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Empresa de latas vê chance de crescer
SILVANA QUAGLIO
Editora do Painel S/A
Justamente quando surge a AmBev (Companhia de Bebidas das
Américas), resultado da fusão da
Brahma e da Antarctica, a Latasa
-principal fabricante de latas de
alumínio do país- muda de direção. A AmBev consumirá metade
da produção da Latasa, que atualmente vende cerca de 20% para a
Antarctica e 30% para a Brahma.
A mudança no cenário mais anima do que assusta o novo presidente da Latasa, José Carlos Martins. "Eu quero pegar carona e
crescer junto com eles", afirma.
Voltar a crescer e reposicionar a
Latasa no mercado é a missão que
Martins recebeu dos três acionistas da Latasa: os bancos JP Morgan
e Bradesco e a fabricante de alumínio Reynolds (dos EUA). Os planos estão traçados, mas ele só começa a trabalhar dia 19.
Até lá, tira duas semanas de férias e se prepara para mudar de ramo. Martins trabalhou 33 anos da
sua vida profissional no setor siderúrgico. Nos últimos dois anos e
meio foi o diretor-superintendente do setor Aço da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), privatizada em 93.
A Latasa tem uma história bem
diferente. A empresa foi criada em
90, para imprimir uma grande mudança no hábito de consumo do
país: a lata de alumínio. Era a dona
absoluta do mercado e em cinco
anos faturava US$ 500 milhões.
O sucesso da Latasa atraiu a concorrência. Nos últimos tempos
chegaram a Crown Cork (associada à Petropar, do Rio Grande do
Sul), a Ball (coligada ao grupo Mariani, da Bahia) e a American National Can. E outra nova concorrente foi implantada no Ceará, a
Metalic, para fazer latas de aço, que
é do grupo do empresário Benjamin Steinbruch.
A concorrência freou o crescimento da Latasa, mas Martins
acredita que o maior impacto já
passou. "A empresa também perdeu dinheiro por causa da desvalorização do real, mas vamos trabalhar com novas formas de gestão
operacional, cortando custos etc.",
diz Martins.
Fornecedor casado
Por que a fusão da Brahma com a
Antarctica não assusta Martins?
"A Latasa é um fornecedor casado
com a indústria de bebidas", explica. A empresa já tem fábricas no
Chile e na Argentina.
"Para mim é muito melhor ter
uma multinacional brasileira para
eu seguir pelo mundo", afirma.
Um exemplo desse raciocínio é a
Coca-Cola, que trouxe concorrência para a Latasa para o Brasil. São
fornecedores da múlti dos refrigerantes em outros países, a quem
ela já conhece e que ampliam seu
mercado na esteira do sucesso dela. "Vejo a AmBev como uma
grande oportunidade de investimento", diz.
Fusões desse tipo, explica Martins, são uma tendência mundial.
"Não vejo outra maneira de construir capitalismo se não for assim,
com alguma concentração."
A grande incógnita em todo o
episódio ainda está no Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), que terá de aprovar o
negócio. Martins afirma que é hora
de o Cade se reciclar.
"O Cade tem de coibir os abusos
e facilitar a concorrência." E o Estado deve promover e estimular o
investimento para criar a concorrência, usando agentes como o
BNDES.
"A concentração em si não é um
abuso. Nós vemos abuso em setores altamente pulverizados", afirma. Para Martins, os reguladores e
fiscalizadores terão de aprender a
conviver com a dinâmica da globalização. Nesse processo, explica, a
empresa que não correr para tentar ganhar escala e eficiência acabará internacionalizada.
"A grande vantagem de ter empresas nacionais é que o país acumula capital. Senão fica como o
Canadá, onde a maioria das indústrias é americana e, quando há
qualquer espirro nos EUA, eles
mandam o dinheiro todo para a
matriz."
Martins admite que para o consumidor a concentração do mercado produz uma sensação de desconforto. "O consumidor fica se
sentindo lesado", diz Martins.
Mas ele afirma que o medo de
perder participação é o maior freio
contra práticas abusivas. No caso
das cervejas, ele lembra que há várias marcas alternativas às quais o
consumidor poderá escolher, caso
se desagrade com produtos e preços oferecidos pelas grandes produtoras.
Mas e a distribuição? As marcas
menores não conseguem chegar ao
consumidor. Bem, a distribuição
acaba aparecendo, porque o mercado se encarrega disso, afirma
Martins. "As tubaínas estão aí para
provar que é possível até incomodar as grandes produtoras", diz.
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