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OPINIÃO ECONÔMICA
Regra de ouro nas Olimpíadas
GESNER OLIVEIRA
Foi uma semana de celebração de bons resultados nos Jogos Olímpicos e na maratona que
representa a produção de bens e
serviços no Brasil. Os atletas foram justamente saudados em
carro aberto, e as estatísticas do
PIB (Produto Interno Bruto),
alardeadas pelo governo.
É compreensível que a expansão do segundo trimestre tenha
chamado a atenção em um país
que saiu de uma recessão em 2003
e tem crescido a um ritmo ligeiramente superior a 2% ao ano nas
últimas duas décadas. Em contraste, a economia expandiu 1,6%
ao trimestre na primeira metade
de 2004, equivalente a 6,6% ao
ano.
Daiane foi como Pelé nas Copas
de 1962 e 1966. O talento indiscutível que não teve a sorte e as condições objetivas para explodir.
Sem contar o maluco do Cornelius Horan, que impediu a rota de
ouro de Vanderlei Cordeiro de Lima, algo inconcebível em qualquer corrida de rua com um mínimo de organização. Mesmo assim o Brasil conseguiu a melhor
classificação em Jogos Olímpicos e
a segunda maior participação no
cômputo total de medalhas
(1,17%), inferior apenas à de
Atlanta, em 1996 (1,4%).
Economia e Olimpíada andam
juntas. O professor Roberto Macedo deu bons exemplos nesse sentido em artigo no "Estado de S.
Paulo" do dia 2. Os universitários
brasileiros intuíram esse parentesco quando criaram as Economíadas, que terão sua 14ª edição
em outubro deste ano. Os economistas Andrew Bernard da Tuck
School e Meghan Busse, da Universidade da Califórnia, elaboraram um modelo econométrico de
previsão de medalhas em Jogos
Olímpicos por país.
O PIB per capita é uma das variáveis explicativas do modelo de
Bernard e Busse. A mera inspeção
da classificação de medalhas sugere uma associação entre renda
por habitante e sucesso nos Jogos.
Para a versão de 2004, pode-se
obter uma correlação positiva. O
IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) das Nações Unidas,
que inclui a renda per capita conjuntamente com outros indicadores sociais, também registra associação com o desempenho olímpico.
A correlação entre desempenho
olímpico e situação econômica
desloca disputas de diversas naturezas para o terreno esportivo. As
Olimpíadas se tornaram um instrumento sinalizador poderoso.
Daí a importância atribuída ao
evento pela máquina de propaganda nazista, em Berlim, em
1936. Ou a verdadeira corrida espacial pela obtenção de medalhas
entre EUA e União Soviética nos
tempos da Guerra Fria. Ou ainda
o significado de rito de passagem
para o mundo desenvolvido e
promoção da marca nacional pelo país-sede dos Jogos.
As Olimpíadas já refletem uma
economia mundial ampliada, na
qual novas regiões passam a ter
mais peso até pelo tamanho da
população. A despeito da enorme
desigualdade econômica e social
no mundo, houve uma desconcentração na obtenção de medalhas. Os 202 países participantes
da Olimpíada de Atenas superam
o número de membros da Organização Mundial do Comércio
(147).
Isso pode ser ilustrado pela participação decrescente dos quatro
primeiros países no total de medalhas, conforme mostra o gráfico nesta página. Na primeira
Olimpíada dos tempos modernos,
em Atenas, em 1896, os quatro
primeiros países conseguiram
74% do total de medalhas, contra
35% em 2004. Um outro indicador de concentração, o chamado
Índice de Herfindahl-Hirschman
(HHI, na sigla em inglês), freqüentemente utilizado em estudos de mercado, mostra algo semelhante. Um HHI alto indica
concentração elevada; seu valor
máximo de 10 mil indica monopólio. Pois o maior valor foi atingido na Olimpíada de St. Louis,
nos EUA (7089), em 1904, e o mínimo, em Atenas, em 2004.
É muito difícil um modelo econométrico acertar na mosca o número de medalhas que cada país
vai obter. Felizmente Bernard e
Busse erraram quando previram
apenas uma medalha de ouro para o Brasil em 2004. Mas o desempenho do Brasil ainda é inconstante. O sucesso em Atlanta em
1996 foi seguido pelo fracasso em
Sydney em 2000 e agora o avanço
em Atenas.
A mesma coisa ocorre com o
crescimento do PIB. De nada
adianta crescer três a quatro trimestres para depois voltar à crise
e à recessão. É preciso consistência e estratégia de longo prazo,
elementos ainda ausentes na
atual política econômica. Isso não
dá crescimento sustentado na
economia. Nem ouro na Olimpíada.
Gesner Oliveira, 48, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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