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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Asiáticos enfrentam
preconceito para crescer
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Na semana passada, o banco central dos EUA começou a elevar os
juros. O movimento era esperado,
mas ainda não há consenso quanto
ao teto superior da alta.
Com juros em alta, só os mais fanáticos crentes da revolução tecnológica global acreditam que os
EUA continuarão a crescer com a
intensidade dos últimos anos.
A aterrissagem da economia
norte-americana seria o cenário
ideal. Ao mesmo tempo, a Bolsa e
os mercados de bens e serviços
iriam esfriando, sem rupturas.
Uma das condições para que
ocorra uma aterrissagem suave é o
resto do mundo voltar a crescer.
Alguns analistas, diante do derretimento do euro, acreditam que a
economia européia voltará a exportar, puxando o crescimento.
Mas a União Européia é bastante
fechada. O crescimento europeu
não garante um efeito positivo que
transborde para o resto do mundo.
A única esperança global reside
na Ásia. Na semana passada, o tema foi discutido num seminário da
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Fórum sobre Perspectivas Asiáticas, organizado em
conjunto com o Asian Development Bank.
A virada para um novo milagre
ainda enfrenta obstáculos de natureza estrutural, ou seja, que exigem
mudanças nas formas de gestão
das empresas, suas relações com o
poder público e com o sistema financeiro internacional.
É curioso acompanhar a maneira
como esses desafios são formulados. Enquanto no Ocidente a ênfase recai sobre ações como privatizar, liberalizar e internacionalizar,
o tratamento receitado por ocidentais para a Ásia exige "o estabelecimento de uma genuína parceria entre o setor público e o setor
privado" (palavras de Philippe de
Fontaine Vive, diretor para Dívida,
Desenvolvimento e Mercados
Emergentes do Ministério das Finanças da França).
Debate-se muito o imperativo de
dar maior transparência às decisões empresariais, de adotar os
princípios de boa "governance"
(gerência). Mas a vice-secretária-geral da OCDE, Joanna Shelton, é
cautelosa e afirma que "tais princípios não são uma tentativa de imposição de idéias ou padrões de
comportamento anglo-saxões ou
ocidentais ao resto do mundo".
Ao contrário de foros onde se
discute a situação latino-americana, sempre condenando a falta de
responsabilidade dos governos (o
que é inegável), mas absolvendo e
até insistindo na liberdade de movimentos dos capitais, no foro sobre as perspectivas asiáticas foi sugerido um tratamento mais rigoroso das finanças. Três áreas, em
especial, merecem maior escrutínio: instituições financeiras muito
alavancadas ou endividadas, práticas em paraísos fiscais e fluxos financeiros de curto prazo.
Finalmente, outra peculiaridade
do Asian Development Bank: foi
definida uma política de avaliação
de créditos que exige avaliações
prévias dos impactos sociais de cada projeto de investimento.
Falou-se até mesmo em necessidade de reconhecimento do conceito de "mercado social", expressão usada pela autoridade em desenvolvimento da chancelaria da
Suécia, Mats Karlsson.
Não faltou a voz dos supostos pecadores e pervertidos. O professor
coreano Yung Chul Park, presidente do "Korean Exchange
Bank", refutou a tese hoje tão comum de que a crise resulta de erros
cometidos pelos países asiáticos.
"Foram os fluxos estrangeiros,
em boa medida de curto prazo, que
detonaram a crise", declarou, acusando que os emergentes estão
sub-representados nos foros que
discutem uma reforma global.
Em resumo: o debate sobre a recuperação da Ásia está longe do final, mas os preconceitos contra a
região são um obstáculo a mais, reconhecido pelos dois lados do balcão das negociações financeiras.
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