São Paulo, Domingo, 04 de Julho de 1999
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INVASÃO IBÉRICA
Com compra da YPF, país ultrapassou EUA e reacendeu polêmica sobre excesso de capital estrangeiro
Espanha vira maior investidor na Argentina

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires Com a compra da petrolífera argentina YPF, a Espanha passou a ser o país que mais investiu na Argentina nos últimos cinco anos, segundo dados da Fundação Invertir, especializada em investimentos diretos externos.
Entre 1994 e 1999, os espanhóis gastaram US$ 21,69 bilhões em aquisições de empresas argentinas e outros investimentos produtivos.
Nesse mesmo período, os Estados Unidos, que eram os primeiros até o ano passado, colocaram US$ 20,07 bilhões na economia Argentina.
Os dados de 1999 incluem os projetos realizados e anunciados.
Apenas este ano, a Repsol, empresa de petróleo espanhola, desembolsou cerca de US$ 15,25 bilhões para comprar 98,2% das ações da YPF.
No início do ano, havia comprado 14,99% das ações, das mãos do governo. No final do mês passado, gastou US$ 13,15 bilhões para garantir o controle da petrolífera argentina.
Embora o fluxo de investimentos da Espanha supere o dos EUA nos últimos cinco anos, Daniel Chudnovsky, diretor do Cenit (Centro de Investigações para a Transformação), afirma que, desde o início da década, o total de investimentos norte-americanos na economia argentina é maior que o espanhol.
Marcelo Sierra, coordenador da Fundação Invertir, afirma que o número de projetos norte-americanos também é superior.
As aquisições e ampliações produtivas ibéricas se concentram no setor energético: petróleo, gás e energia elétrica.
Em segundo lugar, aparecem os investimentos em telecomunicações.
Apenas a Repsol -que adquiriu entre outras empresas a Astra (gás, petróleo e energia elétrica), a MetroGás (gás), a Mexpetrol (petróleo)- foi responsável por cerca de 80% dos investimentos espanhóis na Argentina.

Questão de sobrevivência
Na opinião de Martin Redrado, presidente da consultoria Fundação Capital, a forte presença de capital espanhol na América Latina é uma estratégia de sobrevivência das empresas dentro da União Européia.
Segundo Redrado, as empresas da Espanha procuram ganhos de escala e abertura de novos mercados para fortalecer sua posição no mundo e evitar que sejam adquiridas por empresas mais fortes dentro da União Européia.
A Espanha é um dos países com maior atraso tecnológico na Europa, diz Redrado.
Na América Latina, no entanto, o capital espanhol é bastante competitivo.
Chudnovsky agrega que existe um identidade cultural entre a Espanha e a Argentina, que começa pelo o idioma. "A Argentina é a região natural para investimentos da Espanha."

Brios nacionalistas
A compra da YPF pelos espanhóis reacendeu o debate da exagerada participação de capital estrangeiro na economia Argentina.
"Metade da cúpula da nossa indústria está no exterior", diz Chudnovsky. "Parece um pouco demais."
Dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), mostram que 56,7% do faturamento das 500 maiores empresas argentinas estão nas mãos de estrangeiros.
Paolo Rocca, um dos donos do grupo Techint, maior conglomerado de capital nacional argentino, afirmou que "adoraria ter comprado a YPF".

Desigualdade
Segundo ele, as empresas de capital nacional não conseguem financiamentos a taxas competitivas para fazer aquisições e perdem as oportunidades.
Rocca disse que "a Argentina é a agora o único país latino-americano sem uma petrolífera nacional".
Segundo ele, os projetos entre Petrobras e YPF para construir uma empresa regional ficam frustrados com a compra pela Repsol.
A maior crítica é que a empresa estrangeira tem um menor comprometimento com o desenvolvimento do país, diz Bernardo Kosacoff, economista da Cepal.


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