São Paulo, sexta, 4 de setembro de 1998

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MERCADO TENSO
BC bloqueia conta de pessoas físicas por dois meses; dívidas em dólar serão convertidas para rublos
Rússia confisca depósitos de seis bancos

das agências internacionais

Os russos voltaram ontem a temer a perda de suas economias guardadas em bancos, pela segunda vez em seis anos, depois que o banco central congelou os depósitos das seis maiores instituições privadas do país por dois meses.
O confisco, anunciado na noite de quarta-feira, bloqueia as contas de pessoas físicas dos maiores bancos de depósitos -Inkombank, Most Bank, Mosbiznesbank, Menatep, Promstroybrank e SBS-Agro. A maioria deles tem problemas de liquidez.
Segundo o banco central, o confisco tem a função de proteger os depósitos dos clientes contra uma possível crise bancária, evitando que um excesso de retiradas torne os bancos insolventes. A medida atinge milhões de pessoas. Somente no Inkombank, são 500 mil contas, com um valor estimado em US$ 1 bilhão.
Os clientes poderão optar por transferir seus depósitos para o estatal Sberbank. Mesmo assim, não terão acesso ao dinheiro até 15 de novembro. Os depósitos no Sberbank são garantidos pelo governo.
As instituições afetadas protestaram contra essa medida, dizendo que o BC trabalha pelo fim dos bancos comerciais.
"O que o banco central fez foi uma microrrevolução. Para eles, só é necessário um banco: o Sberbank", afirmou o primeiro-vice-presidente do Most Bank, Aleksander Poliakov.
Além disso, as contas em dólar -permitidas na Rússia- serão convertidas em rublos, pela taxa da semana passada, de 9,3 por dólar. Isso, na prática, significa uma perda para os depositantes, já que a moeda russa não pára de desvalorizar. Desde a semana passada, a queda superou os 40%.
Ontem, primeiro dia em que o rublo foi vendido depois da suspensão dos negócios em 27 de agosto, a moeda foi cotada oficialmente a 13,4608 por dólar, uma queda de 4,8% em relação aos 12,82 da véspera.
No mercado interbancário, que envolve transações entre bancos, as negociações foram feitas por um valor de até 18 rublos por dólar.
Situação difícil
O congelamento dos depósitos coloca os russos em uma situação difícil. O rendimento médio mensal das famílias é de 861 rublos, o equivalente a cerca de US$ 64 pelo câmbio de ontem, enquanto os preços vêm disparando em razão da queda da moeda.
"Eles nos derrubaram", afirmou a aposentada Antonina Petrovna, 62, depois que funcionários do Most Bank contaram-lhe que não poderia tirar seu dinheiro.
"Se eu transferir meu dinheiro para o Sberbank, vou perder a metade", disse a médica aposentada Galina Zubova, que tem três contas no Inkombank, entre elas uma em dólar, no valor de US$ 9.000.
Em 1992, o governo russo já havia confiscado os depósitos bancários dos russos. Naquela época, com uma inflação anual acima dos 2.000%, isso significou na prática a perda de quase todo o dinheiro poupado.
O anúncio do confisco das contas derrubou a abalada Bolsa russa. O índice RTS, o mais importante do mercado, caiu 6,4%, a 61,43 pontos. Com isso, atingiu seu pior nível em pontos, pela segunda vez em duas semanas.
Com o agravamento da situação, o primeiro-ministro interino, Viktor Tchernomirdin, declarou que fará hoje o anúncio de "medidas drásticas" para combater a crise financeira russa. Não foi divulgado que tipo de medidas seriam tomadas.



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