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OPINIÃO ECONÔMICA
Momento de reflexão
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Finalmente estamos chegando perto do dia das eleições, que vão definir o cenário político e econômico dos próximos
anos no Brasil. Em uma democracia de massas, que se consolida
a cada dia que passa, as escolhas
de milhões de brasileiros neste domingo têm uma importância particular: primeiro porque estará
terminando o mais longo período
em que um líder político, escolhido democraticamente em duas
ocasiões pela maioria absoluta
dos eleitores, governou nosso país;
segundo porque este pleito pode
marcar a ascensão ao poder federal, depois de décadas de uma
ação política organizada e exitosa, de um partido claramente de
esquerda e que tem um projeto
definido para a sociedade brasileira.
Podemos alinhar uma série de
outros fatores políticos e sociais,
que fazem desta eleição algo de
especial. Poderíamos dizer que o
voto neste domingo dar-se-á em
um período no qual a democracia
vem mostrando toda a sua plenitude no Brasil. Diferentemente de
outros tempos, não tivemos nenhuma crise política grave, nos
últimos dez anos, que ameaçasse
ou colocasse em risco o regime democrático. O fantasma da intervenção militar desapareceu de
nossos horizontes e só é lembrado
hoje pelas gerações mais velhas.
O jogo político entre oposição e
situação ocorreu, nestes últimos
anos, mesmo em momentos de
maior tensão, dentro dos limites
institucionais. A transparência
do debate sempre foi garantida
pela atuação madura de uma imprensa que também vem exercendo com eficiência seu papel de
agente auxiliar da democracia.
Mais recentemente, durante o período eleitoral, os candidatos com
propostas menos claras e com
campanhas políticas sustentadas
em mitos ou falsas promessas tiveram grandes dificuldades em
sobreviver nesse ambiente de
questionamento e transparência.
O espaço para aventuras políticas
diminuiu muito, o que também é
muito bom para a democracia.
Agora, na reta final do processo
eleitoral, apareceu com destaque
também outra marca institucional moderna de nosso sistema político: o acesso, definido por lei federal, dos partidos políticos ao
sistema de rádio e TV. O horário
eleitoral gratuito é uma conquista que diferencia nosso país, à
medida que reduz de maneira
importante o uso do poder econômico na disputa eleitoral. Quanto
custaria, a valor de mercado, todo
o tempo que candidatos e partidos tiveram à sua disposição em
2002?
É evidente que o analista mais
ranzinza poderia dizer, com razão, que precisamos ainda de
uma legislação mais eficiente e
justa para o financiamento dos
outros gastos de campanha! Mas
a eliminação da fonte mais importante de influência econômica
já é um passo gigantesco no sentido de uma utopia democrática.
Chamou também a atenção do
analista mais cuidadoso a presença constante do TSE na fiscalização da campanha eleitoral.
Desde a obrigação do registro das
chamadas pesquisas de opinião,
que no Brasil representam um
instrumento auxiliar importante
das campanhas eleitorais, até a
fiscalização constante do conteúdo do horário eleitoral gratuito. A
presença dos juízes eleitorais tem
representado também uma marca da modernidade de nossa democracia.
Outras decisões desse tribunal
-como a que, por unanimidade
de seus membros, rejeitou o pedido de suspeição de seu presidente
por relações de amizade com o
candidato do governo, arguida
por alguns "juristas de São Paulo"- deixaram bem clara sua
autoridade para evitar que o uso
da chicana atinja o processo eleitoral. A lisura das eleições deste
ano, percebida aqui e no exterior,
também fez com que a tentativa
de alguns candidatos de pedir
uma fiscalização internacional
das eleições caísse no ridículo e no
esquecimento.
Nesse ambiente eleitoral correto, eficiente e legítimo o eleitor teve a oportunidade de conhecer
com alguma profundidade as
propostas e caminhos que se abriram para o país após FHC. É evidente que não podemos cobrar
dos candidatos e partidos uma
transparência total de suas promessas. Somos uma sociedade de
massas, e é legítima a utilização
dos instrumentos modernos de
comunicação para ganhar a alma e o voto do cidadão.
Aqui temos uma outra marca
de modernidade de nosso sistema
eleitoral. As campanhas dos dois
principais candidatos são obras
pessoais de dois dos maiores especialistas de marketing no Brasil.
Na orientação de seus candidatos, eles se utilizam não só de seus
talentos profissionais como também das técnicas mais modernas
de avaliação do comportamento
humano. A imagem pública dos
candidatos e suas principais propostas de governo são construídas
a partir dessa leitura do inconsciente do cidadão. Mistificação,
dirão os puristas. Prefiro lidar
com a idéia de que isso é apenas
realismo em relação à forma como se organizam as sociedades
modernas, como a brasileira.
O importante é que os eleitos sejam submetidos, nos próximos
quatro anos, a uma fiscalização
sobre o cumprimento ou não de
suas promessas eleitorais. E isso
eu tenho certeza de que será feito
pela imprensa, permitindo ao leitor acertar contas com aqueles
que se afastarem de suas promessas.
A escolha do próximo domingo,
como já disse, será muito importante também em razão da crise
econômica e financeira que estamos vivendo. O eleitor fará sua
escolha em tempos bicudos. Não
se trata apenas de mudar um modelo econômico, que não deu certo. É preciso mudá-lo e ao mesmo
tempo passar por um período de
muitas dificuldades, em um mundo que também está em crise.
Uma quadratura do círculo que
vai exigir muita competência do
próximo presidente.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 59, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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