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INVASÃO IBÉRICA
Com compra da YPF, país ultrapassou EUA e reacendeu polêmica sobre excesso de capital estrangeiro
Espanha vira maior investidor na Argentina
ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires
Com a compra da petrolífera argentina YPF, a Espanha passou a
ser o país que mais investiu na Argentina nos últimos cinco anos, segundo dados da Fundação Invertir, especializada em investimentos diretos externos.
Entre 1994 e 1999, os espanhóis
gastaram US$ 21,69 bilhões em
aquisições de empresas argentinas
e outros investimentos produtivos.
Nesse mesmo período, os Estados Unidos, que eram os primeiros
até o ano passado, colocaram US$
20,07 bilhões na economia Argentina.
Os dados de 1999 incluem os projetos realizados e anunciados.
Apenas este ano, a Repsol, empresa de petróleo espanhola, desembolsou cerca de US$ 15,25 bilhões para comprar 98,2% das
ações da YPF.
No início do ano, havia comprado 14,99% das ações, das mãos do
governo. No final do mês passado,
gastou US$ 13,15 bilhões para garantir o controle da petrolífera argentina.
Embora o fluxo de investimentos
da Espanha supere o dos EUA nos
últimos cinco anos, Daniel Chudnovsky, diretor do Cenit (Centro
de Investigações para a Transformação), afirma que, desde o início
da década, o total de investimentos
norte-americanos na economia argentina é maior que o espanhol.
Marcelo Sierra, coordenador da
Fundação Invertir, afirma que o
número de projetos norte-americanos também é superior.
As aquisições e ampliações produtivas ibéricas se concentram no
setor energético: petróleo, gás e
energia elétrica.
Em segundo lugar, aparecem os
investimentos em telecomunicações.
Apenas a Repsol -que adquiriu
entre outras empresas a Astra (gás,
petróleo e energia elétrica), a MetroGás (gás), a Mexpetrol (petróleo)- foi responsável por cerca de
80% dos investimentos espanhóis
na Argentina.
Questão de sobrevivência
Na opinião de Martin Redrado,
presidente da consultoria Fundação Capital, a forte presença de capital espanhol na América Latina é
uma estratégia de sobrevivência
das empresas dentro da União Européia.
Segundo Redrado, as empresas
da Espanha procuram ganhos de
escala e abertura de novos mercados para fortalecer sua posição no
mundo e evitar que sejam adquiridas por empresas mais fortes dentro da União Européia.
A Espanha é um dos países com
maior atraso tecnológico na Europa, diz Redrado.
Na América Latina, no entanto, o
capital espanhol é bastante competitivo.
Chudnovsky agrega que existe
um identidade cultural entre a Espanha e a Argentina, que começa
pelo o idioma. "A Argentina é a região natural para investimentos da
Espanha."
Brios nacionalistas
A compra da YPF pelos espanhóis reacendeu o debate da exagerada participação de capital estrangeiro na economia Argentina.
"Metade da cúpula da nossa indústria está no exterior", diz
Chudnovsky. "Parece um pouco
demais."
Dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe), mostram que 56,7% do faturamento das 500 maiores empresas argentinas estão nas mãos
de estrangeiros.
Paolo Rocca, um dos donos do
grupo Techint, maior conglomerado de capital nacional argentino,
afirmou que "adoraria ter comprado a YPF".
Desigualdade
Segundo ele, as empresas de capital nacional não conseguem financiamentos a taxas competitivas para fazer aquisições e perdem
as oportunidades.
Rocca disse que "a Argentina é a
agora o único país latino-americano sem uma petrolífera nacional".
Segundo ele, os projetos entre
Petrobras e YPF para construir
uma empresa regional ficam frustrados com a compra pela Repsol.
A maior crítica é que a empresa
estrangeira tem um menor comprometimento com o desenvolvimento do país, diz Bernardo Kosacoff, economista da Cepal.
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