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RECEITA ORTODOXA
Diretor do Fundo diz em Brasília que não vê ameaça inflacionária e admite reduzir meta do superávit primário
FMI sinaliza com alívio no aperto fiscal
ANDRÉ SOLIANI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O FMI (Fundo Monetário Internacional) sinalizou ontem que o
Brasil poderá, no futuro, reduzir
seu esforço fiscal. É a primeira vez
desde que o país começou seu
atual programa de estabilização
com a instituição, em 1998, que
uma autoridade do Fundo fala sobre a possibilidade de reduzir,
não de aumentar, a meta de superávit primário (economia do governo para pagamento de juros).
"No futuro, talvez haja alguma
margem para a alteração dos objetivos fiscais de modo a criar espaço adicional para o investimento público, contanto que isso seja
feito em perfeita sintonia com a
sustentabilidade da dívida", afirmou, por meio de nota, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato,
que esteve ontem em Brasília.
A meta de superávit primário
acertada com o Fundo é de 4,25%
do PIB (Produto Interno Bruto, a
medida das riquezas produzidas
no país) neste e no próximo ano.
O atual acordo termina em dezembro, e o Brasil ainda não decidiu se irá renová-lo.
Rato, que almoçou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
não poupou elogios à economia
brasileira. Foi até um pouco mais
otimista que o Banco Central com
relação à inflação. "Neste momento, não vemos grandes pressões inflacionárias", disse, ao responder a pergunta sobre a necessidade de o BC elevar os juros. Rato ressaltou que a decisão dos juros é exclusiva do Banco Central.
"A política monetária brasileira
está adequada", concluiu.
A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Econômica) indicou na semana passada
que poderia ser necessário subir
os juros para compensar a alta do
petróleo e o pessimismo do mercado em relação à inflação.
Nas discussões que Rato manteve com as autoridades, a necessidade de aumentar os investimentos públicos foi tema central. Ele
concordou com o governo que é
preciso elevar os investimentos
públicos para manter o ritmo de
crescimento. Rato também se encontrou com o presidente do BC,
Henrique Meirelles, e o ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
"O aumento do investimento
público também é importante para incrementar a produtividade e
eliminar os gargalos que impedem o desenvolvimento econômico", diz a nota do Fundo.
A maior parte desses novos investimentos, contudo, não deverá
sair do novo sistema de contabilidade que o Fundo está disposto a
criar, retirando gastos do cálculo
do superávit primário, que deve
ser anunciado em março.
"As possibilidades de aumento
sustentado do investimento público deverão ser criadas, sobretudo, pela transferência de despesas
correntes provenientes de áreas
menos prioritárias", disse ele.
Rato deixou claro que o espaço
para mudanças no sistema de
contabilidade é limitado: "O que
nos parece imprescindível são
duas questões: a primeira é não
perder a credibilidade da contabilidade pública. A segunda é reconhecer que determinados investimentos, que são divididos com o
setor privado, devem ser incluídos no Orçamento de forma diferenciada e ao longo de um prazo
mais amplo".
Palocci fez questão de ressaltar
que o Brasil não pretende usar essas mudanças nos critérios para
reduzir a economia para o pagamento de juros. "Não há reivindicação do governo brasileiro de
mudar o cálculo de superávit primário. Isso não seria benéfico."
Para ele, o país não pretende "enfraquecer seu esforço fiscal".
Sobre a sustentabilidade de
crescimento econômico, Rato se
mostrou confiante. "Acreditamos
que foram assentadas bases profundas para avançar no desenvolvimento do potencial de crescimento da economia brasileira e
fazê-la ter uma maior capacidade
de absorver choques externos."
Rato enfatizou a importância de
seguir com reformas estruturais,
como a aprovação de uma nova
legislação trabalhista, a criação de
um ambiente mais favorável ao
investimento privado e o estímulo a uma maior concorrência entre os bancos, para manter o ritmo de crescimento. "Estamos
num momento muito adequado,
numa janela de oportunidade para continuar num processo de reforma."
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