São Paulo, Domingo, 04 de Julho de 1999
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PÓS-MÁXI
Indústria de tecelagem e de confecções é pega de surpresa e espera maior recuperação só no segundo semestre
Têxteis ainda esperam ganho com câmbio

da Reportagem Local
A indústria têxtil e de vestuário não conseguiu extrair grandes benefícios da mudança no câmbio no primeiro semestre do ano. "O setor ficou confuso com a desvalorização do real até maio e só deve apresentar crescimento a partir de agosto", prevê Paulo Skaf, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil).
Apenas os segmentos de índigo e de cama, mesa e banho, tradicionais exportadores, aproveitaram a vantagem cambial sobre os importados, avalia Marcelo Prado, diretor do Iemi (Instituto de Estudos e Marketing Industrial).
Ainda assim, a indústria de índigo enfrenta um processo na Argentina, que impôs sanções contra o produto brasileiro, acusando os fornecedores de vendê-lo abaixo do preço de custo.
O segmento de cama, mesa e banho está indo bem, segundo Prado, porque é forte exportador para Mercosul, Europa e EUA e também porque diminuiu a pressão por descontos por parte dos compradores externos.
Para poder se beneficiar do câmbio, a indústria precisa gerar excedentes, ter preços competitivos e fazer um esforço para vender para outros países. "Dependendo do caso, ou a empresa não tem excedente ou não tem preço competitivo para partir para o esforço de vendas, que leva mais tempo, é uma coisa de longo prazo", diz Prado. "E gerar excedente demanda investimento, que precisa de ambiente de estabilidade, difícil no Brasil."
De um modo geral, no curto prazo a mudança no câmbio elevou os custos e restringiu a entrada de mercadorias têxteis que não são produzidas no país.
No médio prazo, Marcelo Prado prevê uma melhora na balança comercial do setor, mas não necessariamente um superávit. "Isso vai depender da oferta de fibras, como a de algodão (50% são importadas e respondem por 70% do tecido utilizado no país) e as sintéticas." No total, o país importa 35% das fibras que consome.
No longo prazo, os benefícios do câmbio dependerão do esforço de vendas de outros produtos, além de índigo e cama, mesa e banho.
No mundo, o Brasil é o oitavo maior produtor de fios e tecidos e o terceiro em malhas. Mas, no comércio exterior, sua participação é marginal -está em 17º lugar no ranking das importações e no 20º das exportações de têxteis.
A indústria têxtil faturou US$ 21 bilhões no ano passado, segundo a Abit. Somando as vendas de vestuário, o valor chega a US$ 37 bilhões, de acordo com a consultoria Gherzi. As exportações do setor somaram US$ 1,1 bilhão em 98, e a meta da Abit é elevar esse valor a US$ 4 bilhões ao ano até 2002.
No momento, o preocupa o setor é a proteção dada às fibras sintéticas -o Imposto de Importação sobre essas fibras é de 19%, em média. "Isso tira a competitividade da confecção, que agrega valor ao produto", diz Prado. (LR)


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