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Meta comum no Mercosul requer
fim da paridade do peso, diz estudo
de Buenos Aires
A Argentina terá que deixar a paridade dólar-peso, se pretende
avançar na convergência macroeconômica dentro do Mercosul.
O Brasil, por sua vez, terá que
criar um regime de câmbio mais
estável e adotar a conversibilidade
fiscal, isto é, um maior controle sobre a emissão de moeda.
Essa é uma das principais conclusões do primeiro projeto de metas e cronograma para a harmonização de desempenho econômico
entre os parceiros do Mercosul, ao
qual a Folha teve acesso exclusivo.
O estudo, desenvolvido pela consultora Fundação Capital, foi encomendado pela ABA (Associação
de Bancos da Argentina) e será divulgado na quarta-feira.
Segundo Martin Redrado, presidente da FC, a pesquisa reconhece
as assimetrias regionais e estipula
o ano 2010 como prazo para que os
países respeitem as metas propostas.
Isso caso a vontade política de
coordenar políticas econômicas,
expressada pelos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Carlos
Menem, seja levada adiante.
Para o regime de câmbio harmonizado, Hernán Lancuza, coordenador do projeto, estipula que as
moedas de cada país devem estar
atreladas a uma cesta de moedas
(dólar, iene, euro) e não podem ter
desvalorizações anuais superiores
a 5% e uma média anual a cada três
anos de 2,5%.
A meta anual, mais flexível, permitirá ao Estado um maior grau de
liberdade para atuar contra necessidades internas do país.
A meta trienal, por sua vez, é
mais rigorosa, para mostrar aos investidores internacionais um compromisso com a estabilidade de
longo prazo.
O estudo prevê outros 11 índices,
além do câmbio. Todos com o
mesmo esquema de metas anuais e
trienais. Os objetivos estabelecidos
partem da experiência do tratado
de Maastricht, que deu origem à
União Européia.
Mas, segundo Lancuza, leva em
conta as particularidades das economias locais, prevendo a adoção
de metas inexistentes na UE.
"A vulnerabilidade externa dos
países da região fez com que decidíssemos incluir metas para o setor externo", disse Lancuza. Diferentemente do tratado de Maastricht, a FC propõe limites para déficit em conta corrente (gastos
com exterior maior que ingressos
do exterior) e dívida externa (relacionada com exportações, que indica a capacidade de um país em
gerar reservas internacionais).
Os índices criados pela FC (ver
tabela) são em geral mais rigorosos
que as metas estabelecidas dentro
da União Européia. "A falta de credibilidade da região obriga os parceiros do Mercosul a adotar regras
mais restritas", diz Lancuza.
Segundo Lancuza, o Brasil teria
mais dificuldades em cumprir as
metas para o déficit público. Segundo o estudo, em 1998, o Brasil
teve um déficit fiscal de 8,5% do
PIB (total de riquezas produzidas
pelo país), e a Argentina teve um
déficit de 1,1%. A FC propõe uma
meta anual de 3% e uma média a
cada três anos de 2%.
A Argentina, por sua vez, teria
mais dificuldades com as metas na
frente externa.
Com um câmbio congelado, devido à conversibilidade, e exportações reduzidas, o país teria de se
esforçar para controlar o déficit
em conta corrente.
Além das dificuldades específicas de cada país, a FC aponta uma
série de empecilhos que precisam
ser resolvidos antes de uma coordenação macroeconômica.
O principal é a instabilidade dos
países, que têm dificuldades de
controlar as variáveis macroeconômicas, o que dificulta o próprio
cumprimento das metas.
Lancuza, contudo, considera que
fixar metas para a região cria um
estímulo a mais para alcançar um
desempenho econômico mais
equilibrado.
(ANDRÉ SOLIANI)
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