrelou o valor do peso ao dólar por mais de uma década- no início deste ano. As altas dos dois últimos dias anularam esse recuo e o dólar encerrou a semana em alta de 0,3%.
Para o ministro da Economia, a postura de alguns jornais locais, que têm dado destaque às dificuldades de o governo em cumprir as exigências do Fundo, tem ajudado a pressionar o câmbio. O adiamento da discussão e votação das modificações das leis de "Falências" e "Subversão Econômica" exigidas pelo FMI, que deveriam ter começado na última quinta e ficaram para a próxima semana, desagradaram ao mercado. Para analistas, a adoção de um câmbio fixo no país, pleiteada por Duhalde e rechaçada por Lavagna nesse momento, não está fora de questão. Ontem Lavagna ratificou a postura do governo de descartar a opção da dolarização.
O ministro da Economia demonstrou ontem preocupação em não dar um calote no Banco Mundial (Bird). Neste mês, a Argentina tem de honrar vencimentos de dívida de US$ 800 milhões com o Bird. Lavagna afirmou que o país espera fechar nos próximos 30 dias um "empréstimo-ponte" para pagar o Bird. Esse empréstimo poderia vir de outros organismo internacionais ou mesmo de países. O ministro Pedro Malan (Fazenda) negou no início da semana as versões de que o governo argentino teria pedido ajuda financeira ao Brasil.
No fim da tarde de ontem, Lavagna mais uma vez convocou as lideranças peronistas no Congresso para discutir as formas de cumprir mais rapidamente com as exigências do Fundo que dependem da votação dos legisladores. Ontem a Província de Salta foi a primeira a assinar o acordo bilateral com a Nação onde se compromete a fazer um ajuste de 60% em seu déficit. O FMI quer que todas as 23 Províncias assinem um acordo similar.

Controle de preços
O governo argentino negou ter a intenção de estabelecer um controle rígido sobre os preços e conter a inflação por meio do tabelamento. Para mostrar convicção Lavagna teria inclusive pedido a demissão do autor desta proposta, o secretário de Direito e Defesa do Consumidor, Pablo Challú.
A intenção de Challú era frear o aumento de preços dos alimentos e produtos de higiene e limpeza, os que mais têm pressionado a inflação. Lavagna, no entanto, garantiu que nenhuma medida "intervencionista" será tomada para conter os preços.
Segundo cálculos do Indec (o IBGE local), os preços ao consumidor subiram mais de 20% nos quatro primeiros meses deste ano. Os produtos da cesta básica, porém, já subiram entre 50% e 150%, segundo a Fedecámaras (a federação comercial argentina).



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