São Paulo, sexta, 4 de setembro de 1998

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PREÇOS
São Paulo registra a maior queda mensal de preços desde 1953, mas economista a relaciona ao processo de estabilização, e não à crise atual
Agosto fecha com deflação de 1%, apura Fipe

MAURO ZAFALON
da Redação

Os preços continuam surpreendendo em São Paulo. Os dados divulgados ontem pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) mostraram deflação de 1% no mês passado, a maior queda mensal de preços desde maio de 1953.
Com mais essa taxa de deflação, a quarta neste ano, os preços acumulam queda de 0,61% nos oito primeiros meses de 98. É a primeira vez desde 1939, quando começou a ser apurada a taxa de inflação na cidade de São Paulo, que ocorre uma deflação nesse período.
Nos últimos 12 meses, a taxa acumulada de evolução dos preços é de apenas 0,73%, o menor percentual desde o período de novembro de 48 a outubro de 49, quando os preços tinham caído 0,5%.
"A inflação brasileira é favorável e se compara à das economias líderes", afirmou Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe. Para o economista da Fipe, o país vive o melhor ano de inflação desde que se apura esse indicador de preços.
A queda dos preços está acima do esperado, mas não se deve às dificuldades econômicas que afetam o país, diz Heron do Carmo. Essa deflação não é preocupante e se deve ao processo de estabilização da economia, diz ele.
A queda de ritmo da economia após a crise de outubro do ano passado também cooperou para o aumento dessa deflação, mas com pouca intensidade. No mês passado, por exemplo, os principais indicadores de nível de atividade já indicaram maior ritmo da economia. Mesmo assim, a deflação continuou, afirmou o economista.
A inflação vinha sendo cortada pela metade anualmente desde o início do Plano Real. Em 1998 a retração vai ser maior (a taxa deve ficar em 1% , contra 4,8% em 97). Essa queda maior da taxa é explicada pela ausência de fatores climáticos que complicassem o abastecimento de alimentos, diz o economista da Fipe. Os maiores problemas ficaram para feijão e arroz. No caso do feijão os preços já estão voltando ao normal.
A queda de preços foi maior neste ano, ainda, porque o governo diminuiu muito o ritmo de alta das tarifas públicas em relação aos anos anteriores. No caso dos combustíveis, até reduziu os preços.
A tendência de queda foi generalizada em agosto, com alta apenas nos custos de habitação (0,05%). O aluguel, que integra esse item, teve queda de 0,23% no mês passado.
No acumulado dos últimos 12 meses a taxa do aluguel também é negativa (-0,88%), contrastando com a alta recorde de 572,33% em todo o período do Plano Real. O aumento anterior, entretanto, tem a ver com a queda atual, já que a fase é de estabilização.
A maior queda ficou com vestuário, que caiu 3,49%. Já no acumulado do ano, apenas os setores de saúde (1,49%) e de educação (4,67%) tiveram aumento. A inflação acumulada no Plano Real recuou para 67,07% até agosto, contra 68,75% até julho.



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