São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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CONSUMO

Medo do desemprego e eleições assustam paulistanos, diz pesquisa da USP

Classe média de SP desiste de gastar

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Pouco mais de 78% dos paulistanos dizem que não pretendem comprar nada hoje. A taxa é a segunda maior desde que a pesquisa de consumo do Provar (Programa de Administração de Varejo) da USP começou a ser feita, em 1999.
"Dificilmente esse número irá ceder. No final de 2001, cerca de 28% não tinham intenção de comprar. Estamos muito longe disso", disse Cláudio Felisoni, diretor do instituto.
A estimativa é feita com base na intenção de compra das pessoas nos dois últimos meses, inclusive em outubro. Em novembro, a estimativa do Provar é que essas taxas elevadas permaneçam como estão. Foram ouvidas 400 pessoas em São Paulo, das mais diferentes classes econômicas.
O temor do desemprego, as más notícias a respeito de alguns indicadores da economia brasileira e a expectativa em torno das eleições fizeram o consumidor pensar antes de colocar a mão no bolso, conclui o levantamento.
Uma boa parte dos entrevistados (34,6%, a maior taxa da pesquisa) pertence à classe média paulistana -tem renda mensal superior a R$ 3.901. E 23,6% recebem de R$ 2.991 a R$ 3.900.
O trabalho mostra que, em abril, quase 85% não pensavam em abrir a carteira -a maior taxa da pesquisa. Logo depois, em julho, a taxa caiu para 69,8%. Agora, voltou a subir, para 78,1%.
E o pior: a intenção de gasto dos paulistanos caiu em todos os setores. No caso da linha branca, o total de interessados em gastar caiu de 7,1% em julho para 5,5% neste mês. Nos eletrônicos, de 7,3% para 6,2%.
Nem o segmento de automóveis -que ganhou do governo redução na cobrança do IPI, com a consequente queda no preço dos carros- conseguiu escapar: queda de 1% para 0,7%.

Inadimplência na berlinda
Há um cenário em formação que pode ser explosivo para o varejo e para o consumidor. Dados do Provar mostram que hoje 80% dos paulistanos que pretendem comprar eletrônicos usarão o crediário. Apenas 12% deles optam pela operação à vista e 8%, pelo cartão de crédito. No mesmo período de 2001, menos da metade (41%) falava em comprar a prazo.
No caso das vendas de móveis, 86,7% dos clientes pretendem usar o crediário. A taxa recorde é verificada na linha branca (geladeiras e freezers, entre outros), em que 91% prefere a operação parcelada. As taxas são muito elevadas em relação à média de outros anos, e cria uma expectativa de aumento da inadimplência entre as próprias redes varejistas ouvidas pela Folha.
No Ponto Frio, por exemplo, 71% das vendas no segundo trimestre do ano foram a prazo. No Magazine Luiza, 63% dos eletrônicos são pagos em parcelas.
"Esse número de pessoas que pretende comprar no crediário é alto, pois 80% é uma taxa elevada. Mas pode ser que chegue a isso devido ao Natal", diz João Bosco, gerente de compras do Magazine Luiza.
A questão é como o consumidor pagará a dívida em 2003. O número de pessoas com contas em atraso cresceu 41,2% em setembro em relação a setembro de 2001 em São Paulo. A boa notícia é que o total de pessoas que conseguiu limpar o nome também subiu (60,1%).


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